Esta app permite-lhe ganhar até 2 mil euros com os seus dados – e sem arriscar a privacidade

Há uma nova aplicação em Portugal que permite aos utilizadores monetizarem os seus dados. Isto significa que recebem um determinado valor por cada informação que partilham – e que será utilizada para oferecer maior conhecimento às marcas sobre os seus públicos e consumidores, seja através de perguntas simples, inquéritos ou ferramentas de retargetting.

Os utilizadores, designados Data Influencers porque podem influenciar as marcas através dos seus dados, podem contar ainda com um sistema de privacidade avançado através do qual a Modatta garante não recolher, guardar ou processar centralmente qualquer informação. Todos os dados são mantidos e geridos pelos próprios utilizadores nos respectivos telemóveis.

Isto significa, por exemplo, que o utilizador é o único que pode dar consentimento para que terceiros usem os seus dados. Caso queira exercer o seu direito ao esquecimento, basta apagar o perfil ou desinstalar a aplicação.

A Modatta apresenta-se também como uma “one stop shop for all marketing needs”, já que combina implementação de campanhas com ofertas segmentadas e, ainda, investimento com retorno garantido. Como? Segundo os responsáveis pela plataformas, as marcas só pagam quando o seu objectivo de negócio é alcançado.

«Na Modatta, as empresas só pagam pelas interacções finalizadas. Isto é, decidem qual a acção que querem que o utilizador tenha para aquela campanha em específico e só quando este termina essa acção é que o dinheiro que a empresa decidiu pagar por aquela interacção sai do seu saldo na plataforma», esclarece Eduardo Pinto Basto, co-fundador, co-CEO e CMO.

E, do lado dos utilizadores, quais são os valores envolvidos? Um utilizador activo poderá, em média, receber entre 200 e dois mil euros por ano. Rodrigo Moretti, também co-fundador, co-CEO e CTO da Modatta, explica que «o grande objectivo é que o perfil do utilizador se actualize sozinho e que os seus dados trabalhem por si e gerem valor para o utilizador».

Acompanhe a entrevista na íntegra:

Como é que a Modatta se distingue de outras plataformas semelhantes presentes no mercado português?

Rodrigo Moretti: Que nós tenhamos conhecimento, não existe alguma plataforma semelhante no mercado português ou mesmo internacional. Nenhuma faz exactamente o que a Modatta faz, muito menos como o faz, garantindo total privacidade e descentralização dos dados.

Queremos ser a primeira comunidade de Data Influencers, que dá a oportunidade aos utilizadores de influenciar e impactar as marcas através dos seus dados – sem que estes saiam do seu telemóvel – e ganhar com isso.

Do ponto de vista das empresas, oferece-lhes a oportunidade de criar e usar qualquer datapoint que necessitem para chegar aos seus potenciais clientes e ter controlo sobre o seu retorno sobre o investimento.

Quando é que o negócio arrancou?

Eduardo Pinto Basto: Eu e o Rodrigo somos grandes amigos desde que tirámos o curso de Engenharia Informática juntos e desde muito cedo que tivemos vontade de ter um negócio próprio. Depois de um longo percurso na EDP na área do Marketing Estratégico, da Inovação e, mais recentemente, na gestão da área de vendas B2C, achei que estava na altura de arriscar.

Nesse momento, estava a ocorrer a implementação do RGPD na EDP, que causou bastantes desafios internamente e que acabava por não dar grande importância ao próprio utilizador, um elemento fulcral nessa gestão. Foi então que surgiu a ideia de me juntar ao Rodrigo e criar algo ligado ao RGPD, numa fase em que projectos de blockchains estavam a surgir no mercado com implementações mais maduras e estáveis.

Rodrigo Moretti: No meu caso, segui uma carreira mais ligada à própria Engenharia Informática e ao desenho, construção e gestão de tecnologia em empresas maioritariamente B2C. Após vários anos a trabalhar na Sonae e na Nos, o caminho também passava por ter um projecto meu, que merecesse toda a minha atenção.

Na Nos, implementei o RGPD, um projecto a que a empresa dedicou bastante atenção e que foi tido como exemplo. No entanto, também à Nos faltou pensar em colocar o utilizador do lado da solução.

Tendo nós os dois um interesse enorme nas blockchains e na economia digital, que está a gerar-se com a descentralização de uma série de funções tipicamente centralizadas, apercebemo-nos de que tínhamos todos os ingredientes necessários para repensar a forma como as empresas utilizavam dados pessoais, colocando os indivíduos como peça central da solução, e potenciando a capacidade das empresas de encontrar e interagir com os seus potenciais clientes.

