Curiosidade: o motor da inovação em Produto
Por Hugo Menino Aguiar, co-fundador da Lyzer
A curiosidade, tantas vezes esquecida, merece um lugar central nas conversas sobre inovação. Vivemos num mundo onde a experiência é sobrevalorizada, mas não podemos ignorar a força transformadora da curiosidade. Albert Einstein resumiu-a de forma icónica: “Não tenho nenhum talento especial. Apenas sou apaixonadamente curioso.”
É esta paixão pela descoberta que frequentemente conduz às maiores inovações, especialmente quando enfrentamos desafios complexos. No contexto de equipas de Produto, onde a necessidade de encontrar soluções criativas é constante, a curiosidade assume um papel crucial. Esta experiência que partilho convosco demonstra isso mesmo.
O nosso desafio era melhorar o processo de recolha de encomendas em supermercados. Queríamos que os operadores fossem capazes de recolher várias encomendas ao mesmo tempo, de forma organizada e eficiente.
A solução parecia óbvia à primeira vista: desenvolver um dispositivo inteligente que orientasse os operadores, otimizando as rotas e permitindo que recolhessem produtos para diferentes clientes simultaneamente. Por exemplo, se três encomendas incluíssem iogurtes, a aplicação deveria guiar o operador a recolher todos os iogurtes de uma vez. Era um conceito lógico, mas exigia um carrinho de compras adaptado para separar as encomendas e um sistema que reduzisse deslocações desnecessárias.
No entanto, esbarrámos em limitações significativas. Não tínhamos uma equipa especializada em IoT nem um orçamento dedicado a Investigação & Desenvolvimento. Parecia um sonho distante.
Foi então que a curiosidade entrou em cena.
Decidimos começar com uma abordagem prática e acessível. Utilizámos um kit básico de IoT (Arduino) e uma ferramenta No-Code para criar uma aplicação móvel. Com estes recursos simples, conseguimos construir um protótipo rudimentar, mas funcional, que nos permitiu testar a ideia e recolher feedback real. Este processo de prototipagem rápida não só validou o conceito como nos ajudou a mitigar o risco de investir numa solução que poderia não funcionar no terreno.
A etapa seguinte foi testar o protótipo no mundo real. Montámos um carrinho de compras físico, integrado com o sistema Arduino, e levámo-lo para o ambiente de supermercado. O feedback dos operadores foi inestimável: identificaram problemas que nunca teríamos previsto e ajudaram-nos a refinar tanto a interface digital como os detalhes operacionais.
Com base nestes testes, conseguimos avançar para a fase seguinte: envolver a equipa de engenharia e transformar o protótipo inicial numa solução robusta e escalável. O resultado foi o Smart Cart Multipicking, uma ferramenta que permite aos operadores recolher múltiplas encomendas de forma eficiente, reduzindo erros e otimizando o tempo.
Este processo ensinou-me lições valiosas. Em primeiro lugar, a importância de prototipar rapidamente para aprender e mitigar riscos. Ferramentas simples e acessíveis permitem validar conceitos sem sobrecarregar as equipas de engenharia. Em segundo lugar, o valor de testar no terreno o mais cedo possível. O feedback prático revela problemas que as discussões teóricas não conseguem antecipar. Por fim, a criatividade é fundamental para ultrapassar limitações de recursos.
As equipas de Produto têm aqui uma oportunidade única: liderar a inovação com curiosidade e uma mentalidade prática. Quando unimos stakeholders, exploramos soluções criativas e testamos ideias rapidamente, desbloqueamos resultados que vão além das expectativas iniciais.
Que 2025 nos traga mais inovação, mais soluções práticas e, sobretudo, a capacidade de sermos apaixonadamente curiosos.