Sérgio Figueiredo: «Não há arma mais poderosa para chegar à verdade do que a Informação»
O que ficará depois deste “buraco negro” do novo coronavírus? Que marcas iremos ter? E como é que passarão a estar e a comunicar? Não sendo possível qualquer previsão clara e certa, fomos, contudo, tentar perceber de que forma é que algumas das maiores empresas e marcas em Portugal estão a reagir e como esperam sair do momento mais crítico de todos os tempos, a nível mundial. Vamos todos dar a volta?
Sérgio Figueiredo, director de Informação da TVI
O que está a ser feito, neste momento, para que a sua marca não perca relevância?
Trabalho, trabalho, trabalho. Nem todos podem ir para casa. Não por haver heróis. Simplesmente porque há actividades que não podem colapsar. O jornalismo é uma dessas actividades humanas que não se dispensa, uma base da Democracia, diz-se em tempos de normalidade. Um oráculo nos momentos extraordinários. Desta vez não é isso apenas. Quando há uma guerra estamos lá.
Quando há um atentado terrorista estamos lá. Quando há uma grande comoção nacional estamos lá. Agora não estamos lá porque algo de muito ameaçador veio ter connosco. E no entanto nunca sentimos que a nossa missão terá sido tão útil.
Quando as perguntas ultrapassam “o que está a acontecer?” para o “que devo fazer?”, o jornalismo não desiste nada de todos os valores que o fundamentam, apenas ganha a função de um guia de sobrevivência. E esta guerra que temos pela frente é a da luta pela vida.
Os alimentos não podem faltar. Os hospitais não podem fechar. A luz, a água, o gás e outros bens essenciais têm de ser assegurados, custe o que custar. Também a Informação não pode desaparecer, como o farol não se pode apagar no meio da tempestade.
Esta é a primeira crise planetária na era digital: que alternativa mais fiável para separar o verdadeiro do falso, o facto da especulação, distinguir o cientista do charlatão? Não há arma mais poderosa para chegar à verdade do que a Informação. A verdade é a base da confiança colectiva. E a confiança é o elemento mediador entre o sentimento da pertença e a coesão que suporta esta comunidade a que chamamos Portugal. Fazer tudo isto através da televisão é garantir uma população mais esclarecida, melhor preparada para o que aí vem. Andávamos há anos preocupados com as “fake news”, um vírus que se espalhava na internet e ameaçava o jornalismo. Este vírus mortal Covid-19, por uma cruel e indesejável circunstância, está de certa forma a resgatar o velho jornalismo. Não sou eu que o digo. São os mais de 800 mil portugueses que passaram a ver aquilo que haviam deixado de ver: televisão em português para os portugueses.
E depois deste “buraco negro”, a sua marca será a mesma?
Depois disto nada, no mundo, na vida, na organização das sociedades, no funcionamento dos mercados, na relação das empresas com as pessoas, das pessoas entre si, nada, absolutamente nada ficará na mesma. Esta luta pela sobrevivência não será apenas ganha no território da saúde pública, da ciência contra o vírus, mas também o da sobrevivência dos velhos modelos aos tempos que aí vêm.
Marcas imortais foram varridas por crises antigas e por elas mesmo criadas, porque cometeram erros, crimes de mercado, fraudes a clientes e investidores. Desta vez muitas vão morrer inocentes. Simplesmente porque ficaram pelo caminho ou então porque perderam razão de ser no novo tempo. A TVI não sairá igual ao que era antes deste “buraco negro”.
Nem as outras concorrentes. Estamos aqui diariamente, mantemos o melhor de nós em horas consecutivas de emissão, para cumprir um dever. E para daqui sairmos mais fortes.