Quisemos transferir para os utilizadores a decisão de deixar – ou não – que as empresas usem os seus dados e beneficiar directamente com isso. Foi assim que surgiu a Modatta.

Que resposta estão a ter dos utilizadores? Os portugueses estão dispostos a ceder os seus dados a troco de dinheiro?

Eduardo Pinto Basto: Na altura em que lançámos o MVP (versão inicial), atingimos os 110 mil utilizadores em apenas seis meses, com um crescimento de 10% à semana. Estas métricas vieram provar que os portugueses estão mesmo dispostos a controlar e a monetizar os seus dados.

Após o MVP, tomámos a decisão de voltar à engenharia e, durante os últimos meses, dedicámos todos os nossos esforços à criação de um produto capaz de satisfazer as necessidades de indivíduos e empresas, bem como escalar à escala global. Há cerca de duas semanas, publicámos a nova plataforma e podemos dizer que contamos com cerca de 30 mil utilizadores activos, que se mantiveram fiéis aos nossos valores e que estão dispostos a beneficiar de todo o valor que os seus dados têm.

Até quanto é que um utilizador pode ganhar? E qual é a média?

O valor que cada utilizador pode ganhar com os seus dados varia de pessoa para pessoa, consoante o seu perfil de consumidor, o interesse que desperte nas marcas e a forma como interage com a plataforma. Segundo as nossas projecções, um utilizador activo poderá, em média, receber algo entre os 200 euros e os 2000 euros por ano, mas este valor pode ser mais alto com a adopção em massa da Modatta por parte das empresas.

Como é feito o pagamento?

Eduardo Pinto Basto: O valor é transferido directamente para a conta de cada utilizador. As empresas carregam saldo na plataforma da Modatta e nós distribuímos esse valor à medida que as ofertas vão decorrendo. Quando os utilizadores atingem um valor mínimo no seu saldo, transferimos esse valor directamente para as suas contas bancárias.

Numa altura em que a privacidade é um tema cada vez mais premente, como é que dão resposta a esta preocupação?

Rodrigo Moretti: A Modatta dá a possibilidade a qualquer pessoa de trazer os seus dados para o telemóvel e utilizá-lo como uma fonte de armazenamento dos dados pessoais. Além disso, permite que os utilizadores saibam que informações suas existem nas várias fontes de dados, bem como de que forma são utilizados e processados pelas mesmas.

Estamos também a desenvolver uma ferramenta que vai permitir gerar insights directamente no telemóvel – tal como a Google e o Facebook já o fazem, mas de uma forma totalmente privada, em que o único beneficiário é o utilizador.

O grande objectivo é que o perfil do utilizador se actualize sozinho e que os seus dados trabalhem por si e gerem valor para o utilizador. Sabendo nós que as empresas não têm como objectivo final ter e ficar com os dados pessoais, mas sim chegar a um objectivo concreto de negócio para o qual precisam dos dados, percebemos que este modelo iria resultar na perfeição.

Com a Modatta, é possível definir exactamente qual o target das empresas para cada objectivo específico, definir qual a interacção de negócio desejada e quanto é que ela está disposta a pagar para que essa acção seja finalizada. A Modatta vai distribuir essa oferta por todos os seus utilizadores e cada telemóvel decide se está ou não no segmento. Mas quem processa os dados pessoais é o telemóvel e não a empresa. Os dados de cada pessoa não saem do seu telemóvel e são mantidos e geridos pelos próprios utilizadores. A Modatta não recolhe, guarda ou processa centralmente nenhum dado dos utilizadores e só o próprio utilizador pode dar consentimento para que terceiros os possam utilizar.

Como é que funciona o controlo da privacidade? Estão a pensar novas ferramentas nesse âmbito?

Rodrigo Moretti: O utilizador tem o total controlo sobre a sua privacidade. Como todo os dados existem apenas no telemóvel do utilizador, este tem controlo absoluto na forma como são processados. A Modatta utiliza criptografia avançada em todas as suas comunicações, garantindo que as interacções são protegidas em todos os passos. Todas as interacções são acompanhadas de um formulário de consentimento, onde está explicado, de forma clara e simples, que dados serão utilizados, por quem e por que motivo, deixando a decisão de consentir e interagir com a empresas nessas condições – ou não – do lado do utilizador. Para exercerem o seu direito ao esquecimento, os utilizadores têm apenas de apagar os seus perfis ou desinstalar a aplicação da Modatta.

