Pessoas ameaçam nova rede social, Threads

Por João Cardoso, Brand strategist no erb’s creative studio

Descartes dizia que o bom senso era a coisa mais partilhada do mundo. Se dúvidas houvesse, com esta frase perceberia que na altura não havia Internet.

Foi na semana passada, num dos primeiros dias de sol deste mês, que chegou a Portugal a nova rede social, Threads (ou Tréds, como se diz por cá).

Não vou comentar semelhanças com a rede X, porque disso está a web cheia. Já sabemos. Não é preciso continuar a bater nessa tecla, nem para efeitos de SEO. Ao invés, vamos falar dos utilizadores, eu incluído.

É incrível como as pessoas se apressam a entrar numa nova rede, em busca de algo novo, procurando a liberdade de expressão na sua plenitude, e esperando que existam restrições das plataformas que as protejam das pessoas cruéis com as quais se verão obrigadas a partilhar o espaço.

“Pode meter o perfil privado.” — afirmam os especialistas. É verdade, mas perderia o vislumbre da fama. Por isso, e para que possamos continuar a afagar o ego, só nos resta ser fortes ou não ceder à tentação de dizer… coisas.

Confesso que, apesar da estupidez que me é inerente, costumo ser minimamente controlado nos conteúdos que publico. Isso prova-se constatando que nunca recebi grandes ameaças. Com o Threads sinto esse controlo a desvanecer. “O Twitter já era assim.” — alguém me disse. É verdade, mas no Twitter tinha 17 seguidores e 15 eram bots. Já o Threads importou os meus followers (para usar um termo mais fancy), do Instagram.

Esta rede trouxe-me (e acredito que a muitos) um misto de sensações. Uma vontade enorme de ver o que se passa no novo sítio da moda, seguida de raiva e aborrecimento pela quantidade de publicações que dizem “Primeiro post da rede social” e um medo muito grande de vir a ser cancelado ao fim dos primeiros 3 comentários. O Nuno Markl comentou no sábado que aguentaria a rede até começar a sentir o cocó. Por esta altura, já deve ter saído.

Permita-me clarificar uma coisa. O problema das plataformas onde criamos redes sociais, não são as plataformas, são as pessoas. Se viver numa casa com pessoas tóxicas e mudarem todos juntos para uma outra casa, o ambiente será o mesmo. Aqui não é diferente. A toxicidade salta de rede em rede, como que o Super-Mário para apanhar moedas. Deixe-me guiá-l@ pela evolução das mais famosas plataformas da toxicidade que a história do milénio já viu.

O Facebook é hoje a rede social dos familiares mais antigos, o Instagram é a rede de quem ainda conhece os Ramones mas que já não sabe bem fazer contas em escudos, o LinkedIn é a rede delatora da década, o TikTok a das danças palermas e #fakebody, o X a rede social do Musk, o YouTube é a rede de pessoas demasiado energéticas e infoprodutores, o Pinterest é a personificação de “Steal like an Artist”, o WhatsApp é um cemitério de grupos de pessoas que se conhecem mais ou menos e stickers obscenos, a ClubHouse é a rede social que nunca foi. O Threads? Digo-lhe daqui a um mês.

Mas todas elas têm algo em comum. Pessoas. De gerações diferentes, é verdade. Mas existe mais em comum entre a partilha de um ditado popular cansado, de uma dança ao estilo do Ragatanga (asereje) e de uma foto com #Sundays do que se pode crer à primeira vista.

Não são as plataformas que ameaçam a sanidade das pessoas, são as pessoas que ameaçam a integridade das plataformas. Nas palavras de Jean-François Marmion, “somos todos estúpidos ocasionais”. Nas redes, ocasionalmente, com mais frequência.

Talvez a solução para as redes sociais deixarem de ser tóxicas e vazias fosse retirar as pessoas da equação. Na impossibilidade de isso acontecer, deixo-lhe uma recomendação de Frederico Pombares, que acredito poder fazer algum sentido.

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