Granado: Autenticamente brasileira
Com uma herança marcada por momentos icónicos, a Granado soube modernizar-se sem perder de vista os seus valores fundadores. Sissi Freeman, directora de Marketing e Vendas, recorda produtos emblemáticos que ajudaram a consolidar a reputação da marca, numa viagem que se desenrola até às recentes inovações, que equilibram tradição e sustentabilidade, sem ignorar os desafios enfrentados na internacionalização da marca.
Fundada em 1870, a Granado tem vindo a transformar-se. Quais os momentos mais marcantes da história da marca e qual o principal objectivo quando foi criada?
A Granado é uma das marcas mais tradicionais do Brasil, nascida na época em que a Corte Real Portuguesa ainda residia no Rio de Janeiro. A loja da Granado que, na altura, funcionava como farmácia, ficava perto da residência oficial da Corte, e o imperador D. Pedro II era um cliente fiel. A marca teve vários momentos históricos: no Brasil, chegámos até a organizar uma exposição para contar um pouco sobre esses 150 anos. Um dos marcos foi o título de farmácia oficial da família imperial brasileira, concedido pelo próprio D. Pedro II, em 1880. Outro momento importante foi a inauguração das novas lojas conceito, no início dos anos 2000, que foram responsáveis por estabelecer a nova identidade da Granado. Mais recentemente, destaca-se a internacionalização da marca, que começou em 2013.
Quais os produtos icónicos lançados pela Granado ao longo da história e que ajudaram a consolidar a sua reputação?
O produto mais icónico é, sem dúvida, o Polvilho Antisséptico, criado em 1903. Seguiu-se o sabonete de glicerina, lançado em 1915, que foi o primeiro no Brasil a usar base vegetal na sua produção. Actualmente, a nossa fragrância Carioca também é um item icónico da marca. Começou como uma eau de toilette temporária e hoje encontra-se em vários produtos, como sabonetes, difusores e velas, tornando-se um best-seller.
Como é que a marca evoluiu desde a sua fundação até aos dias de hoje, especialmente em termos de produtos e mercado?
A Granado nasceu como farmácia e produzia remédios à base de plantas e ervas cultivadas na quinta do seu fundador, na região montanhosa do Rio de Janeiro. Com o tempo, começou a diversificar a sua gama de produtos, incluindo o sabonete de glicerina e alguns elixires de beleza. Muita coisa mudou desde então, especialmente no que respeita à inovação e modernização da empresa. Passámos a atingir outros mercados, como o infantil e o de perfumaria, tornando-nos a perfumaria mais tradicional do Brasil. Contudo, o que continua a sustentar a qualidade dos produtos é a valorização dos ingredientes naturais, tal como o fundador fazia no século XIX.
Como é que a Granado se posiciona actualmente no mercado de cosméticos e produtos farmacêuticos?
Hoje, a Granado posiciona-se como uma perfumaria e uma empresa de cosméticos e bem-estar. Os nossos principais produtos são focados em higiene e cuidado pessoal, e a nossa linha mais premium é a de perfumaria, que é o portefólio que trabalha essencialmente na Europa e nos Estados Unidos.
Quais os principais desafios enfrentados pela Granado no mercado global de hoje, e como têm lidado com os mesmos?
No Brasil, a Granado está consolidada e é difícil encontrar alguém que não conheça a marca. No exterior, temos de enfrentar grandes concorrentes internacionais. A nossa maior dificuldade é encontrar o nosso espaço no meio de tanta concorrência. Mas acreditamos que o nosso factor diferencial está na qualidade e na identidade, essencialmente brasileira, com ingredientes nativos do país e uma personalidade tropical, que atrai a atenção do cliente europeu por fugir ao padrão habitual.
Quais as inovações mais recentes da Granado, tanto em termos de produtos quanto de processos de produção?
A empresa procura sempre modernizar-se em termos de produção. Temos uma fábrica própria no interior do Rio de Janeiro, que gera muitos empregos na região e da qual nos orgulhamos. Procuramos constantemente melhorar a forma como produzimos os nossos produtos, respeitando sempre a biodiversidade brasileira. Este ano, por exemplo, a fábrica recebeu um certificado importante de Lixo Zero na sua produção.
