«Ser sustentável hoje não é uma questão de opção»

Arranca na próxima semana aquele que se apresenta como “o maior evento sobre a temática da água e sustentabilidade”. Entre os dias 3 e 6 de Junho, o Water World Forum for Life vai debater, em Reguengos de Monsaraz, os desafios da preservação de um dos mais importantes recursos do planeta, ao mesmo tempo que alerta para as principais ameaças do século XXI. Tudo isto com o Alqueva como pano de fundo.

Segundo a organização – também responsável por eventos como Nos Air Race ou Portugal Air Summit –, trata-se de uma iniciativa inédita em Portugal, que surge no seguimento da criação a Década da Água pela Organização das Nações Unidas (ONU). Durante três dias, o plano é simples: discutir políticas de sustentabilidade ambiental, partilhar boas práticas e soluções de eficiência energética, sensibilizando, em simultâneo, público e empresas para a preservação da água.

Maimunah Mohd Sharif, executive diretor do United Nations Human Settlements Programme, é uma das oradoras confirmadas, a par de Paul Watson, fundador do Greenpeace e da Sea Shepherd Conservation Society, entre outros. O Water World Forum for Life irá decorrer num formato híbrido, com alguns participantes presenciais e outros à distância via livestreaming.

Além dos debates, o evento irá distinguir-se pela aposta nos desportos náuticos, estando prevista a realização de um showcase internacional de wakeboard e o lançamento de uma competição europeia com eletric hydrofoil surfboards. À noite, todos os olhares se viram para um espectáculo multimédia sob o mote “Water & Light Show”.

Mas o que leva uma empresa conhecida pela organização de eventos mais radicais a assumir o leme de uma conferência dedicada à água? Segundo Nuno Molarinho, fundador e managing partner da TheRace, «a aprendizagem com o Portugal Air Summit abriu as portas para uma análise mais criteriosa sobre as questões relacionadas com o ambiente na medida em que o sector tem vindo a sofrer profundas alterações motivadas pelas exigências das políticas/acordos estabelecidos por forma a atingir níveis de redução do efeito dos gases nocivos e ruido». Surgia, então, a água como um novo tema a abordar.

Em entrevista à Marketeer, adianta ainda que a TheRace não foi a única a abraçar a causa. Desde que o Water World Forum for Life começou a ser preparado, foram muitas as marcas que quiseram garantir a sua presença, estando já confirmada a participação de gigantes como IKEA, Coca-Cola, Altice, EDP, Delta ou Super Bock.

«Ser sustentável hoje não é uma questão de opção», garante Nuno Molarinho, justificando o interesse das marcas no evento e a evolução do seu papel no campo da sustentabilidade, a um nível mais geral.

Acompanhe a entrevista na íntegra:

Por que razão descrevem o Water World Forum for Life como o maior evento de sustentabilidade?

Sensíveis às questões da sustentabilidade ambiental, nomeadamente à importância da utilização de recursos como a água no desenvolvimento socioeconómico, na construção de ecossistemas saudáveis, na produção de energia e alimentos e, sobretudo, no olhar criterioso sobre a real importância deste recurso para a sobrevivência da espécie humana, entendemos que poderíamos também nós contribuir para uma maior consciencialização da sociedade em relação às questões mais prementes do meio-ambiente para este século.

O Water World Forum for Life pretende, através da água como um bem essencial para a vida e ponto de partida, abordar de uma forma transversal a sustentabilidade ambiental e as boas práticas na preservação do ambiente.

Quando falamos num dos maiores eventos de sustentabilidade ambiental referimo-nos, em primeiro lugar, à ambição do evento em ser mundial na medida em que o desafio que colocámos a nós próprios na origem do conceito foi a de exportar o evento para cinco continentes, começando pela Europa.

A razão da escolha de Portugal prendeu-se com o facto de termos no nosso território um majestoso plano de água, o Alqueva, considerado o maior lago com intervenção humana da Europa, que tornou a escolha evidente pela sua singularidade.

Em segundo lugar, porque as caraterísticas do evento são diferenciadoras em relação à maior parte dos eventos desta natureza, no sentido em que conseguimos, através de um exercício complexo de aproveitamento da paisagem e de toda a sua magnitude e beleza natural, construir um projecto altamente impactante em quatro áreas de intervenção, nomeadamente, debates, cultura ao serviço do ambiente, enfoque nos case study das empresas e no seu posicionamento face às diferentes estratégias aplicadas e desporto sustentável sem utilização de combustíveis fosseis. Tudo isto num só evento.

Representa uma mudança significativa face ao tipo de eventos que a TheRace costuma organizar. Como justificam esta aposta?

