Lisboa volta a ser a melhor cidade para Negócios, Viver e Visitar

Estão apurados os resultados da 8ª edição do Portugal City Brand Ranking do Bloom Consulting. Trata-se de um estudo que analisa os melhores municípios para negócios, para visitar e para viver, a nível nacional, mas também por região (Açores, Alentejo, Algarve, Centro, Lisboa, Madeira e Norte).

Os resultados e posições dos municípios no Ranking resultam de uma análise baseada em dados quantitativos estatísticos e digitais. Esta edição fica arcada pelos primeiros passos no progressivo retorno à normalidade, esperando a Bloom Consulting que o turismo, os negócios e as movimentações de talento voltem aos níveis registados antes da pandemia.

As “Marca Estrela” – designação dada a municípios que apresentando resultados de topo conseguem destacar-se nas diversas Dimensões e regiões de Portugal – desta edição do Portugal City Brand Ranking são Setúbal (a nível nacional), Vila Nova de Gaia (na categoria Viver), Albufeira (na categoria Visitar), Braga (na categoria de Negócios). Quanto às “Marcas Estrela” por região destacam-se São Roque Pico (Açores), Santarém (Alentejo), Castro Marim (Algarve), Covilhã (Centro), Seixal (Lisboa), Machico (Madeira) e Matosinhos (Norte). Já no que respeita à população, destaca-se Vila Real (<50 mil habitantes), Arouca (<25 mil habitantes) e Idanha-a-Nova (<10 mil habitantes).

No ano em que ascende ao 8º lugar na Madeira, Porto Moniz é o município quem mais cresceu nas pesquisas proactivas, sendo em %, o maior crescimento registado desde a 1ª edição do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking e a primeira vez que o município que mais cresce vem de uma das Regiões Autónomas. Este foi um crescimento transversal à maior parte dos temas na dimensão do Turismo, destacando-se as Actividades Gastronómicas, Aquários, Parques e Restaurantes.

A Madeira (+47%) e os Açores (+45%) foram as regiões portuguesas que maior crescimento apresentaram nesta edição em que o Funchal escala à 8ª posição nacional e Ponta Delgada volta ao Top 25 nacional. Pela primeira vez desde o início da pandemia, todas as regiões de Portugal apresentaram variações positivas no que diz respeito às pesquisas proactivas por parte de estudantes, trabalhadores, turistas, investidores e cidadãos de todo o mundo.

Com temas relacionados com Natureza, Parques e Aventura e Ar Livre a protagonizar as maiores subidas ao longo dos últimos anos, em 2021 o tema que registou maior crescimento (com mais de 1 milhão de pesquisas anuais sobre os 308 municípios portugueses) foi “Jardins”, o que revela que a tendência dos turistas que procuram os municípios portugueses para as suas próximas férias a procurarem experiências ao ar livre. Para além do tema “Jardins” – que cresceu 64% e ganhou destaque nesta edição – cresceram as pesquisas sobre “Parques de Diversão” (63%) e “Mercados Tradicionais” (59%), seguidos de “Desigualdade e Intolerância” (49%). No que diz respeito às maiores descidas, destacam-se o “Setor Automóvel” (-37%), “Caça” (-33%) e Alojamento para Famílias (-10%).

Lisboa, Porto e Cascais lideram

Mais uma vez, Lisboa afirma-se na liderança do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking, mantendo o lugar alcançado na primeira edição do estudo em 2014. A capital do País continua a destacar-se em todas as dimensões e em grande parte das variáveis em estudo, afirmando-se como a marca municipal mais forte de Portugal, com uma forte projecção internacional para turistas, investidores, estudantes e profissionais e rivalizando com outras grandes cidades europeias. Em 2º lugar fica o Porto, seguindo-se Cascais em 3º. Em 4º surge Braga, em 5º Coimbra e Vila Nova de Gaia na posição que se segue. Logo depois de Sintra (7º), o Funchal, volta ao 8º lugar na tabela nacional que já ocupou na edição de 2016. Já Setúbal, que na passada edição não fez parte do Top 10 nacional, volta ao cimo da tabela, com uma escalada de 4 posições para o 9º lugar, repetindo a sua melhor classificação, alcançada em 2019. Nesta edição, Aveiro foi o único município do Top 10 a perder terreno e ainda conseguiu manter-se entre os melhores desempenhos de marca no país. O município do Centro não resistiu às ascensões de Funchal e Setúbal. A fechar o Top 10, fica Aveiro. Faro, que tem sido presença constante desde a edição de 2016 do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking, desce ao 11º lugar, ficando nesta edição de fora deste Top 10.

