Alberto Rui Pereira: «As marcas devem ter um propósito, que vai além da venda de produtos»

O que ficará depois deste “buraco negro” do novo coronavírus? Que marcas iremos ter? E como é que passarão a estar e a comunicar? Não sendo possível qualquer previsão clara e certa, fomos, contudo, tentar perceber de que forma é que algumas das maiores empresas e marcas em Portugal estão a reagir e como esperam sair do momento mais crítico de todos os tempos, a nível mundial. Vamos todos dar a volta?

Alberto Rui Pereira, CEO da IPGMediabrands Portugal

1 – O que está a ser feito, neste momento, para que a sua marca não perca relevância?

O momento é de mudança, que foi inesperada, brusca e abrupta, para a qual ninguém estava preparado. Uma mudança que atinge o negócio das marcas, mas que passa também por uma mudança profunda nos hábitos e comportamentos das famílias e dos indivíduos a todos os níveis, incluindo a forma como consomem e interagem com os conteúdos e com os media. Claramente a TV e o Digital aumentam substancialmente as audiências dos seus conteúdos. Ao nível da TV, conteúdos informativos ou infantis ganham especial relevo. No Digital as redes sociais e os canais ligados a conversão têm um particular destaque. As famílias e os indivíduos vão também estar emocionalmente muito mais sensíveis e dar particular importância a temas de cariz social e de solidariedade.

As marcas devem rapidamente adaptar-se a esta nova realidade, mantendo a sua presença viva e activa (apenas em indústrias muito específicas e fortemente impactadas se pode compreender uma retracção), ajustando o seu mix e portefólio de comunicação e explorando as novas oportunidades que aí estão, quer a nível de negócio, com propostas ajustadas a esta nova realidade, quer a nível de responsabilidade social.

As marcas devem ter um propósito, que vai para além da venda de produtos e serviços e agora é altura de o mostrar e de o aplicar. É isso que os seus clientes esperam e estou certo que muitas o farão e que enfrentarão o futuro mais fortes. É essa a sua responsabilidade nesta altura.

2 – E depois deste “buraco negro”, a sua marca será a mesma?

Depois de ultrapassar esta fase, uma coisa é certa; nada ficará na mesma e isso também se aplicará ao mundo das marcas e dos consumidores. As marcas que tiverem a capacidade de não olhar só para o curtíssimo passo, para o momento, serão aquelas que melhor se fortalecerão no médio e longo prazo. Estar agora com os seus consumidores de forma relevante é a forma de os acompanhar nesta hora difícil, de não os abandonar e de fortalecer os laços e a fidelização.

Os factos passados são inequívocos: as marcas que investiram nos períodos de crise (seja de que natureza for) foram aquelas que no futuro mais robustas ficaram. Esse é o caminho que devem fazer, com propostas, mensagens e conteúdos adaptados ao momento, com criatividade, dinamismo, solidariedade e relevância. Se for assim e não ficar na mesma, vão ficar mais fortes, mais robustas e mais preparadas para o futuro.

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