
Galeto: ponto de encontro das noites tardias de Lisboa prepara-se para um novo ciclo
Quantas vezes ao fim de uma noite de trabalho ou de lazer quis jantar tardiamente e acabava a noite no Galetto? Para muito lisboetas o Galetto era paragem obrigatória muito dias da semana.
Na verdade, o Galeto não é apenas um restaurante. É um símbolo de Lisboa, um espaço onde gerações se cruzam, onde histórias se contam e onde a cultura da cidade ganha forma entre um prato de prego no prato e uma conversa de fim de noite.
Desde a fundação em 1966, este icónico estabelecimento da Avenida da República tem sido um ponto de encontro para lisboetas de todas as idades, mantendo-se fiel à identidade e à missão de servir não apenas comida, mas também experiências.
O Galetto prepara-se, agora, para dar um novo passo na sua trajetória ao candidatar-se a Património Cultural, um reconhecimento que oficializa o que já é percecionado por quem o frequenta.
A transformação do Galeto de um simples restaurante para um local emblemático da cidade não foi um processo planeado, mas sim uma consequência natural da sua própria existência. “O ambiente, criado pela diversidade dos frequentadores, com mutações ao longo dos anos, foi e continua a ser um dos aspetos que caracterizam a identidade do Galeto. A cultura, nas suas diversas vertentes, esteve e continua a estar sempre presente”, afirma o proprietário, Francisco Oliveira.
O espaço, concebido pelos arquitetos Joaquim Bento d’Almeida e Víctor Palla, tornou-se uma das obras mais reconhecidas, sendo, ainda hoje, objeto de estudo por parte de especialistas em arquitetura e design.
Manter um restaurante aberto durante quase seis décadas não é um feito comum, especialmente num setor tão competitivo como o da restauração. Para o proprietário, a explicação passa por vários fatores: “A exigência na qualidade do produto e do serviço é fundamental, mas não teria sido suficiente para garantir tantos anos de existência. O trabalho e a dedicação dos fundadores do Galeto foram um legado essencial para a motivação que move toda a equipa. A gestão familiar, mas profissional, tem sido determinante, garantindo que o Galeto continue a marcar presença na cidade.”
A distinção como “Loja com História” em 2016 reforçou ainda mais essa relevância. “Foi mais um fator de reconhecimento pelas entidades patrocinadoras da importância e do contributo deste espaço para a história da cidade. Todo o reconhecimento, juntamente com o empenho próprio, contribui para o sucesso de qualquer empreendimento e responsabiliza-nos ainda mais como prestadores de um verdadeiro ‘serviço público’,” sublinha Francisco Oliveira.
Candidatura a Património Cultural: Um Novo Desafio
Com a candidatura a Património Cultural em curso, espera-se um acréscimo de responsabilidade para o futuro. “Este reconhecimento não será mais do que a oficialização de algo já sentido pela generalidade dos que frequentam este espaço”, destaca o responsável. “Mas trará também mais motivação para a prossecução de uma missão por parte de todos os colaboradores.”
Ao longo dos anos, o Galeto atravessou inúmeros desafios. “Não fomos imunes às crises políticas, económicas e sociais, que nos obrigaram a uma gestão contida e equilibrada, com muitos sacrifícios. Mas a resiliência e a capacidade de adaptação mantiveram-nos firmes.”
O Galeto mantém-se espaço único
A expansão do conceito para outras localizações não está, para já, nos planos. “De momento, não. Mas fará sentido ‘normalizar’ a exclusividade?”, questiona o proprietário. O que é certo é que o Galeto continua a ser um espaço único em Lisboa, não apenas pelo seu ambiente e gastronomia, mas pelo horário alargado, que se mantém inalterado. “Enquanto fizer sentido, continuaremos a apostar neste serviço, que é, num certo sentido, ‘um serviço público’.”
A evolução dos costumes e das gerações também se reflete na casa. “O Galeto passa de pais para filhos, de geração em geração, com a naturalidade da evolução da sociedade. As mudanças de mentalidade foram acompanhando essa evolução e, hoje como ontem, a diversidade faz parte do nosso quotidiano. O Galeto é um ‘clássico’, dificilmente replicado, sempre na moda.”
A história do Galeto é um exemplo de resistência, tradição e inovação equilibradas. À medida que se aproxima das seis décadas de existência, mantém-se como um ícone da cidade, preservando a sua identidade e adaptando-se às exigências de uma Lisboa que se reinventa a cada dia.
Se há algo que permanece inalterável, é o espírito de um espaço que pertence tanto à cidade como às memórias dos seus clientes.