Accenture: «Temos o dever de utilizar a tecnologia para fazer o bem»

Pode a sustentabilidade ser a nova digitalização? Patrícia Faro Antunes, directora de Sustentabilidade da Accenture Portugal, sublinha que é essa a convicção da multinacional de serviços profissionais, líder em capacidades digitais, cloud e security. Por isso mesmo, a preocupação com o ambiente e com temas como a inclusão ou a diversidade constitui um dos principais eixos de actuação, tanto a nível local como global.

 

Qual é a abordagem da Accenture ao tema da sustentabilidade? Quais são os principais eixos e objectivos?

O conceito de sustentabilidade não é algo novo para a Accenture e já faz parte do nosso ADN de negócio e corporativo. Mas sentimos, de facto, que a crise pandémica associada à Covid-19 veio acelerar a necessidade de todas as organizações, empresas, sector público e, mesmo, cidadãos entenderem realmente este conceito e unirem esforços para uma resolução rápida, inteligente e justa dos grandes desafios que nos tocam a todos.

Estamos convencidos de que a sustentabilidade é a nova digitalização e irá transformar a forma como vivemos e trabalhamos, gerando novas fontes de valor e crescimento, para todos sem excepção. Neste sentido, na Accenture assumimos o compromisso de cumprir a “sustainable value promise” – incorporar a sustentabilidade em tudo o que fazemos e com todos aqueles com quem nos relacionamos, gerando valor 360º para todos os nossos stakeholders.

Para cumprir a promessa de criação de valor sustentável, a Accenture tem por base quatro pilares estratégicos: Sustainability by design (criação e inovação em todos os processos dentro da organização); Serviços de sustentabilidade (concebidos para apoiar os clientes); Responsible company (adesão aos mais altos padrões nas áreas ESG); e Responsible citizen (compromisso de criar sucesso partilhado e um futuro mais ético e inclusivo).

Estamos conscientes de que nenhuma organização terá sucesso se não incorporar o conceito de sustentabilidade no seu modelo de negócio. A questão que se coloca é: a que velocidade? Eu diria que tão rápido como se a nossa sobrevivência dependesse disso, porque, na verdade, é mesmo disso que se trata.

 

Em que medida é que o compromisso da Accenture com a sustentabilidade tem impactado toda a cadeia de valor da empresa?

Graças ao nosso profundo conhecimento em mais de 40 indústrias, experiência tecnológica e uma cultura de inovação para criar valor 360º, trabalhamos com algumas das maiores empresas a operar no nosso país, ajudando-as também a prosperar em todos os pilares da sustentabilidade. A promessa de criação de valor sustentável é transversal, sendo que o nosso objectivo é galvanizar e apoiar clientes, parceiros, fornecedores e outras partes interessadas no seu caminho para o desenvolvimento de estratégias sustentáveis.

Um dos projectos que temos vindo a desenvolver ao longo deste ano consiste na implementação de um plano de compras sustentável e da inclusão de critérios de sustentabilidade na avaliação de propostas e na avaliação de fornecedores. Também as nossas alianças se tornaram fundamentais: partilhamos com os nossos parceiros as melhores práticas e colaboramos com a nossa rede de alianças tecnológicas para ajudar os clientes a inovar e melhorar o seu desempenho.

Procuramos, ainda, ser parte activa nas parcerias, contando já com mais de 15 associações empresariais e comerciais no mercado nacional e internacional na nossa rede de parcerias, por exemplo, o BCSD Portugal, a APEE, o Global Compact Network Portugal, a GRACE e a APPDI.

 

A Accenture está comprometida com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Que trabalho tem sido feito?

É uma das principais prioridades da Accenture, tanto a nível global como local. Integramos os ODS na nossa estratégia de forma a serem o desígnio da nossa actividade e, assim, endereçar uma série de desafios globais críticos, como a saúde, a inclusão e diversidade, a sustentabilidade ambiental, entre outros.

Anualmente, fazemos uma análise da nossa contribuição para os ODS, identificando aqueles que são claramente prioritários, secundários e aqueles para os quais contribuímos de forma indirecta.

Em 2021, avançámos no cumprimento do ODS 13 (acção climática), atingindo 100% de energia renovável nos nossos escritórios, em Portugal; alcançámos 43% de mulheres na nossa força de trabalho em Portugal, no seguimento do objectivo de atingir a paridade de género até 2025 (ODS 5), e doámos 54 milhões de dólares a nível global para apoiar nos danos causados pela Covid-19, contribuindo para os ODS 10 (redução das desigualdades) e ODS 17 (parcerias).

 

Traçaram como objectivo atingir a neutralidade carbónica em 2025. Que acções têm sido tomadas?

Para atingir a neutralidade carbónica em 2025, a Accenture já possui um plano estratégico definido no sentido de reduzir as suas emissões, sendo que parte das acções deste plano já se encontram em curso. Entre elas, destacamos: a adesão ao Business Ambition 1,5º, assumindo um compromisso aprovado pela SBTi de reduzir em 11% as suas emissões de âmbito 1, 2 e 3 até 2025, a partir da baseline de 2016; ou a implementação de projectos de nature-based carbon removal para compensar as emissões que não conseguimos evitar, entre outros.

 

Quais as acções de responsabilidade social promovidas pela Accenture Portugal para mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19 em Portugal?

Temos vindo a promover acções para dar resposta aos efeitos negativos da pandemia, nomeadamente através de doações corporativas e do programa Give2Help Emergências, que permite aos colaboradores da Accenture contribuir monetariamente para causas urgentes e que necessitem de apoio imediato, como foi o caso da doação no âmbito da Covid-19 e de apoio às populações afectadas pelo vulcão La Palma.

