H&M: a ascensão e queda da rival sueca da Zara
A H&M está a negociar em Espanha um programa de despedimento de quase 600 pessoas, o segundo em três anos, e prevê o encerramento de 28 lojas. A empresa tornou-se mais vulnerável às crises logísticas e à retirada da rede física.
As grandes cadeias multinacionais do sector têxtil viveram, há dez anos, um período de expansão imparável. A base das suas estratégias era a abertura de centenas de lojas todos os anos, com as quais continuavam a engordar as suas contas de resultados. A Inditex foi um bom exemplo disso: entre 2010 e 2018, a sua rede de lojas aumentou 50% para atingir o pico histórico de 7.490 lojas. Em casos como o da H&M, o processo foi ainda mais acentuado. Com o objectivo de se aproximar dos números do gigante têxtil galego, no mesmo período a sua rede cresceu 125% para quase 5.000.
A pandemia chegou, e com ela o boom do comércio electrónico, e a capacidade destas empresas para digerir o excesso de aberturas foi posta à prova. Um processo do qual a H&M não saiu particularmente bem. O grupo têxtil sueco acaba de negociar um programa de despedimentos (ERE) que afectará, segundo os seus planos iniciais, cerca de 600 empregados em Espanha, e que implicará o encerramento de 28 lojas.
Espanha será o mercado com mais encerramentos, no âmbito do plano do grupo de encerrar 200 estabelecimentos em todo o mundo. Este é o segundo processo de despedimento colectivo lançado em apenas três anos. O primeiro, assinado em meados de 2021, envolveu 350 trabalhadores, mas as saídas acabaram por ser mais: em 2023, a média de efectivos era de 3600 pessoas, menos 455 do que dois anos antes.
Após o ajustamento, a empresa lançou um plano de viabilidade que não deu frutos. O ajustamento proposto deixará a sua rede de lojas em cerca de uma centena, o nível mais baixo desde 2010.
Entretanto, os seus rivais voltam a apostar nas aberturas, mesmo com as lojas deixadas vagas pela H&M. «Abrimos lojas nos países emergentes e os encerramentos estão a ocorrer em mercados maduros, em locais onde não temos bons resultados e onde não conseguimos captar a procura suficiente», explicou o CEO do grupo, Daniel Erver, depois de apresentar os resultados decepcionantes do terceiro trimestre.
Em 2019, a H&M atingiu um recorde de 5.076 lojas. Durante cinco anos consecutivos, de 2013 a 2017 inclusive, o seu número de aberturas líquidas foi superior ao da Inditex, com uma média de quase 400 por ano, em comparação com 300 para a rival espanhola. Isto aproximou-a mais do que nunca das vendas do gigante galego: em 2015, o volume de negócios da Inditex foi apenas 12% superior ao da H&M.
No final de 2023, a diferença era de 71%, apesar de o gigante galego ter também fechado 24% da sua rede desde o seu pico em 2019, mais do que o grupo sueco. No entanto, isso traduziu-se numa perda de apenas 8% do espaço comercial e impulsionou as vendas por loja.
A H&M localiza a maior parte dos seus fornecedores no Bangladesh, Camboja, China, Índia, Indonésia, Myanmar, Paquistão, Turquia e Vietname, o que levou a aumentos de custos significativos durante as crises logísticas dos últimos três anos.
O próprio CEO do grupo, Daniel Erver, disse que «a empresa está a investir na proposta de produto, tanto em qualidade como em preço, apontando para promoções para atrair cliente, bem como em marketing, para reforçar a marca H&M».
A negociação das condições entre os sindicatos dos trabalhadores e a empresa só será decidida numa reunião, marcada para 2 de Outubro. Para já, haverá uma indemnização de 45 dias por ano trabalhado para quem tinha contracto antes de 2012, quando entrou em vigor a reforma laboral, e de 33 dias para quem o assinou depois, com um limite máximo de 42 pagamentos mensais para os primeiros e de 24 para os segundos. Também foram distribuídos bónus de 3.000 a 5.000 euros, consoante a antiguidade, a quem assinou o contracto.
Os sindicatos consideram que esta é uma boa base de negociação, embora esperem uma oferta mais baixa, pelo menos à partida. O que já começou foram os encerramentos. Fontes sindicais confirmam que alguns empregados já se encontram em licença remunerada, depois de terem encerrado o seu estabelecimento.
Por seu lado, a empresa insiste no comunicado que emitiu em Janeiro, quando o ajustamento foi conhecido. “Estamos empenhados em adaptar e aperfeiçoar o nosso portefólio de lojas para responder à evolução das necessidades e das expectativas dos nossos clientes”, afirma o comunicado oficial.
A H&M, uma das empresas que negociou o primeiro acordo colectivo de trabalho de âmbito estatal no sector têxtil, afirma que trabalha “em estreita colaboração com os representantes dos trabalhadores para garantir um diálogo constante entre as duas partes”.