Será a Criatividade o Segredo para a Sobrevivência Empresarial?
Por, Susana Coerver, co-fundadora da Kindology
A criatividade, sem dúvida, ocupa um lugar de destaque no cenário das competências do futuro, e é interessante notar como ela continua a ser altamente valorizada em previsões de organizações e publicações respeitadas como o World Economic Forum, Forbes ou OECD, estando sempre presente no top 10 das competências do futuro.
No entanto, a questão da valorização e estímulo da criatividade nas empresas é um tema intrigante e complexo.
De acordo com o ranking da Kantar BrandZ Global, apenas 16 das 100 marcas mais valiosas do mundo em 2023 existiam há 20 anos. A reinvenção, inovação, criatividade e falta de capacidade de adaptação à mudança estão na génese destes dados. As empresas que conseguiram manter-se no topo do ranking das marcas mais valiosas do mundo foram aquelas que foram capazes de se reinventar e adaptar às mudanças do mercado. Elas investiram em inovação e criatividade, desenvolvendo novos produtos e serviços que respondiam às necessidades dos consumidores.
No entanto, é interessante notar que, apesar da clara ligação entre criatividade e sucesso empresarial, grande parte das organizações ainda não conseguiram incorporar a criatividade na sua cultura e práticas. Muitas vezes, as empresas concentram-se excessivamente em processos rígidos, hierarquias burocráticas e padrões de trabalho tradicionais, o que com grande percentagem de certeza sufoca a criatividade em vez de promovê-la.
Além disso, o ambiente de trabalho muitas vezes coloca um ênfase excessivo em metas de curto prazo e resultados imediatos, o que pode inibir a exploração de ideias inovadoras.
A colaboração e o pensamento crítico são frequentemente incentivados, mas a criatividade nem sempre é abordada de maneira direta. Isso pode ocorrer devido à falta de compreensão sobre como cultivar a criatividade ou simplesmente porque é difícil medi-la de forma objectiva. Já Einstein dizia, “nem tudo o que se pode medir conta e nem tudo o que conta se pode medir”.
Muitas vezes também a criatividade é vista como algo inerente, algo que algumas pessoas têm e outras não, o que é um equívoco. Todos nascemos criativos e a criatividade pode e deve ser trabalhada.
Para as empresas realmente colherem os benefícios da criatividade, é necessário um compromisso real em criar um ambiente que a promova. E por isso trago aqui algumas questões para a sua empresa:
– A sua empresa tem uma cultura que valoriza a experimentação, aceita o fracasso como uma oportunidade de aprendizagem e recompensa a originalidade? Cultura inovadora.
– A sua empresa traz diversidade de pensamento e experiencias para as salas de resolução de problemas, trazendo diversidade de perspetivas, ou são sempre os mesmo nessas salas?
– E quando traz essa diversidade de pensamento, cria um espaço seguro para que efetivamente acolha essa diversidade de pensamento?
– Existe na sua empresa tempo alocado a projectos criativos e espaços onde possam colaborar e partilhar ideias livremente? Já ouviu falar no 20% time do google, ou a 3M que oferece uma parte do orçamento anual aos seus colaboradores para projectos criativos?
– Que formação ou eventos existem na sua empresa onde se desenvolvam técnicas de pensamento criativo?
– A liderança na sua empresa, cria momentos onde se estimula a criatividade e incentiva as suas equipas a serem inovadoras?
– Quais são os exemplos de inovações bem-sucedidas que a sua empresa implementou nos últimos anos? Em que momentos de lembra da criatividade ter sido estimulada?
Enquanto a criatividade, como vimos em todos os rankings de competências do futuro, é amplamente reconhecida como essencial, o seu verdadeiro potencial nas empresas portuguesas ainda está a ser pouco potenciado. É importante notar que a falta de capacidade de adaptação à mudança também está intimamente relacionada com a incapacidade de fomentar a criatividade. Para nos destacarmos num mundo cada vez mais complexo e competitivo, não chega reconhecer a importância da criatividade. É preciso investir activamente no seu estímulo e desenvolvimento.
Acredito, não apenas que as empresas beneficiarão da inovação e adaptação à mudança, mas também que colaboradores que contribuam activamente para esse processo, independentemente da hierarquia, serão mais comprometidos e felizes na organização, aumentado a tão desejada fidelização (retenção).