“Freelancer do Dia CCP by Marketeer”: Vasco Durão
É difícil sobressair por entre dezenas de curriculos. A partir de certa altura, os nomes confundem-se e aquele que poderia ser o par perfeito para um projecto na calha acaba por fugir. Partindo do directório lançado pelo Clube Criativos Portugal (CCP), a Marketeer propõe conhecer melhor alguns dos talentos freelancers nas áreas da criatividade e comunicação.
Vasco Durão (estratega de marcas/redactor) é o mais recente protagonista da rubrica “Freelancer do Dia CCP by Marketeer”, que apresentará, duas vezes por semana, exemplos de quem decidiu aventurar-se por conta própria.
Qual foi o trabalho de que mais te orgulhas?
A ideia e guião para o filme “Study in Lisbon”. Em 2016, tive o privilégio de estar na origem da produtora Fim, do Rui Malvarez (cujo nome também foi da minha responsabilidade). Desde o início, o objectivo foi sempre criar filmes com conceito e com narrativa. O “Study in Lisbon” resultou de um desafio da Câmara Municipal de Lisboa e da Invest Lisboa para fazer um filme a comunicar as mais-valias de Lisboa enquanto cidade de eleição para estudantes estrangeiros. O orçamento era reduzido e como a Fim estava no princípio, decidimos arriscar: em troca do escasso orçamento pedimos liberdade criativa. E assim surgiu a ideia de criar a personagem de um jovem estudante que envia um vídeo aos pais a dizer porque é que quer continuar a estudar em Lisboa (infelizmente já não se escrevem cartas…).
Com a mais-valia realista de que o actor era mesmo estudante em Lisboa. Não só o processo criativo foi intenso e altamente divertido como o resultado foi um filme organicamente viral que contribuiu, permitam-me essa veleidade, para o aumento significativo de estudantes estrangeiros em Lisboa nos últimos anos.
Qual é o projecto que queres fazer a seguir?
Talvez por culpa das preocupações sociais que a COVID-19 levantou; por ter estado a trabalhar nos últimos tempos redes sociais de entidades como a Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros ou o Centro a Apoio a Deficientes Luís da Silva (do qual a minha mulher é directora técnica); pelo meu passado académico em Sociologia e História; por ter dois filhos cujo futuro é uma incógnita; e por viver no Alentejo, onde criei o festival Guitarras ao Alto… O projecto que gostava de fazer a seguir deveria idealmente estar no cruzamento entre a área social e a área cultural.
Porque é que te devem contratar?
Já ando nisto da comunicação há mais de 20 anos e acho que consegui não estagnar. Pelo que a experiência é um factor relevante. O ecletismo também é uma das minhas melhores mais-valias. Mas eu diria, ou pelo menos dão-me a entender quem trabalha comigo, que o facto de não falhar um prazo, de pôr sempre alguma ideia em cima da mesa e de procurar estar do lado da solução e não do problema, compõem a minha trindade. Numa só palavra: confiança.
Como vês a situação actual que vivemos?
Como organizador de um micro festival, que este ano procurou a sobrevivência e de Guitarras ao Alto arriscou fazer-se Guitarras ao Alto em Casa, incomoda-me o discurso de que isto é uma oportunidade para nos reinventarmos. Temos de dar a volta à situação, sim, e não deixar os nossos projectos morrer, mas temos de recuperar o mais rapidamente as nossas vidas. Quero voltar a ver, ouvir e sentir música na rua. Quero voltar a ter pessoas a ver os concertos que organizo no Alentejo. Não quero que isto seja o “novo normal”.
Desde quando és freelancer e o porquê dessa decisão?
Sou freelancer desde 2013. Um dia, a minha mulher chegou a casa com a proposta de ir viver para o Alentejo e abrir um centro de apoio a deficientes. Eu estava confortavelmente adormecido no universo das agências e aquele desafio foi uma oportunidade para mudar de vida.
Dito assim, parece fácil e romântico, mas não foi. Ainda por cima com filhos pelo meio. Mas a verdade é que resultou, está a resultar e depois de tomar o gosto a trabalhar para mim próprio, dificilmente voltarei a trabalhar por conta de outrem. O segredo? É preciso, ao mesmo tempo, dar um salto de fé (e eu não sou nada religioso) e ser muito disciplinado. E, de repente, já lá vão quase sete anos.
Quais as vantagens e desvantagens de ser freelancer?
Uma de cada. A vantagem é ser dono do meu tempo. A desvantagem é que o tempo se dilui nas horas, nos fins-de-semana e nas férias. Daí a disciplina da pergunta anterior. Mas quando se controla estas variáveis e se deixa de pensar “como é que vou ganhar mensalmente o mesmo que ganhava quando tinha um emprego fixo”, acho que não há melhor forma de trabalhar.