Marketing sobre rodas: o impacto da condução autónoma

Por João Gonçalves, CTO da Critical TechWorks

O carro autónomo é um tema cada vez mais comum na sociedade actual e que, com o trabalho desenvolvido por equipas altamente especializadas espalhadas um pouco por todo o mundo, incluindo Portugal, se torna progressivamente uma realidade mais próxima. Na verdade, já é possível ver alguns carros autónomos a circular. Alguns em ambientes controlados, outros já em ambientes reais com supervisão. No futuro, espera-se que seja mesmo acessível ao público em geral – todos terão acesso ao seu próprio condutor movido por inteligência artificial.

Talvez movido pela necessidade do mercado de trabalho de utilizarmos melhor o tempo que passamos à frente do volante – seja nas demoradas filas de trânsito ou em longas viagens de autoestrada –, este novo paradigma, em que estamos a ser transportados dentro de um espaço que nos pertence, abre uma miríade de possibilidades que ainda não foram exploradas.

Acima dos desafios técnicos, que passam, por exemplo, por ter a total garantia de que há sempre alternativas para caso um dos sistemas falhe, estão os desafios sociais. É seguro assumir que um veículo autónomo que foi configurado para ser conduzido num país europeu não terá a mesma configuração de um carro que se deslocará em estradas asiáticas, porque os comportamentos são totalmente diferentes em cada país. Este é o nosso principal desafio na construção desta tecnologia: a imprevisibilidade do comportamento humano.

Mas é também com base nas alterações que esta tecnologia vai trazer ao nosso comportamento que novas indústrias vão ganhar tracção dentro dos habitáculos, tendo em especial consideração que a tecnologia disponibilizada nos carros não servirá apenas para nos mover, mas, num universo cada vez mais conectado, servirá também para comunicar com os mais diversos sistemas que rodeiam a nossa vida.

Vamos imaginar que está numa longa viagem com o seu carro eléctrico e que a meio do percurso tem de parar num posto de carregamento. No ecrã do seu carro poderá ver, mesmo antes de chegar a esta paragem, quais são as lojas locais abertas nas imediações do carregador e, triangulando a informação geográfica disponível com a sua lista de compras, poderá ter acesso às superfícies comerciais que mais se adequam às suas necessidades. Esta actividade poderá ser feita ainda antes de entrar no carro, já que, num futuro próximo, poderá planear todos os factores de uma viagem a partir da app do seu smartphone, de forma a procurar um posto de carregamento que esteja perto de um local que precise de visitar. Neste exemplo, as lojas que disponibilizarem informação aos fornecedores tecnológicos e decidirem investir em campanhas que melhor impactem estes condutores terão um novo veículo de atracção e interacção com os consumidores.

O mesmo se poderá aplicar a restaurantes. Depois de fazer uma reserva, poderá dar acesso ao serviço informático disponibilizado pelo seu restaurante de eleição para o staff ficar a saber o tempo estimado de chegada. Desta forma, assim que chegar, terá a mesa do costume já com as entradas que pediu pela interface do seu carro no caminho até ao restaurante. Noutros sectores, como o caso da restauração, a condução autónoma e conectividade dos veículos não só vão servir para atrair novos clientes, como também para os fidelizar. Noutro prisma, em ocasiões especiais, como celebrações de aniversários de pessoas próximas, os carros poderão sugerir actividades e localizações com base na informação disponibilizada sobre o aniversariante.

Aliando a ubiquidade do 4G, e de futuro do 5G, poderemos também explorar outras formas de entretenimento a bordo nas viagens mais longas. Cada vez mais se torna comum a disponibilização de planos de dados ilimitados, possibilitando assim um conjunto adicional de serviços em mobilidade. Aliando esta realidade a um conjunto de produtos de transmissão de conteúdos já existentes no mercado, poderemos criar parcerias com o objectivo de oferecer um conjunto de opções a bordo ao utilizador que tenham em vista tornar as viagens mais relaxantes.

A geolocalização, a segmentação eficaz do público, a informação, o tempo que será libertado pela condução autónoma e as sinergias entre diferentes áreas tecnológicas são cinco factores fundamentais que vão contribuir muito para o crescimento desta nova realidade. Tal como os smartphones alteraram o marketing por completo, prevê-se que os carros inteligentes passem a ser a próxima plataforma a revolucionar a forma como os marketeers se distinguem da concorrência, atingindo cirurgicamente o público-alvo das marcas que trabalham.

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