Acompanha a conversa com Filipe Roquette, diredtor-geral da Bloom Consulting Portugal, sobre as mudanças que se estão a sentir na vida das cidades.

De que maneira as alterações provocadas pela pandemia estão a impactar este ranking em Portugal?

O Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking foca-se no desempenho das Marcas dos 308 municípios portugueses em três dimensões específicas: Turismo (Visitar), Investimento & Exportações (Negócios) e Talento (Viver). Se por um lado o Turismo foi a indústria mais afectada pela pandemia, esta provocou também grandes alterações na forma e nas prioridades dos investidores, das empresas, dos estudantes, dos trabalhadores e das famílias em todo o mundo.

Esta mudança de paradigma, teve assim um grande impacto nos resultados dos municípios em todas as variáveis analisadas, desde os dados estatísticos – em que a realidade desta transformação se traduziu em grandes variações – e na procura proactiva manifestada através de pesquisas online, onde a estratégia de atracção de turistas, investidores, empresas, famílias, estudantes, trabalhadores e cidadãos em geral, as medidas tomadas e as mensagens transmitidas foram decisivas no impacto das marcas dos municípios.

Na edição anterior do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking e no estudo anexo sobre o impacto da pandemia nas marcas portuguesas analisámos uma clara dicotomia entre os municípios que mostraram estar preparados para oferecer condições de segurança e uma imagem de estabilidade aos seus públicos-alvo. Na edição de 2021, foi o Alentejo a única região onde se registou crescimento, com muitos municípios alentejanos a posicionarem-se como uma alternativa segura para viver e investir face aos polos urbanos tradicionais e aos destinos “de referência” para os turistas nacionais e internacionais.

Nesta edição continuamos a perceber que estes efeitos continuam a manifestar-se nos públicos-alvo nacionais e internacionais dos municípios portugueses, com os municípios da Madeira (+47%) e Açores (+45%) a liderarem os maiores crescimentos na procura proactiva total, sendo Porto Moniz o município que mais cresceu em termos de pesquisas online. Entre as muitas subidas e descidas no ranking desde o início da pandemia, percebemos que houve um impacto muito positivo no desempenho dos municípios de pequena e média dimensão que souberam prepara-se e posicionar-se como alternativas viáveis aos territórios que por norma absorviam grande parte do interesse de turistas, investidores e talento.

No entanto, este “status quo” é tão volátil como tem sido a evolução da pandemia nos últimos dois anos e é essencial que os municípios que têm vindo a gozar de um novo estatuto mais competitivo apostem em estratégias a longo prazo, medindo o impacto das suas acções e criando projectos que vão muito além de ser uma alternativa temporária a outros territórios.

Sente-se neste ranking um desencanto pelas cidades de maior dimensão?

Se por um lado, a presente edição – na sequência do que já se registava na edição de 2021 – do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking demonstra uma clara ascensão de municípios de menor dimensão, percebemos que municípios como Lisboa, Porto, Braga, Coimbra ou Cascais continuam a dominar no que diz respeito à sua atractividade internamente e além-fronteiras.

Mesmo com o aparecimento de programas e incentivos para territórios com menor densidade populacional, em termos de “volume”, os municípios encabeçados pelas grandes cidades portuguesas continuam a fazer-se valer da sua popularidade, dimensão, oportunidades de emprego, oferta cultural e activos estabelecidos (muitos deles em combinação com uma estratégia de marca trabalhada e com excelentes resultados) para atrair turistas, trabalhadores, estudantes, famílias, investidores e empresas.

