Como pode o Digital fazer a diferença na corrida às Presidenciais?

Por Marco Gouveia, consultor e formador de Marketing Digital, head of Digital Marketing no Pestana Hotel Group e Google Regional trainer

A campanha eleitoral outrora feita nas ruas, junto das pessoas, hoje, faz-se chegar a todas as casas por entre vários ecrãs. O toque é substituído pelo clique, as palavras pelos textos, a voz pelo áudio e o olhar pelo vídeo, mas nem por isso se perde a emoção associada ao momento, ou a sua importância.

A Internet não só facilitou e democratizou o acesso aos meios de informação e de expressão de opinião, como também representa mais uma forma de influência presente nos dias de hoje. O Digital possui, numa altura tão difícil como esta, a capacidade de colmatar lacunas que a pandemia tem vindo a criar e que não dá sinais de abrandamento.

Já fora provado anteriormente, com Barack Obama, que o potencial das redes sociais não passa ao lado da política. A sua campanha presidencial, em 2008, foi um autêntico ponto de viragem na maneira como os partidos e figuras políticas utilizam o Digital nas suas estratégias de comunicação. Provou-se que também na política é possível alcançar resultados estrondosos recorrendo ao online, investindo no relacionamento e na interacção com o eleitorado.

Veja-se o exemplo actual da mobilização conseguida através do movimento #vermelhoembelém, criado como manifesto de apoio à candidata à Presidência da República Marisa Matias, e em resposta às recentes declarações do candidato André Ventura sobre a sua imagem. Assistimos hoje, em Portugal e em todo o Mundo, à crescente importância e influência das plataformas digitais na construção de visões de Mundo, de ideias e de acontecimentos. Mais eficiente do que atingir todos os eleitores é conseguir mobilizar um público específico, fazendo com que ele se mobilize e chame a atenção dos seus amigos, familiares e conhecidos para criar algo maior, como aconteceu neste caso.

Saliente-se que o papel e eficácia das redes sociais não é algo a ter em conta apenas no período de eleições, mas permanentemente. Politiquices à parte, um excelente exemplo desta estratégia observa-se no perfil de Instagram do Bloco de Esquerda (@esquerda.net), dinamizado regularmente e não apenas em altura de eleições.

Na sua maioria, partidos e políticos servem-se, ainda, das suas redes sociais como repositórios, onde colocam conteúdo já transmitido noutros canais. Tiago Mayan Rodrigues, por exemplo, um candidato que, segundo os comentadores, teve uma prestação muito positiva nos debates presidenciais (como é visível na “Classificação geral dos debates” feita pelo Observador[1], na qual o candidato surge em segundo lugar), podia tirar muito melhor proveito das suas redes sociais, que se apresentam com uma presença deveras reduzida e que poderiam, decerto, alavancar o potencial da sua candidatura.

Podem ser feitas algumas acções, não muito complexas ou dispendiosas, para dinamizar a presença nas redes sociais, tais como  a criação de uma identidade visual única (com layouts, cores e logótipo que identifiquem os conteúdos publicados pelo candidato), a realização de lives ou webinares de Q&A’s (por exemplo, sobre os respectivos programas eleitorais), a partilha de conteúdo relevante sobre questões eleitorais de maior interesse, o incentivo da interacção com o eleitorado através dos stories, entre outros exemplos.

É preciso ainda relembrar a importância que o storytelling assume nas campanhas eleitorais. Todos nós somos feitos de histórias, por isso, as histórias criam sempre maior ligação com o público. O “típico político”, visto como uma figura séria, rígida, reservada e longínqua, já não é algo que resulte. As pessoas procuram alguém com quem se possam identificar, alguém que demonstre empatia e com quem seja possível criar algum tipo de ligação emocional.

A desvalorização das redes sociais de alguns candidatos e partidos políticos revela que a política em Portugal ainda não se apercebeu do potencial destas ferramentas enquanto meios por excelência para criar conexões. Mais grave do que isso, transmite falta de interesse sobre as opiniões da população. Felizmente, temos ao nosso dispor plataformas que não se limitam a ser canais de transmissão unidireccionais, servindo apenas para os “grandes” as usarem como mero meio de promoção quando necessitam. São ferramentas que podem – e devem – ser usadas para comunicar e a comunicação implica sempre dois lados. É preciso iniciar e manter diálogos, informar, ouvir e responder a dúvidas pertinentes.

As redes sociais são, desde sempre, um encurtador de distâncias. Como tal, podem ser a chave para uma aproximação das pessoas à política e para uma diminuição da abstenção. Temos agora a oportunidade de transformar um sistema representativo num regime verdadeiramente participativo, para o qual as novas ferramentas e plataformas digitais contribuem decisivamente. Usemo-las – e falo tanto para a população em geral, como para os próprios políticos e máquina mediática – para o bem e não apenas para expôr acusações sem fundamento e difundir mensagens de ódio aos opositores.

[1] Fonte: Observador (2021). “Veja aqui quem venceu e que notas tiveram os candidatos nos debates das presidenciais”. Acedido a 19 de Janeiro de 2021. Disponível em: https://observador.pt/2021/01/04/veja-aqui-quem-venceu-e-que-notas-tiveram-os-candidatos-nos-debates-das-presidenciais/.

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