Fidelidade: O efeito borboleta

Por Sérgio Carvalho, director de Marketing da Fidelidade

Será chegado o momento de seguir. Mais despertos do que há dois anos, mais cientes da força e do impacto do desconhecido, mais atentos também à importância da prevenção, da gestão cuidada dos riscos, sobretudo globais, e da necessidade de pensar e preparar o futuro.

Talvez sejam estes os maiores ensinamentos que podemos retirar de um vírus que inesperadamente surgiu e que teve o poder de impactar o mundo e a todos de igual forma, indiferente a factores como fronteiras, desenvolvimento económico, políticas ou religiões. Um vírus que a todos uniu em torno de um objectivo comum, exterminá-lo, e que nos desafiou a concertar esforços, partilhar conhecimento e alinhar estratégias de actuação para derrotá-lo.

Um vírus que teve o poder de se sobrepor a muitos desígnios e também de nos fazer valorizar a vida e que talvez tenha, pelo menos a alguns, relembrado a máxima de Herbert Spencer – «A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro».

Podemos facilmente associar esta referência à actual discussão sobre a vacinação, ao confinamento imposto que todos tivemos de respeitar, mas, querendo ir um pouco mais longe, o que estes dois anos tornaram claro foi a necessidade urgente de pensarmos globalmente, de percebermos que as decisões que tomamos, os nossos actos individuais, enquanto cidadãos, empresários, países, condicionam o todo. Positiva ou negativamente. Da mesma forma que, na medida em que podíamos contribuir, nos unimos para fazer face a uma pandemia, temos também o dever de perceber que é urgente concertar a forma como agimos para enfrentar os riscos que globalmente temos pela frente, porque cada passo que dermos individualmente afectará, de forma sem precedentes, o futuro de todos.


OS RISCOS DO FUTURO

Os riscos que nem sempre são de fácil percepção são, muitas vezes, aqueles que, apesar da sua diminuta probabilidade de ocorrência, maior impacto vêm a ter nas organizações, nas pessoas e no mundo.

Foi o caso do coronavírus. Apesar da pouca atenção que inicialmente o mundo lhe concedeu, quando as primeiras notícias começaram a chegar de Wuhan, acabou por se materializar num protagonista mundial que teve a capacidade de parar a sociedade global e de alterar a forma como hoje encaramos o desconhecido ou os riscos imprevisíveis.

Na verdade, em muitos dos estudos que têm sido realizados pós-pandemia, o risco de pandemia/propagação rápida de doenças infecciosas ocupa os primeiros lugares na preocupação de muitos, pelo que é premente encontrar resposta para esta preocupação.

Na actividade seguradora, concretamente, as pandemias constituem exclusões de muitos dos seguros de vida e de saúde e a Covid-19 mostrou que esta é certamente uma matéria que irá desafiar seguradoras e resseguradoras nos próximos anos.

Na Fidelidade, apesar destes riscos estarem, de facto, excluídos dos nossos seguros de saúde e de alguns dos nossos seguros de vida, não hesitámos e continuámos a proteger e a cuidar das famílias e das empresas. Nomeadamente, apesar das epidemias e pandemias serem excepções nos produtos de Funeral e Protecção Vital Família, porque queremos assegurar a melhor protecção das pessoas e estar ao lado delas neste contexto, não estamos a considerar essa exclusão nestes produtos.

A nível da saúde, porque somos um sector estratégico e temos o dever de continuar a tratar dos nossos clientes, embora os seguros de saúde excluam expressamente custos relacionados com pandemias, colocámos de imediato a nossa plataforma de medicina online disponível para a Covid-19, quer para consultas e esclarecimentos, quer para a prescrição de medicamentos, exames e testes. E quanto aos testes ainda fomos mais longe. Isentámos os nossos clientes do respectivo co-pagamento e trabalhámos no sentido de convencionar uma rede, celebrando acordo com os maiores grupos laboratoriais do País, para a realização dos testes sem que o cliente tivesse de despender dinheiro.

Lançámos, em tempo recorde, o primeiro Avaliador de Sintomas no mercado segurador português e chegámos a disponibilizá- lo a todos, no início de 2021. E mais: o Grupo Fidelidade assinou, em Abril de 2020, um Protocolo com a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) para assistir, durante esta fase de pandemia, os clientes não referenciados pelo Sistema Nacional de Saúde e com a vacinação recomendada pela Direcção-Geral da Saúde em cada momento, no âmbito do tratamento da Covid-19, apesar da prática internacional excluir o risco de pandemia dos seguros de saúde.

Foram muitos os esforços para continuar a assistir e a cuidar, mas sabemos que os contratos de seguro terão de ser revistos para poder responder a momentos como este, que poderão tornar-se recorrentes. Esta actuação terá de ser concertada. Podemos abrir caminho, como drivers de mercado que somos, mas esta actuação terá de ser entendida como essencial por todos os players e certamente irá exigir também um envolvimento de resseguradores mundiais, que terão aqui um papel essencial na futura protecção de todos. A actuação de uns condicionará o futuro de muitos, pelo que é imperativo agir no imediato e de forma sinérgica.


