O medo do esquecimento

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Porque corres esses quilómetros todos por dia?, perguntava-me um amigo, há uns tempos. Porque sou feliz a fazê-lo e, tanto, para não me esquecer do que sou e sou capaz! A minha corrida não é de maratona, mas é, muito, pela vida.

Vem tudo isto a propósito do actual estado de marcas, que se movimentam e actuam como se tivessem medo de ser esquecidas. Com estratégia ou falta dela, inventam e criam eventos em sprints frenéticos de chamada de atenção. Mas sem aquecimento prévio ou alongamento posterior, que é como quem diz, sem cuidar se essa é atenção que ficará na memória de quem querem.

Há dias e semanas em que as agendas de jornalistas precisariam não do dobro, mas do triplo de horas, para cumprir convites ou garantir presença no número infindável de apresentações. Se todas fazem sentido? Algumas delas farão com certeza!

Claro que com tantas empresas a disputar a atenção dos consumidores, percebe-se por que é que sentem a pressão de se manterem relevantes e presentes. Tanto mais que sabem que a quota de memória do consumidor é bombardeada com um leque infindável de informações e opções de compra, além de que o ambiente competitivo multiplicou a sua complexidade por 100 com o crescimento dos media sociais.

Uma corrida fica na memória do nosso corpo. Até podemos estar meses sem o fazer e ter dificuldade em recomeçar, mas em pouco os músculos recordam trabalhos passados e voltam a mostrar do que são capazes.

Agora, e o mercado e os consumidores? Conseguem reter e incorporar tudo o que as marcas fazem? As que souberem superar o “medo” e encontrar os passos, ritmos, cadências e tempos certos para permanecerem relevantes e inesquecíveis serão aquelas que, no futuro, continuarão a cruzar as rectas das metas!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 323 de Junho de 2023

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