Feeling, timing. And…

Por Higor Gonçalves, jornalista, pós-graduado em Comunicação Mercadológica e Marketing do Consumo, especialista em Assessoria de Comunicação, com MBA em Gestão Estratégica de Marketing

«Nada é mais poderoso do que uma ideia que chegou no tempo certo.» A frase de Victor Hugo, importante romancista, poeta e estadista francês do século XIX, resume com precisão a força que possui um conceito robusto apresentado no momento mais oportuno. Feeling e timing. Estas duas palavras emprestadas da língua inglesa explicam, na minha opinião, algumas das razões pelas quais boas ideias podem, simplesmente, ficar pelo meio do caminho (entenda: desaparecer). Significa que eram ruins? Não necessariamente. Podem ter sido lançadas de forma preliminar, ou até mesmo tardia? Sim, existe a possibilidade. “Sentir” e saber a hora certa de apresentar um conceito são garantias para o êxito? Absolutamente não.

Por que razão é importante falar sobre ideias? Porque elas são, por essência, a base de quase tudo o que é tangível e intangível. De produtos a serviços, passando por inovações em geral, conhecimentos científicos, valores culturais, ético-morais e ideologias, quase tudo o que conhecemos e/ou experienciamos nasceu, a priori, na cabeça, na mentalidade de alguém (ou de “alguéns”). Uma ideia pode, literalmente, mudar tudo. Desde que, reforçando, apresentada na hora mais adequada. E criada a partir de questionamentos genuínos.

Trazendo a conversa para o universo do marketing, é muito comum, por exemplo, empresas e marcas dos mais variados sectores e tamanhos focarem-se excessivamente no lançamento de soluções, tangíveis ou não, abrindo mão de ver as reais motivações de potenciais clientes e de clientes actuais. Ou seja: aquilo que atrai e que move as pessoas. Theodore Levitt, professor da Harvard Business School, cunhou na década de 1960 uma expressão imbatível (e actual): miopia em marketing. Especificamente sobre o tema, escrevi este artigo aqui na Marketeer (fica o convite à leitura). Autocentrismo. Eis uma das razões pelas quais boas ideias, sem o interesse, a participação e, principalmente, a contribuição dos consumidores, acabam condenadas ao fracasso. Resumindo: uma ideia só é boa se as pessoas acreditarem que ela é boa.

Outro expoente nascido no século XIX foi Henry Ford, engenheiro mecânico e empreendedor norte-americano, considerado historicamente como uma das grandes mentalidades inovadoras. Assim como Victor Hugo, Ford também possui uma frase famosa que lhe é atribuída: «Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos.» Ainda que não existam evidências concretas de que Ford tenha pronunciado essa frase, na época da invenção dos motores de combustão, até hoje ela é usada para reforçar a crença de que a inovação é plausível sem a colaboração alheia. Não é.

Certamente, as pessoas não teriam falado precisamente: “queremos um automóvel”. O conceito de veículos motorizados não existia na época. Mas, em contrapartida, penso que teriam sido grandes as probabilidades de alguém ter dito algo como: “queremos uma forma de transporte mais veloz”. Eis a arte de captar os anseios, de “traduzir” os sinais emanados pelos utilizadores. O fundador da Ford Motor Company “entendeu o recado.” E mudou literalmente os rumos do mMndo. Feeling, timing and “right questions” é a chave que transforma tudo.

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