Publicidade em Saúde. Quais os efeitos secundários da pandemia?
Susana Teixeira, sócia e directora-geral da Icebergue
A pandemia faz parte das nossas vidas há sensivelmente nove meses. Tempo a mais para a nossa saúde e economia, tempo a menos para ditar uma nova era. A pandemia foi, isso sim, um acelerador de partículas de uma realidade que já vinha aí. E na comunicação em Saúde aconteceu o mesmo.
Para a indústria farmacêutica, a impossibilidade da existência de uma proximidade física alterou muito a lógica instituída. As visitas dos delegados deixaram de poder ser feitas. Os congressos, nos moldes em que os conhecíamos, desapareceram e os eventos também. As próprias reuniões de ciclo internas tiveram de ser repensadas. A migração para o digital acelerou-se drasticamente. Começaram a surgir mailshots em catadupa, filmes digitais, webinars, eventos digitais e aí por diante. De certa forma, uma vez mais, assistimos à nossa infinda capacidade de adaptação a uma nova realidade. O célebre “desenrasquismo” português foi muito útil. De um momento para o outro, planos de Marketing que demoraram meses a fazer foram revistos para se adaptar a uma realidade da qual ainda não conhecíamos todos os contornos.
Por outro lado, existiu uma procura muito interessante do “ovo de Colombo”, isto é, de um novo formato, se possível, até agora não pensado, que permitisse restabelecer algumas das pontes de comunicação perdidas com a pandemia. Marcas houve que criaram apps de contacto regular, outras implementaram prémios na área de Saúde, de forma a terem novos elos de ligação com o seu target, fazendo-se lembrar.
A criação de conteúdos originais e relevantes, veiculados a nível digital, também fervilhou. O reconhecimento do esforço dos profissionais de Saúde durante o período da pandemia foi outro tema muito abraçado pelas marcas. E um sem número de outras iniciativas aconteceram como resposta a esta situação.
Agora, pergunto-me e pergunto-vos: passada a tempestade, o que ficará? Irá o paradigma da comunicação mudar na área da Saúde ou nas outras áreas? Não creio. Nem tudo ficará na mesma, mas nem tudo será diferente. O digital ganhará alguma força, mas não tanta como tem actualmente. Vamos atingir um ponto de equilíbrio que subsistirá por algum tempo.
Também assistiremos ao surgir de temáticas ligadas à lógica de organização do nosso sistema de Saúde. Os tratamentos que não foram feitos, as operações que foram adiadas e os rastreios que não foram organizados vão originar mais campanhas de awareness para problemas como as doenças cardiovasculares, o cancro, a diabetes, entre outras. Temos de recuperar o tempo perdido junto de quem sofre destas doenças.
O teletrabalho também veio para ficar e, com isso, novos hábitos de comunicação se instalam a título mais definitivo. No entanto, não era nada que não estivesse em marcha. Uma marcha lenta, mas uma marcha.
Passados os ventos fortes e descoberto o Sol, será que vamos voltar a construir casas de palha?