Rock in Rio: Duas décadas a projectar um mundo melhor
Uma segunda casa: é assim que a organização de um dos maiores festivais internacionais de música do mundo gosta de chamar a Portugal. Em entrevista à Marketeer, Luís Soares, head of Marketing do Rock in Rio Lisboa, diz que este é um evento feito de pessoas para pessoas, a pensar em todos os detalhes para criar uma festa que reúne famílias, amigos, parceiros, empresas e muitas outras entidades.
No ano em que comemoram 20 anos de Rock in Rio em Portugal, qual o balanço que fazem?
Desde a estreia em Portugal em 2004, temos sentido o carinho e a aproximação do público, não só português, mas de outros países que nos visitam. Ao longo destes anos têm sido muitas as surpresas em palco, como o encontro surpresa dos The Rolling Stones e Bruce Springsteen em 2014, que deixou o público em êxtase, com a presença ilustre de Bill Clinton na plateia. Na edição seguinte, em 2016, a chegada do Rock in Rio Academy materializou a ambição do festival em inovar e compartilhar conhecimento. A edição de 2018, que deixou a sua marca por trazer várias inovações relativamente aos conteúdos de entretenimento oferecidos ao público, como a cultura pop e o gaming. Nos anos seguintes lançámos as mágicas Galp Music Valley Sessions, o Worten Game City e o mega-espectáculo de vídeo mapping e fogos-de-artifício na Torre de Belém, em 2019, aquando das celebrações dos 15 anos do Rock in Rio.
Com a pandemia o desafio era voltarmos a estar juntos e foi com uma alegria imensa que pudemos voltar a fazer o que melhor sabemos, com paixão e entrega. Prova disso foi a edição de 2022, o grande ano do reencontro. A potência e força destes 20 anos de Rock in Rio em Portugal extrapola a própria organização, pois está enraizada em todos aqueles que têm partilhado da magia de um festival que é pensado para que a experiência de quem o vive seja explorada ao máximo!
O Rock in Rio chegou a Portugal quando já tinham experiência de realização do evento no Brasil (três edições), onde nasceu em 1985. Que novidades e desafios encontraram?
O Roberto Medina tem uma expressão curiosa que diz que não existe uma fórmula para a criação de um festival de música. No entanto, ele inventou a sua própria fórmula, ao idealizar um dos maiores festivais do mundo no Brasil, em 1985. Nessa época, o Brasil passava por uma ditadura militar e o país começava a dar os primeiros passos rumo à democracia.
O Rock in Rio chegou a solo nacional em 2004, mais precisamente em Maio, quando a Cidade do Rock se ergueu e abriu portas na Bela Vista. Desde então teve um papel fundamental na evolução da experiência dos festivais em Portugal. Introduziu padrões de excelência em produção, segurança e diversidade musical, influenciando positivamente outros eventos no País. Ao trazer artistas internacionais de renome, expandiu o gosto musical da audiência e promoveu uma abordagem mais consciente e ética na realização de eventos, impactando a forma como os festivais são planeados e executados.
O Rock in Rio Lisboa transformou por completo a indústria dos eventos e dos festivais em Portugal, desde a sua cobertura mediática ao detalhe, qualidade de infra-estruturas e grandiosidade, elevando assim a fasquia de todo um sector e indústria que nasceu a partir de então. Mais de 380 mil pessoas passaram pela Cidade do Rock em 2004, com inúmeros artistas portugueses, brasileiros, bandas internacionais consagradas, num total de 70 atracções e mais de 120 horas de espectáculo.
Ao fim de 20 anos de Rock in Rio em Portugal, a grande novidade que podemos destacar foi o convite da Câmara Municipal de Lisboa para estrear (depois das JMJ) o recinto do Parque Tejo, um espaço novo que vem trazer à cidade de Lisboa um venue world class, em que o Rock in Rio não poderia ficar de fora.
Uma das novidades deste ano foi a transição do Parque da Bela Vista para o Parque Tejo-Lisboa…
Do ponto de vista de logística e de acessibilidade de backstage, o Parque Tejo Lisboa oferece condições que o público não se apercebe, mas que torna o trabalho muito mais fácil. Em termos de acessibilidades para o público, para chegar ao Rock in Rio Lisboa, no Parque Tejo Lisboa, os participantes têm várias opções de transporte à sua disposição. A estação de metro do Oriente, serviços de shuttle da estação para o recinto do festival, linhas de autocarro, táxis e serviços de transporte particular. Para aqueles que preferem caminhar ou utilizar bicicletas, também é possível, dependendo da proximidade do local de alojamento.
O número de participantes este ano deverá ser consistente com as edições anteriores do festival, com um público em torno dos 80 mil participantes por dia, com a grande diferença de que conseguimos assegurar mais conforto para as pessoas que nos visitam. O foco principal não foi aumentar o número de pessoas, mas sim proporcionar uma experiência de alta qualidade e segura para todos os presentes, com mais áreas de circulação, de restauração, entre outros.
O Rock in Rio tem um modelo de negócio assente nas relações com as suas marcas e parceiros, porque acreditamos que sem eles não alcançaríamos o sucesso que felizmente continuamos a ter. O nosso main sponsor Galp e as outras 80 marcas que nos apoiam, os nossos patrocinadores principais, como a SuperBock, o BNP Paribas, a Pepsi, mas também todas as outras marcas que nos ajudam a criar uma experiência diversificada e única para os festivaleiros que nos visitam. Hoje é fundamental que as pessoas interajam com as marcas e experienciem a vida ao vivo, uma vez que o digital está muito presente no nosso quotidiano. Este contacto com as marcas pode ir desde uma atracção como a Roda Gigante Pisca Pisca, o ESC Online Sports Bar, a Sociedade Ponto Verde, etc. O Rock in Rio não é um festival de marcas, mas também o é, pois encaramos como um desafio para as marcas desenvolverem engagement e interacção. Este modelo criado por nós em Portugal, em 2004, é único no mundo e já repercutido noutros grandes festivais.
