«As leis chegam sempre depois da inovação»

A história diz-nos que, na maioria dos casos, a legislação é criada de forma reactiva à inovação empresarial, o que pode atrasar a adopção e disseminação dessa mesma inovação. Quem o diz é Tommaso di Giovanni, director de Comunicação global da Philip Morris International (PMI), empresa responsável pelo desenvolvimento do sistema electrónico de tabaco sem fumo IQOS.

«As leis chegam sempre depois da inovação acontecer. Por exemplo, o cinto de segurança foi inventado em 1959, mas a primeira lei que obrigou ao uso do cinto só foi criada em 1970! Imaginem as vidas que podiam ter sido salvas nesses 11 anos», exemplificou Tommaso di Giovanni, na abertura do Fórum Marketeer sobre a regulamentação publicitária, que decorreu esta manhã na Estufa Real, em Lisboa. De acordo com o responsável, o IQOS pode promover uma revolução semelhante na saúde pública, desde que sejam criadas as condições regulamentares para tal. Isto porque a empresa garante que liberta menos 90% dos componentes tóxicos em relação ao tabaco tradicional. «Finalmente temos, na indústria tabaqueira, um produto que ajuda à saúde dos fumadores, mas sozinhos não conseguimos mudar a lei nem as ideologias. Precisamos da colaboração dos Governos e associações mundiais», apelou.

Segundo Tommaso di Giovanni, as ideologias e a demora na promulgação de leis favoráveis à comercialização são mesmo os dois principais obstáculos que a PMI (que é também a dona da marca Marlboro) tem vindo a enfrentar em todo o mundo desde que lançou o IQOS, em 2014. As ideologias porque, de certa forma, a empresa foi «atacada» publicamente por algumas ONGs ligadas à saúde que lançaram a dúvida sobre os reais benefícios deste produto em relação ao tabaco convencional. «Mas nós temos a ciência por detrás. Há cerca de 30 estudos independentes que confirmam a nossa investigação», lembra.

O director de Comunicação global da PMI recorda ainda que, quando foi lançado o primeiro cigarro electrónico (um sistema diferente do IQOS), também foram publicadas notícias e estudos divergentes sobre os efeitos secundários do mesmo e, em muitos países, várias pessoas que tinham começado a adoptar esta alternativa acabaram por voltar ao tabaco tradicional. «Perdeu-se uma oportunidade de saúde pública, porque o cigarro electrónico é muito melhor do que o tradicional. Matou-se uma inovação positiva», lamenta.

O responsável aproveitou ainda para elogiar a legislação portuguesa, nomeadamente o Artigo 37 da Constituição, que celebra o direito de cada cidadão a informar e ser informado. «Este último ponto é muito importante», notou Tommaso di Giovanni, porque «a falta de informação é o que trava a sociedade». Noutros países, a PMI tem tido mais dificuldades em comunicar e informar os cidadãos sobre o funcionamento e vantagens (mas também desvantagens) do IQOS. Nos EUA, por exemplo, só no mês passado é que o regulador (a Food and Drug Administration) deu luz verde à comercialização deste produto, ao fim de dois anos de avaliações.

Nesse sentido, a PMI preprara-se para lançar a campanha “It’s Time”, dirigida aos governos, ONGs e outras entidades que podem ajudar a acelerar as mudanças na lei. «As empresas podem ter um impacto positivo na sociedade, mas precisam de ajuda», reiterou. «O cigarro faz mal à saúde, isso é muito claro. Todas as pessoas deviam deixar de fumar, mas sabemos que isso não vai acontecer. As previsões da Organização Mundial da Saúde é que em 2025 vai haver o mesmo número de fumadores que existe hoje, ou seja, mais de mil milhões.»

Nos últimos 10 anos, a PMI investiu mais de seis mil milhões de dólares no desenvolvimento do IQOS, e recrutou mais de 400 cientistas que trabalham no centro de pesquisa da empresa em Neuchâtel, na Suíça.

Hoje, existem mais de 7,3 milhões de utilizadores do IQOS em todo o mundo, sendo que o objectivo da empresa é que este número suba para 40 milhões (ou 30% do volume de vendas da PMI) até 2030. Em Portugal, existiam no final do ano passado cerca de 200 mil fumadores IQOS, o que representa cerca de 7% de todos os fumadores.

Texto de Daniel Almeida

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