Sabe qual é o segredo para as “pechinchas” da Temu? Análise académica revela o que esconde o negócio
Os preços baixos da Temu são muitas vezes alvo de debate e questões. Como é que conseguem vender tanto e a preços tão baixos, mantendo o lucro? Muitas vezes, as respostas a esta questão viram-se para práticas laborais menos éticas que reduzem o custo de produção à custa de exploração.
No entanto, uma análise académica da autoria de Henrique Isaac, professor na Universidade de Paris-Dauphine, onde codirige o curso de “Sistemas, Informação, Redes e Digital”, e Membro do Renaissance Numérique (um think tank independente e apartidário dedicado à transformação digital da sociedade) desde 2009, aponta para outro grande trunfo da retalhista chinesa para conseguir produtos que são autênticas ‘pechinchas’.
O segredo para os preços da Temu estará no modelo de negócios da sua proprietária, a Pinduoduo (PDD Holdings). Os principais fatores que permitem essa estratégia de preços agressiva são o modelo Consumer-To-Manufacturer (C2M), onde em vez de comprar e manter stock, a Temu faz leilões reversos, onde os fabricantes competem para oferecer os preços mais baixos possíveis. Este modelo permite que a plataforma garanta preços reduzidos desde o ponto de partida.
Outro fator é o stock consignado, em que os fabricantes entregam os produtos diretamente aos armazéns da Pinduoduo na China e absorvem os custos de armazenamento. Se os produtos não forem vendidos, devem retirá-los, reduzindo o risco financeiro da Temu.
Os pagamentos trimestrais aos fornecedores também ajudam a retalhista que garante um melhor fluxo de caixa e permite maior investimento em marketing e expansão.
A Pinduoduo consolida ainda pedidos e otimiza a logística de remessa, reduzindo custos operacionais e permitindo preços mais competitivos. Além de tudo isto, a estratégia agressiva de penetração no mercado, em que a Temu investe fortemente em publicidade e promoções persistentes e vincadas para atrair clientes e consolidar sua presença global.
A Pinduoduo utiliza também as redes sociais e compras em grupo para impulsionar vendas, oferecendo preços mais baixos conforme aumenta o número de consumidores. Ao contrário da Amazon, por exemplo, a Pinduoduo não cobra comissões sobre vendas, gerando receitas através de logística e marketing. Além disso, beneficia de isenções alfandegárias nos EUA e UE, permitindo envios sem taxas.
Embora estes fatores possam explicar os preços baixos, o académico levanta questões, uma vez que a Temu estará a considerar fazer a transição para um mercado mais convencional. Assim sendo, e tendo revolucionado o retalho online, “será que sua estratégia agressiva de preços resistirá ao teste do tempo”, questiona Henrique Isaac na conclusão da sua análise.