Águas do Tejo Atlântico: Nada é mais circular do que a água

A economia circular assenta na transição do modelo linear de produção de bens e serviços (extracção de matéria-prima, produção, uso e descarte dos produtos) para um modelo circular, onde os materiais são devolvidos ao ciclo produtivo através da recuperação, reciclagem e reutilização em linha com a política dos “Rs”.

Para o sector da água, a circularidade da água é uma oportunidade para a adopção de novos comportamentos alinhados com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (um conjunto de 17 metas globais, estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas) com vista ao uso eficiente da água, com recurso às amplas soluções tecnológicas existentes e seguras.

Neste sector de actividade encontram-se identificados três caminhos no âmbito da economia circular: o caminho da água, o caminho dos materiais e o caminho da energia. A recuperação de recursos apresenta alguns desafios, tais como encontrar mercados dispostos a trabalhar com produtos recuperados, como alternativas para produtos recém- -fabricados ou recém-extraídos. Uma questão fundamental prende-se com a dimensão/ escala das unidades de recuperação de recursos, para que seja economicamente vantajosa a sua adopção, uma vez que a indústria e a agricultura dependem de preços altamente competitivos.

Existem ainda outras barreiras associadas a esta temática, tais como tecnológicas, a aceitação dos consumidores à utilização de recursos recuperados (dos resíduos) e ainda a questão legislativa, com o paradigma da definição de resíduos versus produtos.

A Águas do Tejo Atlântico é responsável pela gestão e exploração do sistema multimunicipal de saneamento de águas residuais da Grande Lisboa e Oeste. No âmbito da sua estratégia (e na mudança de paradigma que se encontra a implementar, que consiste na transformação das estações de tratamento de águas residuais em Fábricas de Água), a Águas do Tejo Atlântico participa em vários projectos nacionais e europeus.

Além da componente tecnológica de inovação, a comunicação deste novo conceito de circularidade é fundamental para o envolvimento dos decisores, dos produtores e restantes stakeholders, sem esquecer o principal que são os consumidores.

A economia circular, além de estar na agenda da actualidade, é um conceito intrínseco ao ADN da Tejo Atlântico. Na criação da empresa, ficou estrategicamente definida a aposta prioritária na inovação, na eficiência e no desenvolvimento de acções, práticas e objectivos alinhados com os princípios da economia circular.

Se pensarmos na questão dos Rs, então o primeiro conceito é reduzir, depois reciclar e por fim reutilizar. No entanto, a palavra “Resíduo” deve sair do léxico circular, uma vez que praticamente tudo é passível de valorização no âmbito da transformação industrial do sector da água.

O que é a Fábrica da Água?

Perante este contexto, estando explícitos os desafios dos Rs e a necessidade de alterar o actual paradigma, considerámos que seria necessário mudar mentalidades, quer no âmbito da percepção, como ao nível de práticas. Assim, decidimos criar o conceito da Fábrica de Água.

Não se trata de uma “simples” Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), para tratar efluentes. É muito mais que isso. Se olharmos para os conceitos da economia circular, inclusive para fazer a ponte com a sociedade, surge a questão: o que é que a Fábrica de Água faz/produz?

Esta instalação recebe matéria-prima e transforma a mesma em produtos finais. No caso das Fábricas de Água do Tejo Atlântico, recebemos a matéria-prima, efluente, que vai ser tratada e, por fim, reutilizada, em perfeita sintonia com os conceitos da economia circular. Entrada de efluente, tratamento e subprodutos finais (água reutilizada, lamas para agricultura, biogás para produção de energia verde).

Assim, todos os players do sector da água são parte activa nesta actividade de reutilização e reintrodução dos produtos reciclados nos novos processos produtivos. Estes têm vantagens claras para a sociedade.

Para materializar este conceito da Fábrica de Água, criámos uma marca para água de reutilização denominada água+.

É uma marca diferenciadora que, além de ser de reutilização, pode e deve ser usada na lavagem de ruas, rega de jardins e indústria e alia consigo a redução do consumo de água potável. Este conceito de uso de água+ foi fortalecido com a criação de uma marca de cerveja artesanal chamada VIRA, produzida com água+. Esta marca cervejeira surge no mercado com duas variantes, apelidadas Blonde e American IPA.

Virar conceitos, virar mentalidades e virar práticas, suporte que demonstra também a nossa capacidade para afinação do processo de produção da água+, ao ponto de se poder beber numa cerveja. Perante isto, temos condições de produzir água+ em quantidade, com as características e qualidade adequadas a cada fim.

Uma nova marca para a agricultura

Todas as Fábricas de Água produzem lamas resultantes dos processos de tratamento. Ora esta lama tem um grande potencial agrícola, com a vantagem de não ser de origem química, como outros fertilizantes.

Os operadores de recolha de lamas das Fábricas de Água transformam as lamas em composto para a venda aos agricultores. Tendo em conta este potencial, e as necessidades de grande parte dos solos portugueses, que são pobres em matéria orgânica, criámos a marca Biolamas+.

Acreditamos que, pelo facto de se tratar de um ciclo, o da economia circular, todos os conceitos e marcas desenvolvidos pela Tejo Atlântico têm como objectivo não só a implementação no nosso quotidiano de boas práticas ambientais, bem como dar notoriedade e ligação emocional às mudanças de mentalidades de que a sociedade necessita.

É que precisamos mesmo de VIRAr.

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