É o segundo ano consecutivo em que desenvolvemos campanhas neste âmbito. Em 2020, levámos a cabo uma angariação de fundos para apoiar a Cruz Vermelha Portuguesa na aquisição de material hospitalar de protecção individual. Este ano, apoiámos a Fundação S. João de Deus, na compra de camas hospitalares e equipamentos relacionados, bem como o Banco Alimentar.

 

Na área da responsabilidade social, que outros temas têm merecido a atenção da Accenture?

Na área de corporate citizenship – responsabilidade social – trabalhamos diariamente com o ecossistema de parceiros para encontrar soluções para os principais desafios da sociedade. Além disso, na Accenture, defendemos uma estratégia assente na construção de uma sociedade mais sólida ao nível do conhecimento tecnológico e estamos comprometidos com a criação de ferramentas que permitam dar resposta a estes problemas.

Sendo uma empresa global líder na área da tecnologia, a Accenture tem o dever de utilizar a tecnologia para fazer o bem, identificando, antecipando e gerindo de forma proactiva as consequências da sua utilização. Neste contexto, podemos destacar a nossa plataforma digital +Competências, que disponibilizamos a organizações para o desenvolvimento de competências que consideramos essenciais para qualquer tipo de perfil e fundamentais para a empregabilidade.

Além disso, lançámos em Março de 2021 uma outra plataforma digital, a +digiaula, disponível a qualquer pessoa que tenha interesse em desenvolver as suas competências digitais, essenciais no mercado de trabalho e, até, competências mais técnicas como as de programação. O objectivo é criar bases aos utilizadores para melhorar a empregabilidade.

 

Como é que estes valores têm sido transmitidos a nível interno?

A Accenture está inteiramente comprometida em proporcionar uma experiência única, tanto a nível pessoal como profissional, a todos os seus colaboradores. Promovemos um ambiente de trabalho saudável a nível físico e mental e procuramos potenciar a sustentabilidade dentro da organização, nas suas três vertentes ESG (Environment, Social e Governance).

Os nossos profissionais são uma peça fundamental para o cumprimento da nossa “sustainable value promise”, pelo que fazemos questão de incutir os valores da sustentabilidade no seu percurso profissional. Na área formativa, lançámos um programa digital na área da sustentabilidade – “Sustainability Quotient” – que disponibiliza vários cursos, nomeadamente em economia circular, carbono e clima, sustainable cloud, entre outros.

Temos também o programa dos embaixadores do ambiente, através do qual os nossos colaboradores aderentes têm a oportunidade de aprender as mensagens-chave da área e quais as melhores práticas a aplicar no dia-a-dia e nas actividades que realizamos na organização.

 

Como é que a Accenture mede o retorno que a actividade nestas áreas aporta à marca?

O valor da marca Accenture pode ser medido e acompanhado de várias formas. Actualmente, qualquer organização, principalmente aquelas cotadas em bolsa, como é nosso caso, é extremamente escrutinada por diversos stakeholders. Os accionistas já não encaixam no típico perfil de investidor focado em lucro, passando a ser uma entidade altamente interessada em todos os temas ESG, no real impacto no meio ambiente e na sociedade, além de exigirem um leque de indicadores rigoroso. E o que podemos observar nos últimos dois anos é que o valor em bolsa da Accenture subiu mais de 80%, atingindo cerca de 370 dólares.

Além dos shareholders, temos os nossos colaboradores, que são a parte mais importante do que é a nossa marca. Desde a capacidade de atracção de talento até à permanência e desenvolvimento das pessoas, passando pela experiência do colaborador, em todas estas áreas possuímos planos de trabalho com ferramentas e indicadores de monitorização que nos permitem avaliar o retorno e desempenho para continuar a melhorar.

A maioria dos nossos clientes tem uma relação de longa data connosco e confia na nossa capacidade de entregar valor a 360º. Aquilo que os nossos clientes esperam de nós é que continuemos a garantir esse grau de entrega, mas incluindo, e demonstrando, toda a componente de ética e compliance, protecção, preservação e restituição ambiental, bem como a geração de impacto social positivo na nossa comunidade e na deles próprios. Por isso, para além de sermos avaliados quando apresentamos uma proposta com todos estes requisitos, no ano passado, realizámos uma auscultação aos nossos stakeholders.

Dessa análise, envolvendo mais de 4000 inquéritos para colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros, alumni, entre outros, foi possível estabelecer uma matriz de materialidade com os tópicos mais relevantes para todos os nossos stakeholders e constatámos um enorme alinhamento com a nossa visão estratégica. Outra forma de medir o retorno dessa actividade na marca Accenture é através dos reconhecimentos e prémios que, de forma sistemática, nos são atribuídos pelas instituições mais credíveis e relevantes na sociedade civil.

 

Qual é o orçamento destinado a acções de responsabilidade social e sustentabilidade em 2021? E que evolução representa em relação a anos anteriores?

Na Accenture, trabalhamos para um modelo de negócio sustentável como um todo. Todas as nossas acções servem um propósito e pretendem realmente gerar impacto positivo em todos os nossos stakeholders. Assim, torna-se complexo identificar todo o investimento em acções de sustentabilidade, dado que estas podem ser medidas de forma directa ou indirecta.

De qualquer forma, existe uma área específica onde gerimos todas as acções directamente relacionadas com estes temas, que designamos por Responsible Business. No último ano fiscal, através das acções levadas a cabo por esta área, a Accenture investiu um valor superior a 350 mil euros. Para este ano fiscal, prevemos um investimento superior a 600 mil euros, o que representa um aumento de cerca de 70%.

 

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Sustentabilidade e Responsabilidade Social”, publicado na edição de Dezembro (n.º 305) da Marketeer.

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