E o seu nível de preconceito, qual é?

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

[Preconceito: Substantivo masculino. Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial. Opinião desfavorável que não é baseada em dados objectivos. Sentimento hostil motivado por hábitos de julgamento ou generalizações apressadas; intolerância.]

Disseram-me que era muito pequena. Que não conseguia…

As palavras de Patrícia Mamona, momentos depois da sua e nossa Prata, são limpas como a água, mas chegam com uma dose de preconceito que até dói (eu sei bem, que também já as ouvi, noutro contexto, claro).

As pessoas dizem muita coisa. O que devem e o que nunca deveriam. Temos opinião e tecemos considerações sobre tudo. Julgamos que temos o direito a decidir o que é certo, pelo nosso padrão. Quem faz bem, segundo as nossas normas. Quem merece ganhar ou perder, de acordo com o que apenas e só entendemos. O que tem valor, porque nos disseram e nem questionamos.

O preconceito é isto. É desenhar o destino com o poder que nunca deveríamos ter. Atirar para o lado. Ou puxar para cima, só porque sim. Porque nos dá jeito ou apetece.

Preconceito não se faz só na cor da pele. E aí, acreditem, continuamos a ter! Aliás, isso lembra-me sempre uma conversa que tive com a minha filha, tinha ela uns seis anos, em que me perguntava que cor era a cor da pele. A nossa empregada de sempre, e que a adormeceu tardes a fio às suas costas, é da Guiné. Continua a tratá-la por filha, ainda hoje. E, sim, a sua cor da pele é diferente da minha. O que é isso de cor da pele? Sem perceber, transportamos em nós anos de preconceito e separação.

Há uns dias, a almoçar com um amigo músico, contava-me que num evento, chegada a hora da refeição, lhe tinham atirado para cima da mesa – da dele e restantes músicos – o pano para limpar a dita (mesa). E que não contentes lhe tinham trazido de seguida uma tupperware de lentilhas frias. Isto, meus senhores, não é falta de educação, formação ou mundo. É também, e muito, preconceito no seu nível mais baixo.

Preconceito é julgar por julgar, achando que o nosso patamar é outro e que nunca vai mudar. Que somos superiores, não o sendo.

Que o diferente é pior. Só que só é isso, diferente do nosso.

Que a marca X só é de betos e a Y de alternativos, quando afinal a mistura apenas nos traz riqueza.

As palavras de Patrícia Mamona são limpas. Directas. Como flecha!

Ela, que nos elevou ao topo, que não fique ferida em si. E quanto a nós – e a mim, claro – que limpemos melhor o nosso filtro.

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 301 de Agosto de 2021

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