Instituições “devem” fazer dos donativos um prazer
Ken Burnett, comunicador, mentor na área do fundraising e autor de livros como “Relationship Fundraising” e “The Zen of Fundraising”, especializados no desenvolvimento de bases de doadores e em formas de comunicar com estes, será um dos keynote speakers do 3º Seminário de Fundraising Call to Action, a decorrer em Lisboa no dia 19. O profissional explica de antemão como os angariadores de fundos podem evitar “armadilhas”.
Quais os principais pontos que devem orientar as estratégias de Fundraising do Terceiro Sector, tendo em conta o actual contexto económico?
Os angariadores de fundos encontram-se sempre, e por definição, num período de carência. Para nós, nunca há uma altura em que é fácil arranjar dinheiro. Mas independentemente de quão difíceis são os tempos, existem muitas pessoas a tomar consciência de que estão melhores do que outras. Por isso, fazem donativos. Em períodos como o actual temos apenas de descobrir a linguagem certa e formas de falar com as pessoas. Num contexto de recessão, a última coisa que uma instituição de caridade deve fazer é reduzir os investimentos na angariação de fundos. Pelo contrário, é esta a altura certa para investir de forma arrojada nessa estratégia. Da História podemos retirar uma lição clara: as organizações que reduzem os planos de angariação de fundos em tempos difíceis batalham, invariavelmente, para voltar a ser o que eram antes. Aquelas que mantêm os investimentos nesta actividade e chegam mesmo a reforçá-los, por exemplo, na aquisição ou manutenção de doadores, são as primeiras a prosperar quando os tempos melhoram.
O que deve motivar os doadores – com destaque para as empresas – para práticas de angariação de fundos?
As empresas raras vezes são generosas por conta própria. É seu dever maximizar os retornos para os accionistas, por isso as causas devem apelar aos indivíduos dentro dessas empresas, de forma a persuadi-los de que uma política de responsabilidade social corporativa pode dar frutos. As empresas apoiarão as causas que os seus colaboradores querem apoiar ou em que possam ser vistas enquanto apoiantes de uma causa particular. Comportam-se de forma lógica ou ilógica. A emoção raramente tem influência. Mas para ser sincero, os donativos das empresas, em termos de rendimentos, não são uma importante fonte de fundos para a maior parte das instituições de caridade. As estratégias de dádiva individual compensam muito mais e de forma mais fiável, a longo prazo.
Que conselhos pode dar a instituições do Terceiro Sector para evitar erros e armadilhas da angariação de fundos?
Poderia dizer, simplesmente, para lerem os meus livros, “Relationship Fundraising” e “The Zen of Fundraising”. Mas a resposta é mais simples que isso. Os angariadores de fundos devem copiar os melhores. Estudar o que funcionou com outras organizações e adaptar à sua o que aprenderam. Há que fazer o trabalho de casa, organizar as bases, como os serviços de donativos, a estratégia de feedback, os processos de boas-vindas e agradecimento… As instituições têm de fazer com que seja um prazer ser doador. Assim, independentemente dos fossos em que elas possam cair, serão os doadores a puxá-las para cima.
Ler entrevista na íntegra na edição nº178