Sentir a Força: novo mundo, novos canais
Por Rodolfo Oliveira, managing partner da BloomCast Consulting
Está a acontecer “um distúrbio na Força”.
Esta é provavelmente uma das mais populares citações de filmes. É, sem dúvida, uma frase que resume a situação que atravessamos, tendo em conta o consenso de que este é um momento decisivo na história moderna, em que todas as verdades são questionadas e em que os pilares da sociedade e da economia são desafiados.
Se antes as tendências de colocar ciência e factos contra teorias da conspiração e amplificar mitos e notícias falsas pelas redes sociais não eram desafios suficientes, agora somos confrontados com uma revolução de dimensões sem precedentes com a pandemia – e todas as mudanças que a mesma impulsionou.
À medida que a poeira assenta, e depois das primeiras decisões baseadas na “união para enfrentar o desafio”, começamos a observar mudanças alarmantes.
Indústrias redefinidas
Do lado do negócio, vimos indústrias como o turismo ou saúde a serem inteiramente redefinidas. Tendências-chave incluem a aceleração do e-commerce para endereçar a descida de frequência dos espaços de retalho e a telemedicina, que se tornou algo normal. Em Portugal, todos os principais grupos de saúde e o Serviço Nacional de Saúde estiveram envolvidos no desenvolvimento de soluções para consultas à distância, com suporte de vídeo.
Deslocar-se para o trabalho está a ser substituído pelo teletrabalho o que impulsiona ainda mais o crescimento do e-commerce. E, acima de tudo, cada vez mais os consumidores querem que as marcas tenham consciência das suas necessidades e pedidos específicos, criando experiências mais personalizadas e impactantes.
Esta nova paisagem cria um desafio para as empresas, que têm de se adaptar rapidamente. Onde é que os consumidores gastam o seu tempo? O que é que fazem quando estão nesse local? Quais são as suas expectativas? Estes são novos desafios que anulam as ideias pré-concebidas. É hora de voltar ao início e redefinir o engagement e a experiência e estar pronto para se adaptar quando necessário, utilizando os novos e crescentes formatos de conteúdos.
Os profissionais de Relações Públicas e os seus clientes têm que assegurar que têm competências para todas estas novas áreas, do conteúdo pago às competências digitais, incluindo os podcasts (que continuam a crescer em termos de alcance e investimento das marcas) e o storytelling, sendo capazes de medir resultados efectivamente, mostrando o valor para o negócio das iniciativas em curso.
Pico de notícias online
Uma das áreas onde esta mudança pode ser sentida é nos media tradicionais, que têm tido um pico de leitores online, com números ainda bastante elevados (como a Comscore destaca), 28% acima da média (comparativamente com números pré-Covid-19). Apesar disto, não se verifica a mesma tendência nos investimentos em anúncios, já que as marcas não querem apostar no tipo de notícias que as pessoas mais procuram.
Ainda assim, cada vez mais pessoas procuram estas fontes para oferecer informação válida e insights a propósito do que está a acontecer à sua volta, verificando-se um aumento de subscrições em muitos meios de comunicação, principalmente digitais.
Têm também sido criados websites de alguns media reputáveis, com iniciativas de fact-checking, de modo a responder ao influxo de notícias falsas a serem publicadas nas redes sociais e amplificadas em alguns meios extremistas. Em Portugal, essa iniciativa começou com o Poligrafo, em 2018, um site focado apenas nesse tópico, que já foi, desde então, replicado por inúmeras outras publicações.
O aumento dos podcasts
A importância crescente dos podcasts tem sido reconhecida em Portugal com o lançamento do novo festival dos podcasts, em 2019. O Podes combina o ecossistema de pessoas por detrás dos podcasts, educando os visitantes através de workshops e reconhecendo os melhores podcasts em várias categorias.
Globalmente, o Stitcher, uma das principais plataformas (agora parte da SiriusXM), viu o número de podcasts publicados aumentar drasticamente, com um crescimento de mais de 129 000% desde 2010. Adicionalmente, há uma tendência para produzir episódios mais curtos, com um crescimento do formato de mini-série, em que os ouvintes têm oportunidade de sintonizar uma imensidão de temas que lhes interessa.
Portanto, tendo em conta o isolamento que tem sido experienciado e tudo o que está a acontecer, ter acesso a uma audiência focada é critico para as marcas, que continuam a tentar assegurar que estão no top-of-mind. E existem muitos ouvintes novos, especialmente de uma camada mais jovem – indivíduos na casa dos 20 anos que estão a construir hábitos domésticos – e, portanto, para encontrar um ambiente inócuo onde o ouvinte está focado, a ouvir e a prestar atenção, os podcasts são um óptimo caminho.
Engagement tradicional
Ao mesmo tempo, os métodos de engagement tradicional, como o e-mail marketing, já provaram a sua resiliência e experienciaram crescimento em 2020, com taxas de abertura a aumentar em 21,8% e taxas de clique a aumentar 22,5% mundialmente, de acordo com dados publicados na Adweek.
É por isso necessário desenvolver abordagens estratégicas e tácticas, já que, como o John Lennon disse “Life is what happens to you while you’re busy making other plans” (Beautiful Boy/Imagine).
Portanto, é importante que as empresas desenhem um plano mestre, que abranja todas as propriedades e ferramentas digitais, juntamente com mensagens coesas, mas que também esteja preparado para mudar de rumo, caso seja necessário.
O social listening poderá ser uma ferramenta para identificar tendências e mudanças nos padrões de consumidor, assegurando ainda que as redes sociais são utilizadas e passam as mensagens estratégicas. Certifique-se de que as mensagens-chave são desenhadas para cada audiência.
Diversifique conteúdo para conseguir assegurar os padrões de recolha de informação, incluído infográficos, vídeo, áudio e conteúdo escrito tradicional, com suporte SEO adequado.
É importante apostar na criatividade! Lembre-se de que as pessoas não esperam uma resposta para todas as perguntas e que, numa altura no tempo em que a incerteza é o novo normal, o foco deverá estar em ouvir os consumidores. Pratique a flexibilidade e a adaptação, estando ao lado do consumidor e disponível quando ele está e em que canal estiver.
Os consumidores querem ter alguém em quem confiar, que partilhe os seus valores e princípios e que seja excelente nos mesmos. É isso que deve ser tido em conta. Acima de tudo, mantenha em mente que esperar o melhor ao planear para o pior é sempre a melhor opção.
Que a força esteja com todos nós.