Tendências e objectivos para 2016
O Hotel Dom Pedro Palace, em Lisboa, acolheu o pequeno-almoço debate da revista Marketeer dedicado ao universo do turismo. Com o início de um novo ano importa definir estratégias e desafios, com vista à obtenção de resultados positivos.
Texto de Sandra M. Pinto
Fotos de Pedro Simões
Na moda ou fora dela o facto é que nunca como agora Portugal gerou tanto soundbite. Mas a moda muda de acordo com a época, durando por norma seis meses, o tempo de vida das colecções, pelo que uma das questões mais recorrentes e importantes é perceber como podemos fazer para que Portugal seja transversal a modas. Tal como um designer, os players olham para o global, analisando tendências do mercado e necessidades dos consumidores finais. Mas, ao contrário dos designers, é importante que os players vejam mais além, consigam olhar para lá das tendências imediatas e tenham a capacidade de alicerçar pilares para que o País siga na crista da onda, independentemente de modas ou tendências.
Na imprensa estrangeira continuamos a surgir como dos locais mais aprazíveis do globo, veja-se, a título de exemplo, a recente notícia publicada na edição holandesa da revista da especialidade “National Geographic Traveler”, em que os Açores foram considerados como o local mais belo do mundo. É preciso saber aproveitar esta boa fase e, juntando forças e aliando interesses, ter inteligência para levar o nome de Portugal mais longe, com maior notoriedade, fiabilidade e longevidade. É necessário olhar para o turismo como um pilar da nossa economia, do nosso crescimento, fazendo multiplicar alicerces que o suportem para que cresça e se fortaleça. De que forma isso se pode conseguir e alcançar foi um dos temas, entre outros, que serviu de ponto de partida à discussão durante o pequeno- -almoço, e onde estiveram presentes: Pedro Ribeiro (director de Marketing e Comercial do grupo Dom Pedro Hotels), Gonçalo Rebelo de Almeida (administrador do grupo Vila Galé), Álvaro Covões (director da Everything is New), Eduardo Cabrita (director-geral da MSC Cruzeiros em Portugal), Cláudia Alves (Marketing manager do SANA Hotels), Paulo Monge (director de Vendas do SANA Hotels), Rogério Cardoso (director do International Student Identity Card), Timóteo Gonçalves (General manager da Halcon Viagens), António Monteiro (director de Comunicação e Relações Públicas da TAP) e Frederico Costa (presidente da Visabeira Turismo). Para se alcançar um debate mais aprofundado por parte de todos, foi decidido que nenhuma das intervenções seria atribuída directamente no texto.
Alojamento local: regulamentação
Complementar ao que muito se tem discutido em redor do tema turismo, seja ao nível do investimento, da promoção ou do marketing, uma das primeiras questões lançadas no debate foi a regulamentação do sector. «Este vai ser, certamente, um tema recorrente no que diz respeito ao turismo nacional, pois, se no decurso dos últimos quatro anos se viveu em Portugal uma época muito liberal, para os próximos anos surge a necessidade de alguma regulamentação », sobretudo ao nível do alojamento local. «Tem-se estudado o que está a acontecer em algumas cidades semelhantes a Lisboa e outros destinos portugueses, em termos de alojamento local, onde já foram estabelecidas algumas regras», pelo que um dos assuntos que interessa discutir no curto prazo será a necessidade desta regulamentação. Veja-se o exemplo de São Francisco, «onde agora alugar um apartamento só poderá ser feito durante um período máximo de 70 dias/ano», o que, na opinião dos intervenientes, «é uma regulamentação importante, especialmente se tivermos em atenção que neste momento no nosso País assiste-se a uma total e completa liberalização nesta área».
Na visão do grupo é importante ter uma discussão franca e aberta «onde se possam confrontar opiniões díspares relativamente ao tema». A discussão passa pela própria identificação das pessoas que recebemos no nosso País e que optam pelo alojamento local. «Basta olhar, por exemplo, para Paris e os tristes acontecimentos do passado mês de Novembro», reforçando um dos intervenientes que, «só em Lisboa, existem 15 mil alojamentos locais oficialmente contabilizados. «Se no início quem tem alojamentos locais viu esta abertura como algo positivo, a verdade é que começa a existir por parte dos próprios alojamentos locais uma necessidade de regulamentação, pois actualmente desconhecem a melhor forma de integração no sector, precisam de saber quais os seus limites e as exigências que lhes são colocadas.»
Mas nem tudo é negativo, pois com o alojamento local, sobretudo nas cidades, assistiu-se, por exemplo, à recuperação de inúmeros imóveis que estavam devolutos, situação que leva à questão de saber «de que forma os habitantes das cidades encaram a expansão desses serviços e como os integram na vivência da cidade».
