Restaurantes portugueses recomendam concorrência: «Todos precisamos de ajuda»
No início de Novembro, uma campanha internacional do Burger King em que a cadeia de restauração pedia aos consumidores para almoçarem ou jantarem no McDonald’s deu que falar pelo gesto de solidariedade com o sector da restauração. Porém, também pela mesma altura nascia uma corrente de apoio semelhante em Portugal.
«No domingo de 1 de Novembro, durante a tarde recebi uma mensagem de um cliente com uma ideia deste género. Desafiou-me a avançar porque conhece bem a minha abertura para o associativismo», conta Artur Ribeiro, responsável do Lado B, restaurante do Porto mais conhecido pelas francesinhas.
Artur Ribeiro explica à Marketeer que já foi dirigente associativo (vice-presidente da Associação de Comerciantes do Porto) e que tentou, em 1994, criar a primeira central de compras de discos em Portugal – embora não tenha conseguido abertura por parte dos potenciais parceiros. Avançamos até 2020 e o cenário é outro: se, antes, a ideia de uma cooperativa na área da música não agradou; agora, em tempo de pandemia, e num novo sector, parece ter conseguido que os restaurantes dessem a mão uns aos outros.
A 1 de Novembro, o Lado B publicou na sua página de Facebook uma mensagem em que pedia a participação de todos para ajudar os restaurantes portugueses. “Se já antes aconselhávamos os vizinhos, porque estávamos cheios ou encerrados para descanso, entendemos agora que a restauração não deve caminhar por si, individualmente”, lê-se na publicação, antes de serem recomendados espaços como TapaBento, Santiago, Cufra, Capa Negra, Conga, Abadia, Pedro dos Frangos, Caetano, Casa Guedes ou Gazela.
Vamos todos ajudar os restaurantes.
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Publicado por Lado B – A Melhor Francesinha do Mundo em Domingo, 1 de novembro de 2020
«A escolha caiu essencialmente naqueles que tinham serviço de take-away ou delivery, que já conhecia e que também nos mereciam mais confiança. Havia muitos mais, mas o objectivo era passar a mensagem a alguns e que estes propagassem a ideia aos seus concorrentes ou vizinhos», explica Artur Ribeiro.
Ao todo, o Lado B recomendou 31 restaurantes, mas, neste momento, a corrente já envolve cerca de 300. Segundo o responsável, há quem tenha partilhado uma lista extensa e quem tenha preferido apontar apenas quatro ou cinco sugestões. Em qualquer caso, a maioria decidiu nomear os seus maiores concorrentes.
«Nós não escolhemos apenas géneros ou concorrentes directos mas achamos bem interessante outros terem esse arrojo», comenta o responsável do Lado B.
E quais os resultados esperados? «Tudo que seja sensibilizar o público frequentador de restaurantes é sempre bem-vindo. Estamos a atravessar um momento único na história da restauração mundial e todos precisamos de ajuda.»
Artur Ribeiro afirma que, antes da pandemia de COVID-19, ser um restaurante de sucesso ajudava a consolidar equipas, pagar ordenados acima da médica, abrir novos espaços ou até criar redes de franchising. Contudo, o vírus parou todo este processo: «Acreditamos que quanto mais “ruído” fizermos, melhor passamos a mensagem.»
Artur Ribeiro acredita que só é possível ter sucesso se também os vizinhos forem bons naquilo que fazem e que é importante fixar clientes na zona. «O melhor exemplo é (era) a grande diversidade de espaços abertos nos últimos três anos no Porto, com uma oferta incrível, do tradicional ao sofisticado, da cozinha portuguesa à cozinha asiática. Para melhorar os menus, muito contribuíram também os nossos excelentes vinhos portugueses», comenta.
Sobre o futuro da restauração para lá desta corrente, Artur Ribeiro não tem dúvidas de que o maior apoio terá de vir do Estado. Trata-se, segundo o responsável, de um sector que emprega mais de 250 mil pessoas, com muitos casos de famílias inteiras ou casais a trabalhar na mesma empresa e, por isso, sem alternativas de rendimento.
«Por cada salário que o Estado possa pagar, durante estes meses difíceis, a empresa irá devolver esse valor em três meses, só na Segurança Social, para além de evitar o subsídio de desemprego e todas as consequências que daí virão», lembra Artur Ribeiro, apontando ainda o problema das chamadas “novas rendas” tabeladas pelo boom turístico.
Neste caso, o responsável sugere dividir o esforço por três: o senhorio descontava 30%; o Estado abdica de 28 ou 20% da retenção; e as empresas de electricidade, gás e água faziam um desconto também de 30%.
«Há empresas a pagar três mil e tal euros de luz, sem facturar o suficiente. As Câmaras Municipais podiam também dar um contributo, vindo da taxa turística já recebida. Enfim, os restaurantes não podem continuar abertos sem clientes, os gastos fixos são enormes», conclui.
Texto de Filipa Almeida