Beta-i: «Nascemos em tempo de crise e voltamos a ‘renascer’ num período de crise»

Já com 10 anos de experiência na bagagem, a Beta-i tem vindo a evoluir de uma associação para uma plataforma tecnológica. Agora, dá mais um passo em frente ao apresentar o resultado final de um rebranding total da marca e de uma revisão ao posicionamento.

A Beta-i é, hoje, uma consultora à escala global, focada exclusivamente na inovação colaborativa. Neste sentido, abriu também o seu primeiro escritório além-fronteiras, sendo que o Brasil foi a geografia escolhida para esta aposta na internacionalização. Soma ainda projectos e clientes em mais de 20 países.

A mais recente mudança começou a desenhar-se há cerca de dois anos, logo depois da fusão com a Couture, tal como explica Pedro Rocha Vieira, CEO e co-fundador da Beta-i. Em entrevista à Marketeer, conta que com o fim de 2019 veio também o fim de uma era. «Encerrámos a associação e assumimos um novo posicionamento», afirma.

O responsável adianta ainda como a pandemia de COVID-19 está a impactar a Beta-i e quais os próximos passos desta organização, que diz adeus por agora aos eventos e à área da educação. «Nascemos em tempo de crise há uma década e voltamos a “renascer” num novo período de crise», sublinha Pedro Rocha Vieira.

A Beta-i está agora a concluir um processo que já vem a ser trabalhado há algum tempo. O que motivou o rebranding? 

Este rebranding é fruto de uma evolução que começou há três, quatro anos mas que ganhou novo fôlego a seguir à fusão com a Couture, há cerca de dois anos, quando começámos a reorganizar o nosso posicionamento e redefinir as nossas áreas de actuação. Começámos a testar mais aplicadamente novas áreas de negócio e demos início a uma fase de internacionalização, mais abrangente e com novos modelos de parceria.

No final do ano passado, terminámos definitivamente uma era. Encerrámos a associação e assumimos um novo posicionamento focado na inovação colaborativa, um território onde temos vindo a trabalhar há vários anos, deixando de actuar para já nas áreas de educação e grandes eventos.

Em simultâneo, assumimos também uma presença mais global, com a construção de novos ecossistemas em novas geografias, fora de Portugal, e começámos também a querer ser vistos como uma consultora de referência.

Como tal, a imagem que tínhamos já não reflectia toda a nossa actuação global e a nossa forma de estar ainda mais colaborativa. De forma a mostrarmos o nosso novo posicionamento de forma coerente e estruturada, precisámos assim de fazer um refresh à marca, que reflectisse esta ideia de colaboração entre startups, empresas e ecossistemas locais e co-criação de novas soluções para problemas reais, que é a parte integrante do nosso ADN.

Talvez a parte mais interessante deste processo é que a mudança da marca, do posicionamento e da oferta ao mercado, tem tanto um olhar para o futuro quanto um recap, um catch-up da evolução recente da Beta-i. Muito do que estamos a falar neste momento já é uma realidade tangível, como a actuação colaborativa em projectos para clientes em quase 20 países, nos cinco continentes.

Trabalharam com alguma agência neste processo? Qual foi o briefing dado?

A nova marca foi desenvolvida pela MU, um estúdio boutique de estratégia, criatividade e design, com experiência com clientes globais como os canais de televisão Fox, FX, National Geographic e a revista Vice. O estúdio é liderado por Moira Abramzon, designer gráfica com 20 anos de experiência nos Estados Unidos da América, Itália e Argentina, e que conseguiu captar perfeitamente o nosso ADN na nova imagem.

Ainda antes de passarmos um briefing à agência, utilizámos internamente a nossa própria forma de estar e trabalhar – a colaboração –  para chegar ao novo posicionamento e à história que queríamos contar. Para isso, foi necessário envolver a visão dos fundadores sobre o futuro, a cultura trazida pelos colaboradores mais antigos e a ambição dos colaboradores mais novos. Só depois a agência começou a trabalhar numa imagem final, da qual todos se sentissem parte.

A partir daí, o briefing foi bastante concreto: era necessário reflectir a maturidade e solidez que conquistámos nos últimos 10 anos e que permite a nossa afirmação como uma consultora global; era necessário representar de forma clara a ideia de colaboração entre empresas, startups e comunidade como um todo para resolver os desafios do novo mundo; e, por fim, era preciso ser algo que sentimos, vestimos, acreditamos e em que temos orgulho.

