Do luxo ao outlet: Gucci enfrenta fase turbulenta
Foi há pouco tempo numa sexta-feira normal que os clientes encontraram diversos itens de luxo da Gucci à venda numa loja da marca nos subúrbios de Paris, perto da Disneyland. Até aqui nada de estranho, a não ser que todos os artigos estavam com um desconto de arregalar os olhos e incidiam sobre colecções passadas.
De acordo com a Bloomberg, esta seria uma situação impensável para concorrentes directos como a Louis Vuitton, a Chanel ou a Hermês. Porém, a Gucci encontra-se numa fase incerta em relação à sua actuação no mercado, devido aquela que é apelidada de “gestão disfuncional” por parte da sua dona – Kering SA. Esta perdeu cerca de um terço do seu valor em anos recentes, enfrentando portanto um dos seus períodos mais conturbados desde que a família Pinault fundou o negócio.
A mesma fonte a avança que muitos são aqueles que advogam por uma mudança drástica na empresa e questionam, inclusive, se o actual CEO François-Henri Pinault. O filho de 61 anos do fundador, conhecido como FHP, será a pessoa correcta para liderar, após duas décadas no cargo.
Neste sentido, há um amplo reconhecimento no grupo de que é necessário reduzir as vendas nos outlets, que estão a corroer o valor da marca, e abordar o carácter cíclico da Gucci. A Kering também foi mais atingida do que as suas companheiras de sector pelo abrandamento da procura de artigos de luxo, especialmente por parte dos chamados “compradores aspiracionais”, que gastaram dinheiro após a pandemia, mas que cortaram drasticamente quando as pressões inflacionistas se instalaram.
Investidores, analistas e antigos membros da Kering atribuem a culpa de grande parte da recente turbulência vivida na empresa ao que consideram ser uma disfunção no seio do grupo. FHP é visto como demasiado “laissez-faire”, deixando as marcas entregues a si próprias, mas os executivos defendem o seu estilo de gestão, dizendo que dá poder aos seus gestores e designers, mas não tem medo de tomar decisões difíceis se estes falharem.