Associação de Turismo dos Açores: Olhar o futuro com confiança

O arquipélago dos Açores é constituído por nove ilhas divididas em três grupos: Ocidental (Corvo e Flores); Central (Faial, Graciosa, Pico, São Jorge e Terceira); Oriental (Santa Maria e São Miguel). Enquanto destino turístico, está especialmente vocacionado para o turismo de Natureza com actividades ao ar livre, tais como caminhadas, mergulho, observação de cetáceos, entre outros. Com a pandemia causada pela Covid-19 essas actividades pararam e o destino ficou isolado, com a suspensão das ligações aéreas. Com o desconfinamento, a região tenta regressar à normalidade, tarefa nada fácil, mas que os Açores encaram com coragem, olhando com confiança para o futuro, como revela em entrevista Luís Capdeville Botelho, o director da Associação de Turismo dos Açores.

O cenário actual exige estratégias viáveis para reduzir o impacto negativo da pandemia no curto e médio prazo. Como está o arquipélago dos Açores a iniciar esta nova normalidade e que medidas tomou para reduzir este impacto?

Parece-me que ainda estamos distantes da normalidade, não só porque o número de hóspedes e de dormidas é significativamente baixo, mas também porque vamos acompanhando a evolução da pandemia e das medidas de controlo nos principais mercados emissores e verificamos que, de semana para a semana, há um reforço dessas medidas.

De facto, têm vindo a ser tomadas no arquipélago uma série de medidas, nomeadamente de apoio às empresas, para que estas possam resistir ao impacto negativo causado por esta pandemia, bem como outras de controlo implementadas pelo Governo dos Açores, que se revelam importantes para manter todos em segurança, quer os locais, como todos os que nos visitam em lazer ou em trabalho, além de que também ajudam a reforçar o posicionamento dos Açores enquanto um destino seguro.

Ao nível da promoção do arquipélago, queremos continuar a comunicar os Açores, com um especial enfoque no mercado nacional. Temos vindo a apostar na informação que prestamos aos viajantes e aos nossos parceiros, com o objectivo de minimizar os tais problemas de percepção que se verificam actualmente, pois as pessoas ainda têm algum receio de viajar, nomeadamente de avião, mostrando ter grandes reservas relativamente ao percurso até ao aeroporto, dentro de aeroporto e no próprio avião.

Para ser assertivo como deve ser o marketing do Turismo dos Açores no pós- -Covid, ou seja, que aspectos devem ser especialmente observados para chamar a atenção dos turistas?

A assertividade do marketing do Turismo dos Açores está directamente relacionada com a estratégia de promoção e de posicionamento do destino. Os Açores são um destino de natureza seguro, exclusivo e não massificado. São muitas as actividades ao ar livre que podem ser realizadas no arquipélago, pois temos a grande vantagem de sermos nove ilhas com bastante diversidade ao nível da oferta, o que oferece aos viajantes uma vasta escolha. É importante também referir que os Açores são o único arquipélago do mundo certificado como destino sustentável, o que é de extrema importância nesta fase que vivemos. Tendo em consideração todos estes argumentos, o marketing do Turismo dos Açores está focado na promoção de produtos turísticos, como o turismo de natureza, náutico, cultural e paisagístico, gastronomia e vinhos, saúde e bem-estar, golfe, incentivos e eventos. Cada produto turístico tem os seus canais próprios e as suas personas bem identificadas, e é nesse sentido que devemos investir a nossa comunicação e, desta forma, garantirmos a tal assertividade no marketing.

Nesta altura de pandemia, e tendo em consideração que existe uma redução na procura, por força não só dos problemas de percepção, mas também por todas as incertezas que existem na economia mundial, são poucas as pessoas disponíveis para viajar. Ao olharmos para estas poucas pessoas, percebemos que têm poder económico, logo o preço não é um factor determinante para uma tomada de decisão. São viajantes que levam em linha de conta outras variáveis, como a exclusividade, a segurança sanitária e a possibilidade de estar em harmonia com a natureza. Os Açores têm todos os argumentos para satisfazer essas necessidades.

Será confiança a palavra de ordem?

Sem dúvida. Temos de estar todos cientes disso mesmo, não apenas nós enquanto promotores do destino, mas toda a cadeia, começando nas entidades gestoras dos aeroportos e nas companhias aéreas, pois parece-me que é aí que reside a chave, uma vez que o maior problema das pessoas está precisamente no ir para o aeroporto e no estar dentro de um avião onde podem, ou não, existir pessoas contaminadas. Será fundamental perceber que medidas estas entidades vão implementar nos próximos tempos para conseguirmos iniciar uma nova e tão desejada normalidade.

Qual é a estratégia de promoção regional, nacional e internacional do Turismo dos Açores para o Verão e quais as expectativas relativamente aos resultados?

De facto, neste momento estamos a actuar em três frentes. É importante estimular a economia regional, pois sendo nós uma região autónoma, que neste momento praticamente não tem casos de Covid-19, é seguro circular entre as ilhas, sendo que todos os nossos parceiros e associados cumprem todos os requisitos legais, nomeadamente no que diz respeito à certificação com o selo Safe&Clean Açores. A mensagem que queremos passar é a de que estamos preparados e somos seguros, estando prontos para receber todos os turistas. Ao nível nacional, sabemos que estamos a competir de uma forma digamos que “injusta”, pois a verdade é que dependemos e muito das acessibilidades. Se no continente os turistas podem deslocar-se de carro para qualquer região, nas regiões autónomas isso não acontece, pois precisamos sempre do transporte áereo. O mesmo sucede com o turista internacional. Em relação à promoção, temos investido bastante em meios de comunicação internacionais de referência para segmentos de categoria classe A e B, que é o que faz sentido aqui nos Açores. Não sendo de todo este um destino massificado, temos de ser assertivos na nossa comunicação.

Relativamente às expectativas, temos a consciência de que estamos perante um cenário muito difícil, pelo que não são boas.

Quais os grandes desafios com que o arquipélago dos Açores se depara para sair desta “tempestade”?

Os maiores desafios neste momento estão relacionados com a dependência das acessibilidades e a percepção que os viajantes têm relativamente ao destino. De certo modo ambos os desafios fogem ao nosso controlo directo, porque dependemos muitos das entidades gestoras dos aeroportos e das companhias aéreas e das medidas que implementam para minimizar os receios dos viajantes.

De que modo se deve (re)desenhar o papel do turismo nos Açores no pós-Covid-19?

Sem querer ser mal interpretado, acho que a Covid-19 acaba por ser uma oportunidade única para os Açores. Por tudo o que enumerei anteriormente nesta nova era pós- -Covid, se há destino que tem os argumentos certos para satisfazer a procura do viajante actual por umas férias seguras com actividades ao ar livre, enquanto sinónimo de saúde e bem-estar, esse destino são os Açores. Não há grande necessidade de reposicionamento, mas vai acontecer, sim, o reforço do nosso posicionamento, sendo que internamente vamos continuar a trabalhar na requalificação da oferta.

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