Marketing e Igualdade: O Verdadeiro Significado do Dia da Mulher

Texto de Lídia Moreira, diretora de Marketing, Comunicação & Sustentabilidade de Soja de Portugal

Num mundo que avança para a igualdade de género, celebrar o Dia Internacional da Mulher ainda faz sentido? A procura pela equidade trouxe inúmeras conquistas, mas também gerou confusões sobre o que significa, na prática, ser igual. A dualidade entre direitos e reconhecimento social levanta questões sobre tradições de cortesia, como abrir uma porta, andar do lado de dentro do passeio ou simplesmente elogiar a feminilidade.

A psicologia e a sociologia indicam que os papéis de género sempre foram construídos culturalmente. Desde os tempos ancestrais, as mulheres eram protegidas e valorizadas pela sua fragilidade física, enquanto os homens assumiam o papel de protetores. Durante séculos, a mulher era responsável pelo lar e pela educação dos filhos, enquanto o homem tinha a obrigação de garantir o sustento da família. Esse modelo tradicional, apesar de refletir os valores da época, limitava a participação feminina na sociedade e no mercado de trabalho.

Com a Revolução Industrial e, posteriormente, com os movimentos de emancipação, as mulheres conquistaram direitos essenciais, demonstrando que a sua capacidade de trabalho, liderança e inovação não é inferior à dos homens. Grandes mulheres líderes, como Margaret Thatcher, Angela Merkel e Michelle Obama, entre muitas outras, provaram que a mulher tem tanto potencial quanto qualquer homem para gerir nações, liderar empresas e influenciar mudanças sociais.

A consagração dos direitos das mulheres na Carta das Nações Unidas, em 1945, foi um marco fundamental para o reconhecimento da igualdade de género a nível global. Desde então, diversas convenções internacionais reforçaram a importância da equidade entre homens e mulheres, garantindo direitos políticos, laborais e sociais fundamentais. No entanto, apesar dos avanços legais, ainda há muitos desafios estruturais e culturais a superar, principalmente nos países de 3ro mundo.

Hoje, assiste-se a um paradoxo: luta-se por igualdade, mas muitas mulheres ainda apreciam gestos de cavalheirismo, enquanto muitos homens, com receio de serem mal interpretados, optam por evitá-los. Lanço a questão, será que a igualdade de direitos deve anular a elegância e a cortesia? A socióloga Eva Illouz, diz  que “a igualdade não significa a anulação das diferenças, mas a valorização mútua dentro da diversidade”. Já a psicóloga Jordan Peterson argumenta que a igualdade extrema pode apagar aspectos essenciais da identidade feminina, como a graciosidade.

A questão que se coloca é: será que estamos melhores? O avanço da mulher no mercado de trabalho, na política e na ciência é inegável. No entanto, há perdas invisíveis na forma como nos relacionamos. O desaparecimento de gestos simples, outrora sinais de respeito e admiração, evidencia uma mudança de paradigma onde a gentileza pode ser confundida com assédio.

O Dia da Mulher, inicialmente criado para destacar a luta pelos direitos femininos, tornou-se também uma data de forte apelo comercial. Muitas marcas aproveitam o simbolismo do dia para promover os seus produtos e serviços, muitas vezes sem um verdadeiro compromisso com a causa. O marketing transformou esta celebração numa oportunidade para campanhas publicitárias que, por vezes, esvaziam o seu real significado. A valorização da mulher deve ir além de ofertas e promoções temporárias, traduzindo-se em políticas concretas de inclusão e equidade no ambiente de trabalho e na sociedade.

Empresas como a Nike e a Dove investem em campanhas que promovem a força e a diversidade da mulher, reforçando mensagens de power e autenticidade. Outras marcas, como a L’Oréal e a Chanel, destacam a elegância e a sofisticação femininas, alinhando as suas estratégias a um conceito mais clássico de beleza e feminilidade. No entanto, há marcas que se limitam a oferecer descontos e brindes sem um verdadeiro impacto na causa, transformando o Dia da Mulher numa mera ação de marketing sem substância.

Recuperar a beleza, a classe e a graciosidade da mulher de outros tempos não significa abdicar de direitos ou regredir. Significa compreender que igualdade não é sinónimo de uniformização. Há valor na diferença, e o respeito pode coexistir com a delicadeza. Celebrar o Dia da Mulher continua a ser relevante não apenas para recordar conquistas, mas para refletir sobre a evolução da feminilidade e o impacto social das mudanças que vivemos. Afinal, a verdadeira igualdade reside na liberdade de escolha, sem perder o encanto daquilo que nos torna únicos.

Como dizia Yves Saint Laurent, “sem elegância no coração, não há elegância.” Carolina Herrera reforça essa visão ao afirmar que “a elegância não é apenas uma questão de aparência, é uma atitude” e “a feminilidade e a elegância são intemporais”. A verdadeira beleza de uma mulher reflete-se na forma como ela se comporta, se expressa e trata os outros. A elegância não está apenas na estética, mas na confiança e na forma como nos relacionamos com o mundo. A solução está em encontrar um ponto de equilíbrio entre a força e a delicadeza, sem perder aquilo que torna a feminilidade tão única e intemporal.

 

 

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