Em termos de produtos, o foco da nossa perfumaria é não ser convencional, trazendo novidades e ingredientes inovadores que estão em harmonia com a identidade e tradição centenária da Granado. Trabalhamos em parceria com perfumistas conceituados mundialmente e fazemos questão de enaltecer a perfumaria brasileira, usando ingredientes típicos do país. Nesse sentido, não é difícil encontrar um ingrediente inusitado nas nossas fragrâncias. Por exemplo, acabámos de lançar um perfume que combina notas de pistácio e cenoura, que está a ser muito bem aceite pelos nossos clientes.
Como a Granado equilibra a sua herança histórica com a necessidade de inovação e sustentabilidade no contexto actual?
A documentação de toda a história da Granado foi essencial para guiar o nosso presente e futuro. Temos um acervo rico com materiais que vão desde frascos antigos a peças publicitárias do início do século XX. Essa herança é a nossa maior riqueza e a nossa bússola para tudo o que fazemos hoje, por isso, encontrar esse equilíbrio não é difícil quando se tem uma história tão bem estabelecida e preservada. Fomos uma das primeiras empresas no Brasil a não fazer testes em animais, mesmo sem obrigação. Esse compromisso sempre esteve presente. Hoje, o compromisso socioambiental continua a ser um dos maiores pilares da empresa, documentado anualmente num relatório. Procuramos trabalhar com os melhores fornecedores de matéria-prima que partilhem o mesmo respeito e compromisso pelo meio ambiente que nós. As nossas fórmulas são continuamente revistas para serem melhoradas e adaptadas ao contexto actual do consumidor.
A primeira loja conceito Granado chegou a Portugal em 2022. O que define uma loja conceito e quais foram as motivações para essa decisão de abrir uma loja em Lisboa?
Procuramos criar um espaço onde o consumidor conheça a nossa história, a qualidade dos produtos e a valorização da cultura e biodiversidade do Brasil. As nossas lojas oferecem uma experiência sensorial, com texturas, cores e cheiros únicos. Lisboa é um local muito importante para nós. O fundador da Granado era português e, no seu testamento, expressou o desejo de ver a marca que criou de volta ao seu lugar de origem. Estar em Portugal, para nós, é o cumprimento desse desejo. Temos uma forte ligação ao país e aos consumidores portugueses.
Como é que os produtos da Granado têm sido recebidos em Portugal e qual o impacto no mercado europeu?
As nossas fragrâncias têm despertado o interesse dos consumidores europeus por não serem convencionais. Todas elas têm um toque inesperado, com ingredientes diferentes, muitas vezes exóticos. Fogem ao senso comum das marcas europeias, oferecendo um novo mundo de possibilidades. O Brasil é um país de muitas cores e perfumes, e isso chama a atenção. Enquanto as marcas tendem a seguir uma linha minimalista, a Granado apresenta folhagens, cores vivas e elementos da fauna e flora brasileira estampados nas embalagens, nas montras das lojas e em projectos incríveis e ousados, como as pop-ups em locais tradicionais, como as Galerias Lafayette e Liberty.
Quais os principais pontos de venda da Granado em Portugal, e como têm adaptado a sua estratégia de marketing?
Estamos a expandir cada vez mais em Portugal. Além da loja conceito no coração do Chiado, temos pontos de venda na Casa da Guia, em Cascais, e na Comporta, e estamos também em pontos de venda de parceiros estratégicos da marca como a Perfumes & Cia e a Be We, onde acabámos de expandir o nosso espaço. Procuramos compreender cada vez melhor o nosso consumidor português, com parceiros estratégicos, para interagir com eles de forma mais eficaz.
Para o futuro, quais os próximos passos?
A Granado está em constante movimento. Temos muitas novidades para o futuro! Recentemente, alcançámos a marca da nossa loja número 100 no Brasil e, em breve, abriremos uma nova loja no SoHo, em Nova Iorque. Além de lançamentos de produtos imperdíveis para 2025, estamos a expandir cada vez mais pela Europa. Vão ver a Granado cada vez mais por aí!
» Sissi Freeman, directora de Marketing e Vendas da Granado
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Especial Natal”, publicado na edição de Novembro (n.º 340) da Marketeer.