Campanha no Instagram mostra que votar «é cool, sexy e imperativo»

Não é preciso sair de casa para criar uma campanha, mas é crucial que se deixe o conforto do lar para votar. Isso mesmo comprova o mais recente projecto de Inês Costa Monteiro, fotógrafa e directora criativa que decidiu contribuir para o combate à abstenção e promover a participação nas próximas eleições presidenciais a partir da sua própria sala.

Inês Costa Monteiro

Sob o mote #SairParaVotar, a campanha assenta nas fotografias de 44 pessoas, desafiadas por Inês Costa Monteiro a dar a cara pela causa. «Não houve um critério. Queria apenas que fosse uma campanha inclusiva. Acho que num tema destes não há como não incluir toda a gente. É um assunto que diz respeito a todos», refere a fotógrafa, explicando o processo de selecção por detrás do resultado final.

As fotografias que surgiram deste desafio foram publicadas no Instagram, rede social onde Inês Costa Monteiro soma cerca de sete mil seguidores. Apesar da multiplicidade de plataformas disponíveis, esta era a escolha óbvia, considerando que é hoje um local de partilha de informação relevante – e não apenas um espaço de entretenimento.

Além disso, é aqui que está o público-alvo da acção: os mais jovens. Isto porque #SairParaVotar «dirige-se sobretudo aos mais jovens ou a pessoas que nunca se interessaram pela política. No geral, a cerca de 75% da população (taxa de abstenção calculada em sondagens para estas presidenciais)».

Soma-se ainda outro factor preponderante na escolha do Instagram. Tendo em conta o cenário de confinamento e o dever de recolhimento, «não faria sentido transformá-la numa campanha física quando as pessoas, estando em casa, consomem imensa internet».

Inês Costa Monteiro espera conseguir ajudar a diminuir a taxa de abstenção, contribuindo para que os Millennials e a Geração Z (aqueles que possam votar) percebam que ir às urnas «é cool, sexy e imperativo».

Eu voto, tu votas, nós votamos

No início, Inês Costa Monteiro teve receio de que as pessoas pudessem achar a ideia descabida, que considerassem que uma fotografia tirada a partir de um telemóvel tem menos valor ou que a acusassem de se tentar aproveitar dos seguidores de quem aceitasse o desafio. «No entanto, acho que consegui passar bem a mensagem que isto não é uma campanha onde só podias participar se fosses influencer», conta a responsável.

Para recrutar participantes, fez uma sondagem no Instagram a perguntar quem gostaria de fazer parte de um novo projecto e a resposta foi clara: mais de 200 pessoas estavam disponíveis. Foi deste total que foram escolhidos os 44 protagonistas.

«Quando enviei as fotos, a resposta que mais recebi foi ‘não acredito que estou no meio de tanta gente com quem me identifico’. Fico bastante feliz por cada um ter tido orgulho de participar porque eu estou super orgulhosa por me terem concedido um pouco do seu tempo.»

Kruella D’Enfer, Diogo Faro, Ricardo Martins Pereira ou Surma são alguns dos nomes mais sonantes a integrar o projecto, mas também há espaço para rostos menos conhecidos. No geral, o feedback tem sido «maravilho», tanto que há quem lhe pergunte se ainda é possível participar.

A casa é o novo estúdio

Toda a campanha foi desenvolvida a partir do estúdio caseiro de Inês Costa Monteiro, num processo totalmente independente e sem o apoio de qualquer outra pessoa – além de quem aceitou ser fotografado.

«Esta ideia estava guardada na gaveta desde que tenho consciência política. Não tive oportunidade de a realizar antes por falta de tempo mas, sinceramente, este foi o momento certo. Depois de todo o hype que os EUA nos deram em relação à importância do voto, percebi que uma decisão destas é realmente importante. A meu ver, e transportando para o cenário político português, a falta de decisão pode ter efeitos tão graves como uma má decisão», explica a fotógrafa, justificando a aposta numa campanha deste tipo agora.

Sem violar as regras impostas pelo Governo, era preciso encontrar uma solução para tirar a ideia da gaveta. Como fotografar os participantes sem sair de casa? Ou sem que eles próprios tivessem de deixar os seus lares? Inspirada por campanhas de moda divulgadas nos primeiros tempos de confinamento (Março/Abril de 2020), Inês Costa Monteiro decidiu optar pelo FaceTime.

«Através do ring light, que me ajudou como tripé para o telemóvel, foi criada a metáfora perfeita para esta bolha onde estamos a viver: a bolha do online, a bolha da nossa casa, a bolha onde tudo acontece lá fora e nós não podemos fazer mais do que permanecer cá dentro», conta.

Todo o processo demorou menos de duas semanas. A campanha começou a desenhar-se a 8 de Janeiro e os primeiros contactos foram feitos logo no dia seguinte. Inês Costa Monteiro fotografou entre os dias 10 e 16, editou a 17 e divulgou o fruto do seu trabalho esta semana, no dia 19. Pelo meio, continuou a trabalhar noutros projectos, nomeadamente a LisbonWeek, pelo que encaixar agendas foi mesmo o principal desafio.

Fazer tudo em casa provou ser também a forma ideal para mostrar que é sempre possível dar vida a uma ideia, mesmo em condições adversas. «Se as imagens teriam ficado mais bonitas se tivessem sido fotografadas na rua? Talvez, mas a mensagem não teria sido a mesma.»

Texto de Filipa Almeida

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