Pedro Pires: «Falta-nos sair da trincheira e voltar a colocar a cabeça de fora»

pedro piresArranca hoje o XVI Festival de Criatividade do CCP – Clube de Criativos de Portugal, que este ano será dividido entre o Palácio Quintela/IADE e a ETIC, em Lisboa. Exposições, conferências, workshops e prémios recheiam o cartaz do festival, que até ao próximo dia 18 pretende fazer incidir uma luz sobre os “Novos Caminhos” da comunicação comercial em Portugal.

Ao longo de todos os dias do festival, que este ano é subordinado ao tema “Novos Caminhos, Boa Viagem”, podem ser visitadas no Palácio da Quintela/IADE as exposições de ilustração (com curadoria de Jorge Silva), copy art (com curadoria de Marco Dias), fotografia (com curadoria de Pedro Ferreira) e a exposição de design industral “Material Matters” (com curadoria Ocyan/CCP). A estas experiências junta-se a curadoria musical da Bloop, que contará com a presença de cinco Djs seleccionados em concurso.

Nos dias 15 e 16, terão lugar as Conferências da Boa Viagem, no espaço Atmosferas da ETIC, que irão contar com a participação de alguns dos melhores directores criativos e criadores portugueses. No dia 17 será realizada a Grande Gala, onde serão premiados os melhores trabalhos nas oito categorias a concurso, a que se juntam o Grande Prémio para o Bem e o Grande Prémio dos Jornalistas. O cartaz completo pode ser consultado no blogue do Festival.

Apesar da ligeira quebra das inscrições – com um decréscimo mais visível nas categorias tradicionais em publicidade, como imprensa e outdoor -, este é um evento que pretende, acima de tudo, estimular a criatividade, promovendo um regresso às origens. «Falta-nos sair da trincheira e voltar a colocar a cabeça de fora no que ao marketing e à comunicação comercial diz respeito. O desinvestimento foi muito grande nos últimos anos e ele veio acompanhado de uma mentalidade essencialmente defensiva. Está na hora de voltarmos ao ataque e acreditar nas boas ideias», afirma em entrevista à Marketeer Pedro Pires, presidente do CCP.

O que podemos esperar da edição deste ano do Festival de Criatividade do CCP?

Uma boa viagem criativa. Podemos esperar a mesma vitalidade que se assistiu o ano passado. Uma semana que serve para procurarmos inspiração nos outros. Uma semana de verdadeiro Creative Jam, art directors, copys, ilustradores, designers, fotógrafos, realizadores, agências e ateliers, escritores, artistas plásticos, jornalistas, entre outros.

Qual a evolução ao nível de inscrições e prémios atribuídos em relação à edição do ano passado?

Tivemos um decréscimo que consideramos pouco significativo. No ano passado tivemos cerca de 700 inscrições e este ano perto de 650. Pelo primeiro ano, as inscrições em Digital superaram as de Publicidade, e as de categorias mais tradicionais em Publicidade, como imprensa e outdoor, sofreram um decréscimo visível.

As inscrições em Relações Públicas também cresceram, assim como a qualidade do trabalho. Em Meios e Marketing Relacional, houve estabilidade face a anos anteriores, sendo que no Marketing Relacional existe um crescimento nítido da componente digital, confirmando a tendência dos últimos anos. No Design, este ano verificaram-se mais inscrições na categoria de marca e/ou rebranding, o que é sempre um bom sinal de vitalidade do mercado. Já em Activação parece ter existido um ligeiro decréscimo de inscrições.

Estamos ainda a apurar os números finais, e no final do festival podermos apresentar números mais definitivos.

A quebra dos investimentos levou a uma menor qualidade dos trabalhos apresentados? Ou, pelo contrário, obrigou a um exercício de criatividade ainda maior?

O que temos observado nos últimos dois anos é um refúgio em receitas mais conservadoras do ponto de vista da execução e ousadias criativas. Claro que há excepções louváveis que percebem o momento e agarram a oportunidade de se diferenciar num momento em que todos estão a tentar ser iguais na defesa de território conquistado. Por outro lado, não se pode fazer uma ligação directa entre custo e criatividade, pois as campanhas ou marcas mais criativas não são obrigatoriamente de quem mais investe. Em Portugal há muitos bons exemplos na última década de marcas com grande notoriedade e investimento reduzido. E é aqui que se nota o poder da criatividade. E isso nota-se em alguns dos projectos apresentados este ano.

Depois do “Desconforto”, o Festival de Criatividade do CCP regressa este ano sob o mote “Novos Caminhos, Boa Viagem”. O que levou o Clube a escolher este tema? Existe algum fio condutor entre o tema desta edição e o tema do ano passado, o “Desconforto”?

O desconforto foi a inspiração que nos levou a procurar novas áreas de intervenção para o clube durante 2013. “Novos caminhos, Boa Viagem” é um tema que nos enquadra neste contexto particular em que vivemos.

Com a crise a assumir protagonismo, é difícil prever o futuro. O que vai acontecer à criatividade comercial num contexto de redução de investimento e procura de soluções rápidas? Qual o valor da criatividade ? Qual o futuro da profissão criativo? Onde vão estar os criativos do futuro? O que vão fazer?

Qualquer acto criativo é uma viagem, da qual à partida não se sabe por onde começar e da qual não se conhece ainda totalmente o destino. Boa viagem é um desejo de sucesso, um incentivo perante a adversidade, uma inveja boa, um voto de enriquecimento.

Que “novos caminhos” existem para a indústria nacional da comunicação comercial e serão debatidos ao longo do festival?

Os novos caminhos serão debatidos durante as conferências. O tema da “Boa viagem” é um espécie de retorno à base, de apelo a que as ideias voltem a ter valor, a que possamos sair debaixo do “monstro da crise” reforçados em termos criativos.

Qualquer previsão do futuro é difícil, num momento da história do mundo onde tudo parece acontecer num nano segundo, e aquilo que a todos nos parece seguro, muda sem avisar.

O futuro da comunicação comercial está aí já e nota-se também nos Festivais. As categorias de digital e ativação ganham cada vez mais espaço, o design vai afirmando alguma estabilidade e algumas das categorias tradicionais, como a imprensa e a rádio perdem protagonismo criativo e volume.

Falta-nos sair da trincheira e voltar a colocar a cabeça de fora no que ao marketing e à comunicação comercial diz respeito. O desinvestimento foi muito grande nos últimos anos e ele veio acompanhado de uma mentalidade essencialmente defensiva. Está na hora de voltarmos ao ataque e acreditar nas boas ideias. Se estivermos predispostos a isto e se entendermos verdadeiramente a importância e a oportunidade de uma boa ideia os meios aparecem e as ideias adaptam-se quando estes não existem.

E que papel é que o CCP tem vindo a assumir na construção deste novo futuro, em parceira com os seus associados?

A nossa intenção é fortalecer o sentimento de pertença da classe. Unir cada vez mais pessoas à volta da criatividade, fazê-las sair do sofá e levá-las a participar. Tem a ver com encontrar espaços de partilha e colaboração fora das estruturas competitivas e é isso que o CCP tem tentado fazer, e ajudar a reencontrar o espaço de poder dentro das agências e dos ateliers, demasiado ocupados em perceber como vão sobreviver. Por outro lado, o CCP existe também para que as agências encontrem um espaço de se promoverem e ganharem visibilidade. Este match entre criatividade, agências, marcas e criativos e o reconhecimento da sua importância no negócio é a maior motivação que podemos ter.

Texto de Daniel Almeida

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