Não se pode falar explicitamente de um desencanto pelas cidades de maior dimensão, mas assistimos a uma tendência para a procura de espaços mais abertos, principalmente por parte de turistas e de talento, com “qualidade de vida” a ser o tema com maior subida na procura na edição anterior do ranking e com “jardins” a protagonizar a maior subida no que diz respeito às pesquisas online realizadas sobre os 308 municípios na edição actual.

Podemos, sim, afirmar que municípios protagonizados por cidades de média dimensão e mesmo alguns municípios predominantemente rurais começam a mostrar uma capacidade muito maior na atracção dos seus públicos-alvo, conseguindo inverter tendências de visitação exclusiva ao litoral do País, atraindo empresas inovadoras que outrora nunca considerariam investir fora de grandes centros urbanos e acima de tudo atraindo população de forma a inverter saldos migratórios que depois de décadas de êxodo rural conseguem agora estabilizar-se positivamente como é o caso da Marca Estrela de Municípios com menos de 10 mil habitantes, Idanha-a-Nova, ou de Arouca, Marca Estrela com menos de 25 mil habitantes.

Como acredita que será o evoluir do interesse pelas cidades nos próximos anos com as alterações que têm vindo a ser discutidas em termos laborais?

No caso português, conseguimos perceber que tudo vai depender do posicionamento e das medidas tomadas por parte dos municípios portugueses. Desde o início da pandemia que o interesse por territórios mais ligados à calma e à natureza disparou para níveis sem precedentes neste milénio, com 29% dos portugueses a afirmarem que se mudariam de um meio urbano para um meio rural no estudo conduzido pela Bloom Consulting em 2021. Nesse mesmo estudo 42% dos portugueses afirmaram que queriam um sistema de trabalho híbrido e 27% um sistema completamente remoto. Apesar destes indicadores de intenção – agravados pelas recentes escaladas de custo de vida nas grandes cidades – percebemos que muitos municípios predominantemente urbanos conseguem ainda captar a atenção e a intenção de visitação, de abrir negócios e de projectos de vida de muitos cidadãos portugueses e estrangeiros.

Para os municípios de características mais rurais, a nova realidade laboral – e a perspectiva de futuro – é algo abonatório para as intenções de atracção de talento que neste momento vive em grandes centros urbanos. Com a abertura ao trabalho remoto ou a sistemas híbridos, deixa de ser tão importante para os trabalhadores viverem a curta distância dos seus locais de trabalho, uma potencial semana de quatro dias, também reduz o número de vezes em que a deslocação a um local de trabalho fixo se torna necessária, podendo os trabalhadores olhar para uma alternativa fora dos grandes centros onde o seu poder de compra e qualidade de vida crescerão substancialmente.

No entanto, este apelo de municípios rurais nunca terá sucesso exclusivamente com argumentos de alternativa rentável à cidade, num contexto de trabalho remoto ou de presença reduzida nos escritórios citadinos. Há factores como o entretenimento, a cultura, a qualidade da educação, o acesso à saúde e outros “luxos” citadinos que muitas vezes não são encontrados ou não correspondem às espectativas no interior ou não são conhecidos (como se pode verificar pelas parcas pesquisas online sobre estes temas ligados a grande parte dos municípios rurais) e que comprometem muitas vezes a atracção de talento qualificado.

Vemos que há já muitos municípios que estão a trabalhar e outros que começam a considerar a importância da sua estratégia de marca para atracção de talento, focadas não só no apelo aos profissionais que vivem hoje uma nova realidade, mas também tentando impulsionar a economia local com a atracção de novos projectos e de empreendedores, de oportunidades de emprego e de condições para o desenvolvimento local. Este é o momento certo para que os municípios possam implementar estratégias de marca fortes, com planos de acção compreensivos que visem mostrar não só territórios diferenciados e atractivos, mas também locais para viver, trabalhar, investir e visitar preparados para um futuro pós-pandemia e resistentes às adversidades que possam vir a enfrentar.

Texto de Maria João Lima

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