Foi desta forma que chegámos ao desenho de marca e tagline que a acompanha, que nada mais é do que uma afirmação do que temos feito nos últimos anos. Conseguimos assim alcançar uma marca potente a nível de síntese, solidez e frescura ao mesmo tempo.

A mudança de imagem é acompanhada por um reposicionamento. O que define, agora, a marca Beta-i?

A Beta-i é hoje uma consultora de inovação colaborativa com alcance global, que une grandes empresas, milhares de startups de todo o mundo e ecossistemas locais para resolver os desafios do novo mundo e trazer resultados reais que beneficiem todos os envolvidos. Somos responsáveis pela gestão de projectos de inovação colaborativa e desenvolvimento de ecossistemas de inovação para clientes em quase 20 países e possuímos uma vasta experiência no universo da transformação de negócios, sendo um dos agentes responsáveis pela construção do caso de sucesso de inovação tecnológica de Lisboa, reconhecido globalmente. Somos, assim, cada vez mais uma organização de ambição e acção global. Isso é uma realidade, não uma visão.

Todas estas alterações surgem em contexto de crise. De que forma estão a ter de se ajustar à pandemia?

Nascemos em tempo de crise há uma década e voltamos a “renascer” num novo período de crise. Toda esta mudança já estava nos planos, mas diria que a evolução que estamos a comunicar neste momento foi feita na altura certa para dar resposta às necessidades actuais.

Antes de mais, a nível interno, sabemos bem o que é adaptar-nos num período de incerteza. Ainda antes de ser formalizado o pedido de isolamento, e posteriormente o estado de emergência, já tínhamos toda a equipa em teletrabalho – para isto, desenvolvemos rapidamente um manual interno de boas práticas de home office para alinhar toda a equipa, que também foi disponibilizado a todas as pessoas na internet.

Adaptámos em tempo recorde os nossos programas que iriam acontecer nos próximos meses para um formato virtual – caso do Free Electrons em que conseguimos unir 300 pessoas em 13 fusos horários diferentes num bootcamp virtual de uma semana – e acelerámos alguns dos projectos que já estavam planeados, dada a sua relevância para o contexto actual – como o BetaCast, um podcast ao vivo no YouTube que explora semanalmente um tema prático do ecossistema.

Por outro lado, de forma externa, este reposicionamento acaba por nos dar assim a maturidade para fazer face aos desafios actuais e promover a inovação colaborativa onde todos beneficiam. Se há 10 anos contribuímos para a geração de novas ideias e empreendedorismo para estimular a economia, hoje é preciso muito mais do que estimular a ideação de forma isolada – é preciso promover uma lógica de colaboração e win-win. É preciso reinventar modelos, colocar startups a colaborar com empresas, tornando-as um agente económico, e colocar empresas a colaborar com outras empresas – é preciso ter consciência de que apenas juntos conseguimos construir este novo futuro e acreditamos estar prontos para dar a nossa contribuição.

Como está a evoluir a Beta-i também a nível internacional? Depois do escritório no Brasil, que destino se segue?

Além do escritório no Brasil, a Beta-i já desenvolve projectos de inovação colaborativa, nas suas diferentes áreas, para clientes em países como Espanha, Áustria, Estados Unidos da América, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Angola, Austrália, Irlanda, França, Hong Kong, Alemanha, Japão. Para já, temos apenas a equipa física em Portugal e no Brasil e contamos com uma poderosa rede de parceiros do ecossistema (mentores a investidores, universidades a instituições de partilha de conhecimento, associações do sector a conselheiros), sobretudo na Europa e na América do Norte. A virtude do nosso modelo é que podemos ser flexíveis e remotos a partir de uma equipa central altamente especializada; é por isso que temos esta capilaridade a partir de Portugal e agora também do Brasil.

Durante os próximos 10 anos, o objectivo será certamente  tornar a Beta-i uma organização cada vez mais global e com impacto cada vez mais relevante. Para já não temos planos para abrir um escritório físico numa nova geografia, mas queremos continuar a chegar a novos clientes em novos países e apoiar o desenvolvimento de novos ecossistemas fora de Portugal, um processo onde temos expertise comprovada.

Texto de Filipa Almeida

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