Neste momento, podemos dizer que estamos a trabalhar em conectores para as redes sociais, banca, governo e saúde, assim como localização, IoT e wearables. Todos os conectores são voluntários, o utilizador poderá activar e desactivar quando quiser e, como tem acesso a todo o seu perfil, pode contribuir directamente e confirmar que informação está correcta ou incorrecta, construindo um perfil mais legítimo.

Do lado das marcas, quais são as mais-valias?

Eduardo Pinto Basto: A Modatta permite que as empresas criem campanhas para qualquer necessidade do seu funil de vendas e façam uma segmentação da potencial audiência através do uso de qualquer datapoint. As empresas podem aprender com os utilizadores da app através de questionários, cujos resultados poderão depois ser usados para retargetting.

Contrariando os modelos intrusivos de marketing utilizados actualmente, a Modatta oferece um canal onde empresas e indivíduos podem estabelecer voluntariamente relações positivas, baseadas em privacidade e respeito, onde sempre que existir criação de valor todos ganham e onde as empresas só pagam se o objectivo de negócio for cumprido. No fundo, a Modatta oferece a possibilidade de implementar campanhas de Marketing Digital (online e offline), geração de insights e de datapoints on demand, bem como a compra de datasets com consentimento. Como costumamos dizer, somos a “one stop shop for all marketing needs”.

Como é que garantem retorno do investimento?

Eduardo Pinto Basto: Na Modatta, as empresas só pagam pelas interacções finalizadas. Isto é, decidem qual a acção que querem que o utilizador tenha para aquela campanha em específico e só quando este termina essa acção é que o dinheiro que a empresa decidiu pagar por aquela interacção sai do seu saldo na plataforma.

Estas interacções materializam-se em qualquer acção realizada online com um smartphone ou offline sempre que o smartphone estiver presente. Tendo uma capacidade de segmentação muito fina, as empresas têm a capacidade de interagir apenas com as pessoas certas, que voluntariamente acederam à sua oferta. A Modatta oferece às empresas ferramentas que lhes permite validar sempre que uma interacção é concluída, garantindo o verdadeiro “pay-per-result”.

É aquilo a que nós chamamos de “next level marketing”: chegar ao utilizador certo, com a mensagem certa, no momento certo. A empresa só paga pelo resultado e utiliza qualquer datapoint que necessite sem o recolher, guardar ou processar.

Podem dar exemplos de campanhas que as marcas desenvolvem com a Modatta?

Rodrigo Moretti: Todas as necessidades de negócio que se traduzam numa interacção, online ou offline, entre a empresa e um potencial cliente, podem ser traduzidas para uma campanha na Modatta. Por exemplo, permitimos que empresas paguem por tráfico qualificado, pela visualização completa de vídeos promocionais, pela instalação ou engagement com aplicações, pela criação de conta em portais ou subscrição de newsletter ou serviços.

Permitimos campanhas de venda directa ou até de retargetting para up-sell ou cross-sell; permitimos a execução de sondagens e questionários qualificados, assim como a recolha de consentimento para utilização de dados específicos para qualificação de base de dados ou pesquisa. Fora do online, uma empresa pode pagar ao utilizador para deslocar-se ao seu estabelecimento ou evento e executar qualquer intera ção presencial. Sempre, naturalmente, sem que os dados saiam do telemóvel de cada utilizador.

Trabalham com quantas marcas?

Rodrigo Moretti: Quando lançámos o MVP, tivemos mais de 20 marcas presentes na Modatta, entre elas o Dott, N26, La Redoute, Deco Proteste, Securitas, Amazon, Gant, Crocs, Zaful, Holmes Place, Minisom, entre outras. Neste momento, estamos em contacto com essas marcas para novas campanhas e a trabalhar com novas marcas para que também elas beneficiem com a Modatta.

Qual é o modelo de negócio? Como é que a Modatta ganha dinheiro?

Eduardo Pinto Basto: Cada empresa paga apenas depois da interacção escolhida por si ser finalizada. O utilizador recebe 40% do custo total da transacção, o mesmo valor que a Modatta. Os 20% restantes são distribuídos entre toda a comunidade. O objectivo é que todas as pessoas que fazem parte desta comunidade de Data Influencers beneficiem com ela, mesmo quando não existem interacções com empresas.

Texto de Filipa Almeida

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