Esta realidade reflecte-se em dois aspectos: por um lado, a necessidade de um controlo maior relativamente à actividade desenvolvida pelo alojamento local, similar ao que acontece com as chamadas actividades regulares, e, por outro, a urgência de regras, por exemplo, quanto ao local do próprio alojamento, pois «deverá ser o próprio condomínio do prédio a decidir a sua existência ou não, pois de outra forma será uma intromissão na vida dos condóminos».
Neste momento é importante perceber se o alojamento local é uma moda, como alguns advogam ou se, pelo contrário, é tão-somente uma tendência em termos de comportamento das novas gerações de consumidores, que pode vir a obrigar as cadeias hoteleiras e os hotéis independentes a repensar a sua actuação no mercado. «Qual é o novo consumidor e do que é que ele vai à procura», é uma questão que fica no ar.
Perspectivas para 2016
Depois de um 2015 repleto de bons resultados no que ao turismo diz respeito, resta olhar em frente e perspectivar o ano que ainda agora começou. O que é que cada subsector do grande sector económico, que é o turismo, espera dos 12 meses de 2016, quais os desafios e anseios dos players. «Crescimento» foi a palavra que na primeira linha todos usaram, independentemente do seu subsector de actividade. «2016 perspectiva-se como um ano de grande crescimento e tal vai acontecer sem que tenhamos de fazer algo de substancialmente diferente para que isso aconteça», ouve-se. Para os próximos meses a todos é exigido trabalho e dedicação com vista à obtenção de cada vez melhores resultados, «tem de continuar a existir investimento para que as coisas aconteçam e ganhem amplitude e notoriedade», é a opinião partilhada por todos, «tendo em conta a situação complicada que se vive em tantas zonas do globo, Portugal tem de capitalizar as suas mais-valias turísticas de forma a captar a atenção de mais turistas, mantendo os até agora já alcançados ». Relativamente a grandes acontecimentos, foi referido o Web Summit como um dos eventos catalisadores de uma boa parte do turismo que este ano se vai deslocar a Lisboa em inícios de Novembro, «mas é preciso não esquecer o resto do País, nomeadamente perceber como capitalizar a vinda dessas pessoas, levando-as a sítios que distam uma ou duas horas de Lisboa». Perante esta afirmação foi lembrado que «os hub Lisboa e Porto existem, mas fazer a engenharia de, a partir deles, conseguir levar as pessoas ao resto de Portugal é difícil e complicado», mas não impossível, pois, como foi dito, «é natural que as pessoas sintam curiosidade em conhecer outras zonas nacionais».
De facto, sem produção de conteúdos não é fácil gerar o interesse dos visitantes por determinado destino, «o poder de atracção de uma região é essencial para gerar visitas e isso nem sempre acontece fora de Lisboa ou do Porto». Aqui os eventos desempenham um papel essencial, sendo que, por parte de um dos players for referido, «o desenvolvimento de um trabalho importante com o objectivo de trazer até Lisboa cerca de 400 mil pessoas com o intuito de assistir a diferentes espectáculos», número muito superior ao verificado em 2015.
«Olhando para os diferentes players aqui reunidos e trabalhando todos de uma forma natural, o crescimento para 2016 seria, digamos, de 5%», foi referido por um dos intervenientes, «face à macroeconomia e todos os problemas que estão a acontecer noutras geografias do mundo, vamos conseguir crescer 10 ou 15%». No fundo, o trabalho que todos os players do sector desenvolvem tem em vista a obtenção de um determinado crescimento, ao qual vai acrescer um outro crescimento determinado pelos acontecimentos que vão ocorrendo no mundo e condicionarão os turismos desses destinos, «no fundo a geopolítica internacional vai influenciar positivamente os nossos resultados».
No que diz respeito ao futuro será que o podemos controlar? Os intervenientes acham que sim, «importa e muito ter a capacidade de influenciar e cativar estes 10% que chegam a Portugal de uma forma, chamemos- -lhe, “gratuita”, para que voltem mais vezes, ou seja, que para o ano em vez de escolherem outros destinos para férias optem por voltar cá», e aqui é preciso juntar esforços por parte dos operadores, companhias aéreas, cadeias hoteleiras, etc. Da sempre apregoada falta de agenda no sector, «existe agora a necessidade real de passar a existir uma confluência de esforços, de ideias e de interesses com vista a este propósito comum». Outra questão abordada, quando se questiona sobre o que aí vem, é a posição da “nova” TAP e a influência que a companhia vai ter junto da evolução do turismo nacional, «seja em termos de rotas ou de mercados, apesar de não serem esperadas para este ano muitas alterações no que diz respeito ao funcionamento da companhia, apenas alguns acertos relativamente às rotas em vigor».
Concluindo, as perspectivas positivas relativamente a 2016 são transversais a todos os players no sector do turismo nacional, sendo a segurança essencial para que tal aconteça, assim como a concertação de estratégias comuns com vista à captação e manutenção do número de visitantes.
Artigo publicado na edição n.º 235 de Fevereiro de 2016.