Shein contrata ex-ministro do Interior francês, Christophe Castaner, para reforçar estratégia de influência na Europa

A Shein, gigante global do setor de fast fashion, recrutou Christophe Castaner, antigo ministro do Interior de França no governo de Édouard Philippe, para reforçar a sua estratégia de influência. O anúncio foi feito através de um comunicado de imprensa divulgado apenas no site institucional da empresa.

Castaner assume o cargo de conselheiro independente no comité regional de estratégia e responsabilidade social da empresa.

Além desta nova função, Castaner acumula outros cargos de relevo, como a presidência independente do Grand Port Maritime de Marseille e da Autoroutes et Tunnel du Mont Blanc.

Em declarações à BFM Business, Castaner justificou o seu papel na Shein como uma oportunidade para “aconselhar o grupo sobre a sua orientação estratégica na Europa, com especial foco no impacto social e ambiental”.

A entrada de Castaner no universo da Shein insere-se numa estratégia mais ampla do grupo asiático para fortalecer a sua presença na Europa. A marca tem enfrentado críticas severas sobre condições laborais pouco transparentes, práticas agressivas de marketing, e um modelo de negócios baseado na oferta diária de milhares de novos produtos.

A Shein está sob o escrutínio de reguladores europeus, em particular devido ao Digital Service Act, que impõe normas mais rigorosas para proteger os consumidores online. Além disso, a União Europeia prepara uma série de regulamentações que visam reduzir o impacto ambiental da indústria têxtil. Em França, por exemplo, a Assembleia Nacional aprovou, em março de 2024, uma proposta de lei direcionada para limitar os efeitos nocivos da fast fashion.

Para enfrentar este cenário, a Shein tem procurado alinhar-se com os reguladores europeus. Leonard Lin, diretor de Assuntos Públicos Internacionais da Shein, afirmou durante um evento em Paris, em setembro, que a empresa está empenhada em cumprir todas as exigências legais em França e na União Europeia.

A contratação de Castaner é apenas uma peça num plano mais amplo da Shein para construir uma rede de influentes conselheiros na Europa. Antes dele, a empresa já havia recrutado Fabrice Layer, antigo responsável pelos Assuntos Públicos da Huawei, e Günther Oettinger, ex-comissário europeu para o Orçamento e Energia.

Simultaneamente, a Shein criou um conselho consultivo global de responsabilidade social e ambiental (ESG), liderado por Ram Gidoomal, antigo presidente da CottonConnect.

O comité europeu, onde Castaner desempenhará um papel importante, inclui também figuras como Nicole Guedj, advogada especializada em Direitos Humanos, e Bernard Spitz, ex-presidente da Federação Francesa de Seguros.

Segundo Leonard Lin, a formação destes órgãos consultivos reflete o compromisso da Shein em adotar as melhores práticas internacionais e criar valor nas comunidades onde opera.

A par destas ações de influência, a Shein tem procurado reforçar a sua imagem através de estudos que destacam o seu impacto económico. Em novembro, a empresa divulgou um relatório realizado pela Oxford Economics, que aponta para um contributo de mais de 640 milhões de euros para a economia francesa e a criação de 2.900 empregos indiretos.

Além disso, a Shein anunciou um fundo de 250 milhões de euros para descarbonizar a indústria têxtil e um programa de 10 milhões de euros destinado a apoiar jovens talentos europeus. A empresa procura assim posicionar-se como um parceiro estratégico para a União Europeia no desafio da digitalização do comércio.

Apesar das críticas que a Shein continua a enfrentar, nomeadamente a falta de transparência sobre os seus volumes de vendas na Europa, a empresa parece determinada a influenciar os decisores europeus e franceses através de uma estratégia de lobbying bem estruturada. Este esforço está alinhado com os planos de uma possível entrada na Bolsa de Londres, onde a Shein poderá alcançar uma avaliação de cerca de 60 mil milhões de euros.

Com estas iniciativas, a Shein procura não só mitigar as críticas ao seu modelo de negócios, mas também assegurar um papel de destaque no mercado europeu.

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