Reset no consumo: há quatro novas tendências da Nielsen

No primeiro trimestre do ano, as vendas de desinfectante para as mãos, alimentos básicos e produtos de limpeza, entre outros, dispararam face à propagação da COVID-19. Neste momento, já não se verifica uma corrida tão significativa a este tipo de produtos, mas há outras tendências que vieram para ficar, garante a Nielsen.

De acordo com a consultora, a relação entre as vendas de bens de grande consumo (FMCG) e o aumento de casos de COVID-19 foi evidente durante o primeiro trimestre do ano, mas desde então tem vindo a dissipar-se. «Isto não significa, contudo, que os consumidores tenham recuado na compra deste tipo de bens. Significa apenas que a sua compra já não é o reflexo das notícias sobre o aumento das taxas de transmissão do vírus», esclarece a Nielsen.

Apesar de já não reagirem de forma tão directa às noticias sobre a pandemia, há neste momento uma nova realidade de consumo, que resulta de um reajuste comportamental dos consumidores, agora menos confiantes sobre o futuro. «Os consumidores, quer se encontrem empregados ou não, estão menos optimistas acerca do futuro. Esta cautela vai obrigar a reconciliar hábitos de compra adoptados ao longo dos últimos anos com uma nova realidade em que a saúde e o valor percepcionado nos produtos são os factores prioritários», sublinha Scott McKenzie, responsável pela Intelligence Unit da Nielsen.

Nesse sentido, a Nielsen identificou quatro padrões que podem ajudar a prever os factores que vão pesar na decisão de compra no futuro:

Cesta de compras em transformação (basket reset) – É expectável que os consumidores avaliem cuidadosamente os produtos que fazem parte da sua cesta de compras, uma vez que cada vez mais se revelam incapazes de manter o nível de despesas do passado. O “essencial” é reconsiderado no acto de compra;

Reorientação para o consumo em casa (homebody reset) – Ao longo de meses passados em casa, os consumidores abraçaram uma mentalidade de do-it-yourself (DIY) relativamente ao consumo. «Em cada lar nasceram padeiros, pasteleiros, barbeiros, cabeleireiros e chefs de cozinha. E mesmo que grande parte das restrições ao movimento tenham cessado, alguns destes hábitos vieram para ficar, transformando também o comportamento de compra dos consumidores», frisa a Nielsen. E garante: «as marcas que conseguirem potenciar a descoberta e aprendizagem do comportamento DIY vão ser bem-sucedidas.»;

Novo racional de compra (rationale reset) – 77% dos portugueses afirmam ter alterado os seus gastos de forma a poupar nas compras para a casa (contra apenas 66% da média europeia). De acordo com os dados da Nielsen, o vestuário (54%) e o entretenimento fora de casa (54%) são as categorias onde os consumidores portugueses mais estão dispostos a poupar. «Os bens de grande consumo passarão a ganhar um novo significado e a ser uma forma de preencher o vazio deixado por estas poupanças», antevê a consultora.

Repensar o valor dos produtos (affordability reset) – Desde o início da pandemia, assistimos a reduções significativas no nível de promoções em todo o Mundo, nomeadamente em Portugal. «A ausência recente de actividade promocionada normal leva a um momento importante e histórico no qual as marcas poderão reequacionar a sua abordagem de forma mais eficiente», aconselha a Nielsen. Mas alerta: «as marcas e retalhistas que se mostrarem incapazes de oferecer produtos que se possam ajustar a uma disponibilidade financeira mais limitada e a sensibilidades acrescidas a respeito de preço podem perder tracção a longo-prazo junto de consumidores essenciais para assegurar o seu negócio.»

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