Staples e Zeiss compram lugares vazios dos Commedia a La Carte

A Staples e a Zeiss uniram-se aos Commedia a La Carte para, em conjunto, fazerem chegar aos palcos o “2020 Futuro a La Carte”, o espectáculo e digressão de celebração dos 20 anos de Commedia a La Carte.

Em contexto de pandemia e face à impossibilidade de venda das lotações totais das salas, a Staples e a Zeiss aceitaram partilhar o risco financeiro dos espectáculos planeados, suportando parte dos bilhetes que não se podem vender e viabilizando a realização destes 32 espectáculos (no Tivoli BBVA, em Lisboa, entre 16 de Setembro e 11 de Outubro, e no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, entre os dias 3 e 20 de Dezembro). Para César Mourão, membro dos Commedia a La Carte, estas duas marcas, a par do público que acorreu a comprar bilhetes, são as grandes heroínas deste espectáculo.

Para a Staples e para a Zeiss, trata-se de um de apoio à Cultura que representa um esforço financeiro de ambas as marcas, que redireccionam para o socorro do sector cultural verbas anteriormente destinadas a outras acções. «Durante o confinamento, os agentes da cultura foram, muitas vezes, quem nos distraiu», recorda Sandra Loureiro, directora de Marketing da Staples. Daí que tenham feito um esforço para apoiar a Cultura.

«Com este apoio, esperamos ser um exemplo a seguir por parte de outras marcas e empresas que possam abraçar estes projectos culturais e que possam motivar um sector que está parado em Portugal e que é uma peça fundamental nas nossas vidas», sublinha Ana Afonso, directora de Marketing da Carl Zeiss Vision Portugal.

Em conferência de imprensa, ao início da tarde, César Mourão lembrou que técnicos, figurinistas, músicos, actores, produtores, assistentes de sala, entre tantos outros, dependem da realização de espectáculos para a sua subsistência e das suas famílias. «Seria simples dizer que este ano não havia, mas os técnicos ficavam parados. Há muitas pessoas envolvidas no espectáculo que têm agregados que dependem deles», lembrou salientando que a ideia de vender lugares a marcas surgiu ainda durante a quarentena.

Carlos M. Cunha, fundador do trio, deixa um recado à ministra da Cultura: «Ponha os olhos nisto. Estes parceiros estão cá para ajudar e seguramente ajudariam o Ministério, como outros. É só procurar.» E lembra que «num ano em que é tão difícil trabalhar e em vez de esperar o subsídio» os Commedia decidiram inovar. Até porque num momento como este é quando as pessoas mais precisam de rir.

Interactividade no espectáculo

César Mourão lembra que há 20 anos o espectáculo dos Commedia a La Carte «já era o espectáculo mais interactivo». Este ano quiseram fazer ainda mais interactivo. «Isto foi tudo pensado antes da pandemia em que as pessoas se viraram mais para a tecnologia. Sem querer, estamos exactamente aí», sublinha.

O espectador irá participar no desenrolar do espectáculo por intermédio de uma app através da qual, de forma segura, irá poder intervir nas actuações de César Mourão, Carlos M. Cunha e Gustavo Miranda. Através da aplicação vai ser possível escolher em tempo real alguns elementos do espectáculo, como músicas, temas e elementos cenográficos. «Que nós saibamos, esta interactividade nunca foi feita em improvisação de comédia», afirma César Mourão. A Gema foi a empresa responsável pelo desenvolvimento da aplicação e estão a ser feitos testes para tudo funcionar em pleno. Além disso, o teatro Tivoli também alinhou e reforçou a internet.

Além da app, a produção quis levar a tecnologia mais longe dentro do espectáculo com projecções e videomapping. O terceiro elemento do trio, Gustavo Miranda, garante que «ter a interactividade não significa que se perca a relação entre nós e a plateia presente». O profissional colombiano que trabalha com os Commedia a La Carte há quatro anos (e há 20 em improviso) acredita que «este universo virtual vai criar um antes e depois de história de improvisação».

À margem da conferência de imprensa, a Marketeer esteve à conversa com Ana Afonso, directora de Marketing da Carl Zeiss Vision Portugal.

Com um posicionamento de topo, a Zeiss não seria a marca óbvia que se esperaria ver associada aos Commedia a La Carte. Porque é que vos fez sentido?

Para nós também foi uma novidade e não estava equacionado. Este é um ano atípico. Os Commedia a La Carte vieram ter connosco e a forma como nos apresentaram o projecto e a forma como ele está montado – e inclusive a celebração das duas décadas que tem uma questão de longevidade associada – fez-nos sentido associar-nos. Abraçámos o projecto não como um projecto de Marketing, mas associado à Cultura e que pudesse ser pioneiro e dar o exemplo a muitas outras marcas. Até porque todas as inovações que nós fazemos queremos que os outros que venham por trás façam o mesmo. Gostamos de ser pioneiros e dar o exemplo.

Além disto, existe a questão da inovação e da tecnologia, também associadas à Zeiss. O facto dos Commedia a La Carte darem um passo em frente com a app, com os espectadores a poderem interagir, fez-nos também abraçar o projecto.

Que ligação já tinham com o César Mourão?

Tivemos alguns eventos corporate em que o César esteve do nosso lado e a falar com os nossos parceiros. Sentimos aqui uma química muito especial. Ele tem uma proximidade com os nossos parceiros, que são os ópticos. Esta empatia que ele teve com a marca possibilitou uma ligação que, de futuro, pode dar ou não frutos.

Há outros projectos na manga para apoiarem na área da Cultura?

Não é o nosso core. Foi isolado e pioneiro. Não vou dizer que não o faremos no futuro, mas não está no nosso core fazer este tipo de apoios. Futuramente haverá novidades Zeiss que vão ao encontro daquilo que se está a fazer aqui neste espectáculo.

A Zeiss aparece em algum momento no espectáculo?

Aparece, mas não vou dizer onde para não estragar. O público vai sentir que estamos muito próximos de uma forma muito especial.

Estivemos também à conversa com Sandra Loureiro, directora de Marketing da Staples.

Sendo o César Mourão a cara do vosso programa de fidelização, para a Staples foi óbvio que tinha de estar aqui também?

Há dois sentimentos diferentes. Assim que recebi o email, liguei ao agente do César e disse “quero estar”. É algo que nos faz todo o sentido, diz-nos muito apesar de não ser um sector onde estamos. Mas dependia da proposta. Envolve verbas para a compra de bilhetes de cadeiras não ocupadas. E esse investimento é sempre variável consoante o evoluir da situação. Agora temos 50%, mas podem dizer que os teatros têm de baixar a ocupação para 20%. A marca tem de assumir esses bilhetes. Daí que seja um investimento variável.

Havia algum risco, mas mesmo assim fizemos o esforço. O budget não foi reforçado, mas junto com a nossa direcção-geral, achamos que é agora que temos que ajudar e que a marca tem de se manter activa e dinâmica. É agora que temos que mostrar que queremos levar o País para a frente. A decisão foi rápida. O que não foi tão fácil foi redireccionar verbas que estavam destinadas para gerar tráfego para lojas ou notoriedade…

Foram, então, às verbas de publicidade…

Fomos. Não houve incremento. Mas estamos a ajudar pessoas. Há aqui a veia de responsabilidade social que a marca sempre teve, mas que este ano nos toca de forma especial.

Há a comunicação exterior onde a marca tem visibilidade, mas e no espectáculo, o que podemos esperar?

Não posso desvendar até porque há pontos a acertar. Mas, sim, a marca vai estar presente de forma bastante original.

Texto de Maria João Lima

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