A TheRace é uma empresa de organização de eventos que marca a sua diferença na forma como se entrega aos projectos, na análise que faz do mercado nas diversas áreas e na inovação dos conceitos que cria. Em 2017, percebendo o potencial e os indicadores de crescimento do cluster aeroespacial em Portugal, apostámos num evento agregador dos diversos stakeholders e entidades públicas relacionadas com o sector. Pese embora os efeitos nocivos da pandemia do último ano e meio, foi sem dúvida uma aposta ganha na medida em que, após quatro edições, vai, em 2022, passar a ser um evento ibérico com ponto de agenda no circuito dos maiores eventos do sector a nível europeu.

A aprendizagem com o Portugal Air Summit abriu-nos as portas para uma análise mais criteriosa sobre as questões relacionadas com o ambiente na medida em que o sector tem vindo a sofrer profundas alterações motivadas pelas exigências das políticas/acordos estabelecidos por forma a atingir níveis de redução do efeito dos gases nocivos e ruido.

A TheRace tem demonstrado ao longo dos anos a capacidade e competência para evoluir e trabalhar em linha com projectos que entreguem à sociedade um contributo palpável para questões inadiáveis.

Que marcas vão estar associadas ao Water World Forum for Life?

O Water World Forum for Life tem sido um projecto que não tem deixado ninguém indiferente. Desde o início, assim que convidámos a comissão de programa composta pelo Ministério da Defesa Nacional, APA – Agência Portuguesa do Ambiente, ADENE – Agência para a Energia, Ana Aeroportos e pela Potenciar – Consultores Associados, percebemos que o interesse do projecto ia para além de uma mera presença institucional das entidades públicas ou das empresas. Contactámos centenas de empresas que, na sua grande generalidade, mostraram um interesse genuíno em participar.

Ainda com algumas participações pendentes, entre dezenas de parceiros e diversas Associações, destaco, nesta fase, o Ministério do Ambiente, Altice, EDP, DECO, FNAC, BCSD, Delta, Novo Verde, Gesamb, Edia, European Recycling Platform, IKEA, Evolut Green, Infraestruturas de Portugal, Be Water, Mercedes StarSul, Coca-Cola, Serra da Estrela, Carmim, Esporão, Fundação Calouste Gulbenkian, O´Neill, Jobe, Super Bock, Adene, Águas de Portugal, Ministério do Mar e Get2C. O São Lourenço do Barrocal e o Montimerso como hotéis oficiais do evento e a ECO – Capital Verde e a RTP como parceiros de media.

Como vê o papel das marcas na promoção e divulgação deste tipo de temas?

O alinhamento das empresas com as estratégias impostas ao nível da sustentabilidade ambiental pelos governos é hoje uma obrigatoriedade. Falo neste assunto porque todas estas políticas impostas pela comunidade europeia, nomeadamente o Acordo de Paris, visam responder aos compromissos assumidos pelos Estados-membros com prazos de implementação muito exigentes. Ser sustentável hoje não é uma questão de opção, é uma realidade transversal a todos os sectores de actividade sem excepção.

No relacionamento entre a competitividade das empresas e o seu público-alvo, os eventos são vistos como ferramentas estratégicas que visam divulgar, promover e dar conhecimento do produto/empresa. A ideia de provocar a consciência e a fidelidade de um produto/empresa através de um canal de comunicação aberto é, sem dúvida, um veículo de força e uma oportunidade para ampliar a credibilidade das empresas.

Os eventos, pelas suas particularidades de comunicação directa e pessoal são, hoje em dia, uma alavanca para qualquer negócio profissional.

A grande vantagem de eventos como o Water World Forum for Life, no âmbito da criação e manutenção das marcas, é que conseguimos criar uma relação de aproximação ao público-alvo e, ao mesmo tempo, uma avaliação e medição quase instantânea do retorno do impacto do evento em diferentes níveis.

Vivemos numa sociedade em que a oferta de produtos é tão ampla e em muitos casos muito superior à procura. Nesse sentido, as empresas sentem cada vez mais a necessidade de inovarem na forma como diferenciam os seus produtos e serviços, aproveitando os eventos mais enquadrados no seu posicionamento.

Como irá decorrer o evento? É aberto ao público?

Com um conceito híbrido, premeia a presença física de convidados e oradores num dos palcos naturais mais bonitos do Alentejo, em paralelo com um ambicioso compromisso digital.

Uma emissão contínua de televisão dará voz a todos os participantes e parceiros, no local ou via livestream, criando as condições necessárias para uma maior audiência nacional e internacional do evento.

Com uma flexibilidade em termos de produção televisa semelhante a um canal de televisão tradicional, vamos poder realizar todos os conteúdos em directo, passar mensagens dos parceiros, fazer entrevistas em directo e em indeferido, termos em permanência um painel de comentadores que irá fazer um resumo de tudo o que estiver a acontecer e, assim, conseguirmos oferecer a quem nos estiver a ver, no seu telemóvel ou PC, tudo o que estiver a acontecer com detalhe e ao momento.

