Já conhecidos como transmissores da doença de Lyme, os carrapatos estão agora ligados a um novo risco sanitário que pode afetar não apenas quem se aventura por trilhos e florestas, mas também quem se senta à mesa. Um vírus raro e potencialmente grave, a encefalite viral transmitida por carrapatos, pode ser contraído através do consumo de leite e queijo não pasteurizados.
Pequenos e difíceis de detetar, os carrapatos transmitem habitualmente o vírus por picada. Mas em 2020, uma situação insólita em França mostrou que também pode haver contaminação alimentar: cerca de 40 pessoas adoeceram após consumir queijo de cabra feito com leite cru, proveniente de animais infetados.
As cabras não apresentavam sintomas, mas durante os primeiros sete dias após a infeção, libertavam o vírus no leite, até produzirem os anticorpos necessários. O alerta levou a Autoridade de Segurança Alimentar francesa (ANSES) a reforçar medidas de vigilância e controlo.
Desde esse episódio, a situação estabilizou: são registados cerca de 20 casos por ano, sobretudo no leste e centro de França. Ainda assim, os especialistas não baixam a guarda. O vírus, apesar de menos agressivo que outras variantes encontradas noutros países europeus, pode causar sintomas neurológicos sérios e deixar sequelas a longo prazo.
Os casos só são diagnosticados quando há suspeita clínica e o vírus é especificamente procurado, uma vez que em 80% das infeções não há qualquer sintoma. Os restantes podem manifestar-se com sinais semelhantes aos de uma gripe, seguidos de dores de cabeça, confusão mental ou perturbações cognitivas — sintomas que obrigam a confirmação por punção lombar.
A ANSES recomenda um reforço da vigilância epidemiológica, nomeadamente através de:
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Estudos serológicos (análise de anticorpos) em espécies animais “sentinela” como veados, javalis, vacas e cabras.
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Pasteurização obrigatória do leite em caso de surtos identificados.
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Gestão dos pastos, mantendo os rebanhos afastados das zonas com maior concentração de carrapatos.
Conselhos de prevenção:
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Usar roupa clara e que cubra bem o corpo, incluindo meter as calças nas meias.
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Aplicar repelente com DEET ou IR3535 nas zonas expostas.
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Fazer verificações diárias à pele, incluindo o couro cabeludo, durante vários dias após uma exposição em zonas de risco.














