Hackvertising, o Snapchat e o fato branco do Miguel Bemfica

Pode anotar aí: a palavra do ano na publicidade será “Hackvertising”.

O termo foi oficialmente lançado na apresentação do Fernando Machado, CMO da Burger King, este ano no Festival de Cannes e significa pensar como um “hacker” e driblar a tecnologia, usar o algoritmo para trabalhar a seu favor, usar a inteligência artificial daquela maneira criativa e disruptiva como só o ser humano consegue fazer.

E ninguém melhor do que o Burger King e a agência David, especialistas em anarquizar o que os computadores e o big data organizaram com tanto cuidado e carinho, para falar sobre o assunto: com o “Google Home of Whooper” no ano passado e com o “Whooper Neutrality” (Leão de Ouro em PR esse ano), a marca mostra que faz exactamente o que recomenda. Veja os dois cases abaixo.

E de quebra um reportagem do AdAge que esmiúça um pouco mais o novo tratado da anarquia do Burger King.

https://www.adweek.com/brand-marketing/5-marketing-lessons-burger-king-learned-from-studying-hackers/

“Hackvertising” é o que não faltou este ano no festival, com a criatividade fazendo o que faz de melhor: subvertendo todas as regras e mostrando porque os computadores (ainda) não vão ficar com os nossos empregos.

Separei cinco exemplos desta anarquia a favor da criatividade, que foram premiadas este ano em Cannes.

1) Com “Tag Words” a Budweiser do Brasil resolveu lançar uma campanha multimeios associando a sua marca às grandes estrelas da música. Problema: uma campanha assim custaria trilhões de dólares só em direitos. Solução: criar uma campanha só com palavras chave que juntas numa pesquisa do Google mostram fotos dos maiores rock stars da história bebendo Bud (em fotos reais). Grand Prix de inovação em print.

2) O melhor da categoria mobile não é uma app, não é uma nova tecnologia, não é aliás nada que vem dentro do seu telemóvel. É o “SelfieSTIX”, um suporte de plástico para encaixar sobre o aparelho, onde colocamos um snack para cães e assim conseguimos manter o nosso animal de estimação parado a olhar para o telemóvel por alguns segundos para tirar a famosa “selfiedog”. É impossível ver o case e não latir de alegria.

3) O “Ikea Pee Ad” é o primeiro anúncio que também é um teste de gravidez. Criado para o Ikea, bastava que as senhoras aplicassem algumas gotas de urina sobre o anúncio (impresso no catálogo do Ikea) para que, se a mulher estivesse grávida, o desconto surgir por magia no anúncio. Tem gente que achou nojento e não gostou mas são uns botas de elástico. Eu adorei e o Festival de Cannes também.

4) Como não falar do “It’s a Tide Ad”, o anúncio que transformou os outros anúncios do Super Bowl em anúncios para Tide, o detergente que lava mais branco. É uma estratégia de média tão bem pensada, um texto tão bem escrito e, ao mesmo tempo, uma ideia tão simples que é impossível não se perguntar “porque ninguém pensou isso antes”.

A Saatchi de Nova Iorque pensou e levou para casa o Grand Prix da categoria filme.

https://www.youtube.com/watch?v=doP7xKdGOKs

5) Já que estamos falando sobre quebrar as regras, o quinto trabalho da lista não tem nada de “hackvertising” – é um bom e clássico spot de TV, com uma execução tão impecável que merecia mais do que um leão, merecia o Óscar. Criado pela BBDO de Nova Iorque para a Procter & Gamble, “The Talk” fala sobre aquele momento em que os pais negros têm que ter “a conversa” com os seus filhos sobre o que é o preconceito – uma realidade que eu pelo menos não conhecia. Veja e não fique com lágrimas nos olhos se for capaz.

Para finalizar, duas tendências para o próximo festival que eu não posso deixar de compartilhar.

A primeira, quem diria, veio do Pedro Bexiga que observou algo impressionante: no ano passado o maior anunciante do festival era o Snapchat que montou uma roda gigante em frente ao Palais e este ano é uma empresa em vias de extinção).

Ou seja: as tecnologias vêm e vão, as ideias ainda cá andam.

A segunda é o fato branco do Miguel Bemfica (CCO da MRM McCann).
Vejam a foto que abre este artigo e marquem as minhas palavras: ano que vem também vou vestido assim ao festival.

Até lá.

Texto de Marcelo Lourenço ex-director criativo da Fuel, a agência mais premiada do País, de onde se demitiu em Maio para começar o seu próprio projecto.

Artigos relacionados