O evento será composto por conferências e debates com individualidades reconhecidas oriundas de vários pontos do globo, desportos náuticos eléctricos (Water in Action) e, por fim um, espectáculo multimédia no Alqueva em cima do pano de água (Water by Night), em que a arte é utilizada como catalisador de emoção.

O evento destina-se aos profissionais da área do ambiente, gestores de entidades públicas e privadas, público em geral, centros de ensino e media. Contará entre os participantes com profissionais do sector, investigadores e cientistas, entidades públicas e privadas de referência na área da sustentabilidade ambiental e energética, gestores de grandes organizações, opinion leaders, políticos, influencers, artistas e músicos.

O Water World Forum for Life terá também uma dimensão internacional? De que forma?

Portugal tem, ao longo dos anos, importado um conjunto de eventos excepcionais, que têm dado ao país um reconhecimento mundial com um elevado retorno financeiro. Ao invés de importarmos, hoje somos nós a exportar um conceito português que levará consigo o que de melhor se faz no nosso País em termos da execução das políticas de sustentabilidade ambiental ao nível das entidades publicas e das empresas, dando também enfase ao excelente trabalho das mais de três dezenas organizações não governamentais criadas em Portugal.

A importância na aposta num projecto com esta dimensão consubstancia a capacidade de podermos controlar a forma como queremos ser vistos lá fora, dando mostra da massa crítica nacional ao serviço da ciência e da inovação a par com o que de melhor se pratica nos outros países. Por outras palavras, um evento com estas caraterísticas realizado noutros países por uma organização portuguesa será certamente uma oportunidade para levarmos mais longe o que de melhor se faz em Portugal no que concerne ao nosso compromisso europeu com os grandes temas da sustentabilidade ambiental.

Desta forma, estamos a preparar um calendário ambicioso para um objectivo audacioso que nos vai levar até mais longe com esta marca portuguesa. Iniciámos contactos com parceiros nos EUA e no Brasil no sentido de começarmos já a trabalhar no projecto a nível internacional onde perspectivamos organizar em conjunto o Water EUA, em 2023, e o Water Brasil, em 2024. Em seguida, seguir-se-ão o Water Oceania, em 2025, Water Asia, em 2027, e, por fim, terminando em Moçambique o Water Africa, em 2028.

Quais são os principais desafios na organização de um evento como este?

A maioria dos eventos têm um fio condutor comum e, na sua generalidade, em termos de execução são muito semelhantes. A escolha do local define o conjunto de necessidades inicial e com este ponto de partida tudo o resto se desenrola tendo em vista a melhor optimização de recursos. Hoje em dia, o uso da tecnologia, nomeadamente a realidade aumentada, inteligência artificial e a inovação em termos dos recursos de multimédia disponíveis no mercado diferenciam a qualidade dos conceitos em paralelo com a imaginação criativa desenvolvida para o efeito.

Face à questão que coloca, vejo também a necessidade de falar sobre uma alteração de paradigma no que diz respeito ao futuro dos eventos. A pandemia trouxe-nos a visão de que é possível e desejável, com o objectivo de podermos contar com as pessoas que queremos ver e ouvir, produzirmos eventos que tenham esta dupla capacidade de receber público no local e ao mesmo tempo entrarmos nas empresas, nas escolas e nas casas das pessoas com um click praticamente instantâneo em livestreaming.

A rapidez e flexibilidade das plataformas que usamos hoje em dia permitem-nos ter a garantia de que o sinal enviado tem uma qualidade similar à convencional televisão. Juntando uma equipa de realização e produção televisa, criámos um canal de evento com infinitas possibilidades. A título de exemplo, muitas vezes dizemos que é melhor assistir a alguns eventos.

Quais são os resultados esperados?

Com o Water World Forum for Life, pretendemos marcar um forte alerta para a urgência de acções imediatas por parte da classe política, económica, bem como do público em geral. Ficarmos com uma convicção inquestionável de que a água é essencial para a vida e de que a sustentabilidade ambiental deve ser um foco activo para todos nós e, ainda, que todas as acções contam.

Ao mesmo tempo, deixarmos bem vincada a missão da marca Water no que concerne a consciência colectiva global, contribuindo para a redução da pegada e para a diversificação de conteúdos e oradores a partir de qualquer parte do mundo.

Em cada evento Water World Forum for Life que viermos a produzir, nos cinco cantos do mundo, o nosso foco será o de reunir as melhores referências em cada área específica da sustentabilidade ambiental e dar-lhes a voz necessária para uma mudança emergente. O nosso objectivo é sermos a referência da sustentabilidade ambiental num evento agregador que vai levar Portugal para o Mundo.

Texto de Filipa Almeida

Artigos relacionados