ATAQUES CIBERNÉTICOS

Outra das consequências imediatas destes dois últimos anos foi o exponencial desenvolvimento da tecnologia, que tantas mudanças está a aportar na forma como consumimos, trabalhamos e até nos relacionamos. Com aspectos muito positivos, há um risco com o qual todos nos devemos preocupar e que parece reunir consenso em torno das maiores preocupações das empresas – o risco cibernético.

O cenário de ameaças cibernéticas continua a crescer e as organizações precisam de respostas para lidar com estas exposições. A gestão dos riscos associados tornou-se uma parte fundamental da adaptação das operações às novas tecnologias, porque se a digitalização dos processos e do próprio trabalho corresponde a um momento na história com possibilidades incríveis, por outro lado, também traz consigo grandes riscos e os ataques cibernéticos são hoje um grande desafio para grande parte das empresas.

A vulnerabilidade de uma empresa perante a ameaça de riscos informáticos é multidireccional, abrangendo a segurança da rede, propriedade intelectual e privacidade. Qualquer organização que armazene dados pessoais e corporativos de clientes está exposta a ataques de hackers, falhas na segurança do sistema, divulgação pública de dados, contaminação de bases de dados por vírus, entre outros. Nas empresas, as principais situações resultantes de ataques cibernéticos estão relacionadas com ciberextorsão, pirataria de dados confidenciais, acesso a dados por negligência ou erro de colaboradores e falhas de segurança e acessos não autorizados.

Tudo isto pode afectar uma empresa de forma incalculável, não apenas pelos riscos a nível de reputação, mas também pelas perdas financeiras que poderão não ser recuperáveis para muitas organizações.

Isto exige que encaremos esta nova realidade de forma responsável, encontrando soluções de protecção que passam pela interacção de muitos sectores da sociedade, desde o judicial, obviamente, às seguradoras que têm de encontrar protecção credível para estes riscos, mas também pela informação sobre esta realidade, que tem de ser massificada de forma a educar as sociedades. Quantos de nós não tendem ainda a classificar este tipo de crimes como menores ou até como úteis, quando expõem ou trazem a público actividades de terceiras partes? Há até um certo “glamour” nos hackers, uma tendência a considerá- los como os Robin Hood do século XXI, quando a sua actuação pode colocar em causa a solvabilidade e reputação de empresas, até de países, afectando individualmente a vida de muitos. É urgente assim a concertação de vários sectores e desde logo a actividade seguradora será chamada a desenvolver soluções de protecção robustas para empresas, mas também para famílias.

Na Fidelidade demos já os primeiros passos com o seguro Cyber Safety para PME e o Cyber Famílias, mas sabemos que temos um caminho a percorrer, nomeadamente na sensibilização dos nossos clientes para a importância deste tipo de protecção, bem longe do nosso sector tradicional de actuação.


CATÁSTROFES AMBIENTAIS E CLIMÁTICAS

E, depois, acima de tudo o que possamos elencar como novos ou emergentes riscos, aos quais teremos de aprender a dar resposta no futuro, estão aqueles que, muito por fruto da actuação de todos nos últimos anos, podem de facto, irremediavelmente, afectar a Vida e que são não mais do que a resposta do nosso planeta ao nosso modo de vida.

A ocorrência generalizada de eventos climáticos extremos, como tempestades, longos períodos de seca, cheias ou incêndios, tem um impacto mundial, mas certamente consequências mais extremas nos países com menores capacidades económicas e infra- estruturas, o que poderá significar ainda problemas adicionais, como migrações massivas e acrescidos problemas sociais.

É imperativa uma acção concertada a nível de organizações mundiais, governos, sociedades, que permita investir numa gestão de riscos mais abrangente, numa visão 360º e na consciencialização do papel de todos na preservação do ambiente, porque isso implica a sustentabilidade futura de todos nós.

Este é o maior de todos os riscos e a actividade seguradora terá também um papel determinante. As alterações climáticas e a urgência de mitigar os seus efeitos marcarão certamente a estratégia de análise e desenvolvimento de investimentos responsáveis na Fidelidade, quer na nossa gestão ambiental interna e na gestão dos processos com os nossos parceiros e clientes, onde temos vindo a consolidar boas práticas de desmaterialização e poupança de recursos, mas também na consciencialização de todos para a importância da adopção de comportamentos ambientais sustentáveis, muito através do desenvolvimento de soluções, complementares aos nossos produtos de protecção, que permitam a introdução de comportamentos diários mais sustentáveis, por exemplo, adoptando formas alternativas de mobilidade. Porque sabemos que o efeito borboleta a todos envolve e o ambiente, ou melhor, o nosso planeta já não pode esperar mais por uma actuação consciente de cada um.


E
ste artigo faz parte do Caderno Especial “Seguros”, publicado na edição de Fevereiro (n.º 307) da Marketeer.

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