De que forma este novo espaço incrementa a capacidade de comunicação às marcas?
Comparativamente à Bela Vista, o Parque Tejo dispõe de mais de 30 mil m2 de espaço para o público e permitiu-nos criar mais um palco robusto com artistas nacionais e internacionais – Palco Tejo. Para todas as marcas e parceiros que nos continuam a dar o seu voto de confiança, o que podemos assegurar é que faremos o possível para rentabilizar e dar o máximo retorno possível através da comunicação.
Porque é que o Rock in Rio é o melhor evento para as marcas se expressarem através de uma estratégia de apoio à música?
O que pretendemos para uma marca, mais do que a sua presença nos dias de festival, é conseguir que promova experiências aos festivaleiros que nos visitam, e todos os indicadores das edições anteriores mostram que esse objectivo é conseguido.
Temos como excelente exemplo o nosso patrocinador oficial, a Galp, que apostou nos famosos panamás como categoria de merchandising exclusiva, e que revelou uma adesão extraordinária dos festivaleiros (inclusive muitos estenderam a presença do panamá a outros festivais, incluindo o próprio Chris Martin, dos Coldplay, que o usou num dos concertos que deu em Coimbra, o ano passado).
Com uma forte comunicação estratégica presente no festival, a Galp recebeu mais de 12 mil visitas no seu espaço no recinto e conseguiu demonstrar o seu posicionamento na transição energética, a sua jornada de transformação e a diversidade de produtos que tem em portefólio.
A música é um forte catalisador, capaz de mudar comportamentos e definir tendências e nós percebemos isso com o legado que Roberto Medina nos deixou, depois da primeira edição, em 1985, no Rio de Janeiro. Nos dias de festival, as pessoas aceitam o convite para dançar sob o sol ou chuva, com liberdade de expressão e alegria. Sentimos que as pessoas ficam bastante receptivas às marcas, pelas experiências que as mesmas promovem.
Qual o ponto de situação no que diz respeito à internacionalização do evento? O Rock in Rio já chegou, noutros anos, a Espanha e aos EUA. Quais os projectos de futuro no que diz respeito a este domínio?
Hoje, o Rock in Rio é um evento presente em dois continentes: América (Brasil) e Europa (Portugal). O Rock in Rio pertence a um grupo que é a Rock World, que, por sua vez, pertence à Live Nation (o maior grupo de espectáculos de música e de entretenimento do mundo).
A aposta do Rock in Rio passa em consolidar-se nos principais mercados, que é também o seu maior potencial de crescimento, na América Latina. Temos o Rock in Rio, no Rio de Janeiro, como o principal e o maior evento de todo o continente latino-americano e um dos maiores festivais de entretenimento e música do mundo (do ponto de vista de afluência de público) e a nossa aposta continua a passar por nos consolidarmos nesses mercados. Temos também o The Town, o segundo maior evento da América Latina, que acontece em São Paulo.
O Rock in Rio tem muitos desafios, muitas características que o diferenciam, e daí ser bienal e haver uma aposta na criação e solidificação destes dois territórios.
De que forma irão continuar a trabalhar no âmbito da sustentabilidade e responsabilidade social?
No Rock in Rio, a sustentabilidade e a responsabilidade social são fundamentais e reflectem o nosso compromisso “Por um Mundo Melhor”. Desde 2016 que somos considerados um evento zero resíduos em aterro, temos trabalhado incansavelmente para isso, encaminhando todos os materiais para reciclagem e valorização energética e orgânica. Em parceria com a Sociedade Ponto Verde, a Valorsul, a Câmara Municipal de Lisboa e outras entidades, desenvolvemos um plano de gestão sustentável rigoroso, que tem dado frutos significativos.
Ao longo dos anos, implementámos diversas medidas para reduzir o nosso impacto ambiental. Por exemplo, ao separar e reciclar papel, plástico e vidro, conseguimos economizar recursos preciosos e reduzir consideravelmente as emissões de CO2. Além disso, adoptamos práticas como o aluguer de materiais, o que contribui para a redução do desperdício.
Na edição deste ano, focamo-nos ainda mais na sustentabilidade, ao armazenar ou doar materiais como relva sintética, alcatifa e tecidos, além de reutilizar mais de 70% das lonas de outras edições. O nosso compromisso com a redução do consumo de plástico é evidente na decisão de eliminar o Sofá Rock in Rio e na instalação de pontos de água potável em todo o recinto. Estamos também cada vez mais empenhados em reduzir o nosso consumo de água e combustível, fertilizar o solo de forma sustentável e melhorar a gestão de resíduos. Parcerias com empresas como a Nestlé e a Galp ajudam-nos a atingir esses objectivos de forma eficaz.
Com metas ambiciosas para 2030, como oferecer 50% de alimentação saudável e sustentável e garantir um evento 100% diverso, acessível e inclusivo, estamos comprometidos em fazer a diferença e criar um impacto positivo no mundo. O Rock in Rio não é apenas um festival de música, mas sim um agente de mudança, inspirando outras organizações e indivíduos a adoptar práticas mais sustentáveis e responsáveis.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Marcas na Música”, publicado na edição de Junho (n.º 335) da Marketeer.