Quatro ou cinco palavras sobre o Pedro Bidarra

Se o leitor me permite, começo o texto com um desafio. Peço-lhe que faça um exercício mental rápido e tente completar a seguinte frase:

“Gente inteligente compra no…”

Pois é. Ainda ninguém inventou uma tecnologia melhor do que as palavras para ajudar uma marca a ficar na memória.

Este ano, a Folha em Branco do Clube de Criativos é sobre o Pedro Bidarra. Por duas razões: pela importância que as palavras têm na comunicação e pela importância que o Pedro Bidarra teve na publicidade portuguesa.

A Folha em Branco é uma oferta que o Clube de Criativos faz aos sócios. É um caderno de notas e inclui um pequeno portefólio de alguém cujo trabalho criativo queremos homenagear, fora do festival e dos rankings.

A Folha em Branco de 2020 é uma homenagem às palavras do Pedro Bidarra porque, ninguém como ele, na publicidade portuguesa recente, conseguiu tatuar tantas frases na nossa memória, e com uma tinta tão resistente ao tempo. Novidades, novidades, é no Continente. Bimbo, com muito gosto. Santal, filho da fruta. Será do Guaraná? Quem sabe, sabe e o BES sabe. Portugal, a costa oeste da Europa. Os exemplos são muitos, e é importante recordar que o Pedro está por trás de todos eles, sobretudo se o leitor tem menos de 30 anos e começou a trabalhar agora, em tempos de media fragmentada e de dificuldades acrescidas em chegar às pessoas.

Cada uma dessas frases de apenas quatro ou cinco palavras traz dentro de si uma ideia, traz um pensamento, um ponto de vista original que mudou a forma como víamos uma marca. Mas cada uma dessas frases conta também como a fasquia era alta, para o Pedro e para todos os que trabalhavam com ele.

A homenagem às palavras do Pedro é inevitavelmente uma homenagem à sua ambição criativa. Leia-se a entrevista que incluímos no livro e veja-se o vídeo que lançaremos também em Fevereiro, com testemunhos de alguns dos que ele ajudou a formar.

Em cada frase que escreveu para o BES, para o Continente ou para a ZON, contam-se grandes ambições. Começa sempre pela ambição de tratar o consumidor com inteligência. Fugir a sete pés da mediocridade. Mais a ambição de ser relevante, para as pessoas e para a marca. A ambição no processo de trabalho, recusando muitas ideias até chegar a algo com valor. Mais a ambição na venda ao cliente, onde se evitava o facilitismo, as soluções de compromisso e a diplomacia, em favor de resolver melhor o problema. A ambição na produção, para que o bom ficasse muito bem feito. E a ambição até na auto-estima, defendendo com unhas e dentes aquilo que se fazia bem e fazendo-se cobrar por isso. Esse querer fazer bem do Pedro Bidarra, nesta profissão que é a nossa, é uma coisa que não é só nossa, de criativos para criativos, mas sim algo que traz valor a todos, consumidor, cliente e marca.

Experimente ler, caro leitor. Está tudo lá escrito. Cada frase daquelas só tem quatro ou cinco palavras, mas conta tudo.

Susana Albuquerque
Directora criativa da Uzina

Artigo publicado na edição n.º 283 de Fevereiro de 2020

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