Quer proteger-se das táticas políticas e de marketing? Aprenda magia, diz estudo
Tácticas dos mágicos foram encontradas na política e no marketing. De acordo com um estudo da Goldsmiths, Universidade de Londres, a psicologia utilizada pelos mágicos para enganar o público também pode ser utilizada para influenciar as escolhas dos consumidores. Os truques de magia utilizam “ferramentas poderosas” para controlar o comportamento, afirmam os investigadores.
Os psicólogos analisaram a forma como os truques criam uma “ilusão de escolha”, quando o público não tem qualquer controlo real.
A investigação – Mind control trick: magicians’ forcing and free will, dos psicólogos Alice Pailhes e Gustav Kuhn – analisa a forma como os mágicos controlam as decisões do seu público e como isto pode ser aplicado a outras áreas.
«Muitos destes princípios mágicos mostram que se pode facilmente manipular e influenciar as decisões que as pessoas tomam e, embora elas se sintam livres para tomar essa decisão, o mágico tem praticamente o controlo total», diz o Dr. Kuhn.
Segundo ele, da mesma forma que alguém pode ser orientado para escolher a carta “certa” num truque de magia, também nós podemos ser “empurrados” para comprar produtos no supermercado.
O estudo, publicado na revista Trends in Cognitive Science, identifica diferentes ferramentas psicológicas utilizadas pelos mágicos.
Na sua forma mais simples, pode ser o reconhecimento de que as pessoas tendem a comportar-se de forma semelhante – assim, os investigadores dizem que, se for pedido às pessoas que escolham uma de quatro cartas colocadas à sua frente, 60% das pessoas destras escolherão a terceira a contar da esquerda.
Esta “força de posição” pode ser utilizada para empurrar os clientes para determinados produtos, dependendo do local onde foram colocados.
A “preparação mental” utiliza uma série repetida de pistas visuais e verbais para orientar o público num truque – e os investigadores descobriram que muitas pessoas não conseguiam explicar porque tinham escolhido o mesmo número ou cartão “aleatório”.
Há também o chamado “equívoco” utilizado pelos mágicos – em que o público acredita que está a tomar decisões independentes durante um truque, quando na realidade nada do que fazem tem “qualquer impacto no resultado”.
“Independentemente da escolha do espectador, as sequências têm o mesmo resultado. O equívoco é altamente eficaz para proporcionar uma sensação ilusória de controlo”, diz o estudo.
Um exemplo disto seria um truque de cartas em que alguém é convidado a cortar um baralho de cartas, com uma série de fases de cortar e voltar a colocar as cartas no topo – a “grande maioria” não se apercebe que não tem qualquer impacto na carta alvo.
«Mesmo que se saiba que se está a ser mal orientado, o problema é que estes princípios são incrivelmente eficazes e continuam a ter impacto», diz o Dr. Kuhn.
A utilização de técnicas de magia para «modificar o comportamento» pode trazer benefícios positivos, diz a co-autora Alice Pailhes.
«Poderão proporcionar novas formas de encorajar melhores decisões em matéria de saúde e bem-estar», acrescenta, como por exemplo, orientar as pessoas para uma alimentação mais saudável.
Pailhes alerta ainda para as «influências indesejadas, como a propaganda política».
«Acreditamos que a compreensão das técnicas dos mágicos é uma ferramenta valiosa para aumentar a consciencialização sobre a facilidade com que as nossas escolhas podem ser manipuladas», diz a psicóloga.
O Dr. Kuhn diz que a “ilusão de escolha” do mágico, que joga com a necessidade de nos sentirmos em controlo, pode ser aplicada a outras situações – decisões de consumo, entretenimento em linha ou debates políticos.
«Trata-se, de facto, de um dos conceitos mais fundamentais da humanidade – será que temos realmente livre-arbítrio? Sentimos que precisamos dele, mas esta experiência de livre-arbítrio pode ser, na verdade, uma ilusão – e é uma ilusão que os mágicos manipulam frequentemente», diz o psicólogo.
O Dr. Kuhn, que faz parte da equipa de investigação do Magic Lab, afirma que existe um interesse crescente em compreender como as técnicas dos mágicos podem ser utilizadas para influenciar o comportamento.
Para ele, os políticos recorrem cada vez mais à táctica do “desvio”, em que um mágico atrai a atenção do público numa direcção, com algo ruidoso ou espectacular, enquanto os verdadeiros movimentos estão a ser feitos fora da vista.