Kennedy Jr. quer banir anúncios farmacêuticos na televisão. O que isso significaria para a indústria?
Robert F. Kennedy Jr., a escolha de Donald Trump para assumir o cargo de Secretário de Estado da Saúde dos Estados Unidos, reacendeu a polémica em torno da publicidade farmacêutica ao defender que a mesma fosse proibida, de acordo com o The Wall Street Journal.
Durante a campanha presidencial, Kennedy prometeu emitir uma ordem executiva para proibir anúncios de medicamentos na televisão, argumentando que a prática aumenta o consumo excessivo de fármacos nos EUA e influencia negativamente a cobertura mediática sobre a indústria farmacêutica.
“Somos um dos dois únicos países no mundo que permitem que empresas farmacêuticas anunciem diretamente aos consumidores”, disse Kennedy Jr. num vídeo publicado na plataforma X, destacando ainda que “todos concordam que é uma má ideia”. O escolhido de Trump para a saúde referia-se, além dos EUA, à Nova Zelândia.
We are one of only two countries in the world that allow pharmaceutical companies to advertise directly to consumers on television. Not surprisingly, Americans consume more pharmaceutical products than anyone else on the planet.
As I told @JoePolish, on my first day in office I… pic.twitter.com/jsvDhzq7yA
— Robert F. Kennedy Jr (@RobertKennedyJr) May 22, 2024
Apesar dos argumentos contra a publicidade farmacêutica, especialistas do setor publicitário acreditam que uma proibição total será improvável tendo em conta o enquadramento legal, como possíveis violações à Primeira Emenda. Ainda assim, o facto de Kennedy Jr. trazer o tema a debate tem gerado discussões sobre mudanças na regulamentação da publicidade farmacêutica, que movimenta milhares de milhões de dólares anualmente.
Desde 1997, quando a agência federal de saúde dos EUA, a Food and Drug Administration (FDA), flexibilizou as regras sobre publicidade direta ao consumidor, que a televisão tornou-se uma peça-chave na estratégia de comunicação de grandes indústrias farmacêuticas. Medicamentos como Skyrizi, da Abbvie, e Wegovy, da Novo Nordisk, investiram respectivamente quase 400 milhões e 300 milhões de dólares em anúncios televisivos nos EUA só no ano passado.
Contrariamente ao que defende Kennedy Jr., a Associação de Pesquisa e Fabricantes Farmacêuticos da América (PhRMA) defendeu que os anúncios diretos beneficiam a saúde pública, aumentando a consciencialização sobre doenças e incentivando consultas médicas.
A confirmar-se, as propostas de Kennedy Jr. podem obrigar as farmacêuticas a procurar alternativas, como marketing digital, campanhas de consciencialização ou publicidade diretamente para profissionais de saúde. Essa transição criaria inevitavelmente novas oportunidades criativas para agências de publicidade.
A possível restrição de anúncios televisivos de fármacos não apenas abalaria o modelo atual da indústria, mas também poderia redefinir a relação entre consumidores, farmacêuticas e meios de comunicação.