Se temos talento para dar e vender, porque não o vendemos?
Por Teresa Verde Pinho, Criativa Sénior na AKQA de Portland
Entrevistador imaginário:
Portugal está cheio de criativos de todo o lado do mundo, franceses, americanos, ingleses, a trabalhar para fora, a ganhar em dólares e libras e a gastar em euros em Portugal. Quer dizer, é o melhor de dois mundos; pergunto, porque é que não fazemos o mesmo? Porque é que não começamos a freelar mais para fora?
Eu, na realidade:
A mim parece-me que é um misto de medo, de achar que lá fora as coisas são melhores e maiores, e que nós não somos capazes. A verdade é que é tudo igual em todo o lado. Há pessoas boas e más em todo o lado, há pessoas que ocupam cargos altos que sabem o que fazem e outras não, em todo o lado – ficariam admirados. Eu fico de “queixo caído” todos os dias.
Depois, acho que também há uma certa preguiça ou uma certa acomodação ao que já temos. Ou seja, se calhar não investimos tanto em criar relações com recruiters, ou não nos dedicamos tanto ao LinkedIn como devíamos – este devíamos é, obviamente, subjectivo – e, se calhar, também é a parte da trabalheira que é pensar em, “Ok, em termos fiscais, o que é que vai mudar? Tenho de trabalhar com outro fuso horário, hmmm, será que tenho de abrir empresa lá fora? Não há paciência”.
Acho que é uma estupidez pensarmos assim, porque temos talento, talento para dar e vender. Temos bom inglês e adaptamo-nos bem a diferentes tipos de culturas, a diferentes formas de trabalhar e poderíamos sair a ganhar, e muito.
Fiquei na dúvida se deveria de escrever sobre isto, porque me parece tão óbvio, tão evidente. Porque é que não freelamos para fora? Não só cada pessoa vai usufruir de uma melhor qualidade de vida mas, além disso, também é óptimo haver mais competição relativamente aos salários que estão agora a ser praticados em Portugal. Pagam-se “ninharias” e se começarmos a ter a hipótese de “ah, deixa ver… vou freelar para Amesterdão que me vai pagar 800 euros por dia, ou para uma agência em Lisboa que me vai pagar 150 euros pelo mesmo trabalho?”, será que o mercado não iria repensar no que paga?
E, com isto, eu quero dizer o quê? Temos de mudar de atitude, ter mais confiança, menos medo e temos de arriscar mais. Temos de pôr mãos à obra, adicionar recruiters no LinkedIn, aprender sobre como os mercados lá fora funcionam e lidar com as burocracias chatas que tudo isto traz.
Para citar o hino icónico e imortal da BBDO, é preciso “menos ais, menos ais, menos ais”.
Artigo publicado na edição n.º 328 de Novembro de 2023