Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito: Vidigueira,60 anos de sucesso

Retrocedendo 60 anos, foi precisamente na década de 60 que começou o crescimento de turistas estrangeiros em Portugal, e também foi nessa época que muitas cooperativas apareceram. Com o passar dos anos, tornou–se clara a necessidade de “abrir as portas” das adegas aos novos turistas que surgiram, refere em entrevista José Miguel Almeida, presidente do Conselho de Administração da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito.

De que forma olham para o turismo?

Há cinco anos decidimos começar a investir de forma mais assertiva no Enoturismo. O início das visitas na nossa Adega foi uma tarefa interessante e desafiante: começámos por criar uma equipa com valências distintas, com técnicos de enologia, elementos da equipa de vendas, comunicação e logística. Sem me descartar a mim e aos meus colegas de direcção, que também fizemos questão de acompanhar visitas, realizá-las, assim como apresentar as provas de vinho.

Com o crescimento surgiu a necessidade de criar, em 2014, um departamento que se ocupasse do Enoturismo. Hoje temos, nessa unidade de negócio, uma ampla equipa de profissionais, sempre dispostos a prestar um serviço de excelência, em articulação com as diversas valências da Adega, como, por exemplo, a Enologia, que colabora e coordena as visitas de cariz mais técnico.

De olhos postos no futuro, a Adega tem vindo a dinamizar um projecto singular. Pode descrevê-lo?

Reestruturámos a nossa imagem e a nossa organização corporativa, adquirimos uma nova linha de engarrafamento com capacidade para seis mil garrafas/hora, criámos o Centro de Análise e Pesagem, o qual designamos como CAP, garantindo a qualidade das uvas dos nossos cooperadores. Tornámo-nos mais “green” com a implementação de várias medidas no âmbito da Economia Circular, do aproveitamento da energia solar, da poupança de água, entre outras, ao abrigo do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, do qual somos membros.

Qual o vosso projecto mais recente?

A Casa das Talhas. Desde que entrámos para a direcção em 2012, que procuramos preservar o património vínico. Em 2013 reestruturámos a imagem das nossas marcas, e, às três marcas mais emblemáticas da Adega: Navegante, Vila dos Gamas e Vidigueira, juntámos uma figura histórica da nossa região, D. Vasco da Gama, Conde de Vidigueira.

Através de sete actos, criámos um storytelling, que não só conta a viagem marítima de Vasco da Gama para a Índia, como conta a história dos nossos vinhos. Quanto maior o acto, maior a categoria do vinho. Do Acto IV para a frente, ou seja, nos actos seguintes aos monocastas, todos os vinhos têm um estágio em barricas, sendo que o Vidigueira 1498 Grande Reserva é o que mais tempo de estágio teve, e simboliza, não só o fecho dos nossos actos, como o ano em que Vasco da Gama chegou à Índia.

A Casa das Talhas foi um projecto muito aguardado, criado com o intuito de preservar a tradição e o método de produção vínica do vinho de talha. Queremos fazê-lo de uma forma didáctica, salvaguardando a herança milenar que remonta aos romanos.

A que necessidades veio dar resposta?

Cada vez mais quem nos visita procura algo genuíno e com história. Os visitantes podem observar os utensílios usados no processo de vinificação do vinho de talha, e acompanhar este processo. Em Novembro convidámos todos a vir provar o vinho, a consumi-lo directamente da talha, o que chamamos de “aparadinho”.

A partir de agora a Casa das Talhas apre-senta-se ao mercado e promete organizar provas organolépticas e provas exclusivas de vinhos, workshops vínicos, eventos, actuações de cante alentejano, entre outras actividades.

Na parte gastronómica haverá almoços e jantares para grupos de diversas dimensões, sempre sob marcação prévia, onde brilharão as especialidades locais e regionais, acompanhadas naturalmente pelos extraordinários vinhos da nossa adega.

Com um foco cada vez maior no Enoturismo, que serviços tem a Adega para oferecer aos visitantes?

Primeiro que tudo, qualquer visitante que se desloque à nossa Adega poderá ser recebido de uma de duas formas. Uma é na nossa loja da Adega, onde poderá ter acesso aos nossos produtos, e realizar algumas provas que pretenda no local. Outra é a Casa das Talhas, realizando a visita enoturística e usufruindo das possibilidades que este espaço disponibiliza.

A Casa das Talhas é um espaço multiusos com capacidade para 120 pessoas sentadas. Este novo espaço está agora disponível para eventos empresariais e também particulares. É importante mencionar que um dos nossos recursos externos são as Vinhas Centenárias, e que os nossos programas de visitas incluem, por exemplo, as Ruínas de S. Cucufate, ao Convento de Nossa Senhora das Relíquias, entre outros pontos de interesse.

Visitar uma adega é aceder a um universo mágico. Desde as vinhas à degustação dos vinhos, hoje, tudo é uma experiência. Na Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito de que forma se desenrola essa experiência?

Começamos por contar a nossa história, conhecer a Sala de Barricas, na qual repousam os vinhos brancos e tintos, em madeira de carvalho francês e americano, passando pelo nosso Museu de Aguardente. Em segui-da rumamos à “Sala 1498”, local onde repousa o vinho Vidigueira 1498 Grande Reserva, lançado nos 520 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia.

A “Sala Vasco da Gama”, um espaço de homenagem ao I Conde de Vidigueira, é o ponto de paragem obrigatória antes da chegada à Casa das Talhas, onde se pode aceder à nossa “Carta Viva” de Vinhos, e ao Wine Bar. O facto de termos guias permite-nos complementar em áreas por vezes esquecidas. Por exemplo, um dos nossos guias é historiador, para muitos este factor não é relevante, mas para nós é uma valência muito importante.

De que forma tem crescido o número de visitantes e quais as vossas expectativas relativamente a 2020?

Desde 2014 que as visitas à nossa Adega têm tido um impacto significativo, não só para nós, mas também para a região. Com a inauguração do nosso último projecto e com as novas ofertas que temos à disposição, em três meses as visitas, actividades e eventos levaram a um aumento muito significativo do número de visitantes.

O que procura o turista actual quando chega à Adega?

Procura, cada vez mais, experiências autênticas! Com o País a conquistar mais um ano o Óscar de Melhor Destino do Mundo pela World Travel Awards, esperamos um aumento no turismo estrangeiro.

Foram recentemente agraciados com o prestigiado prémio “Mais Vinho”. O que significa este reconhecimento?

Que estamos no bom caminho. Simultaneamente, é uma distinção para os nossos cooperadores e colaboradores. São eles que, dia após dia, preparam cada detalhe daqui-lo que melhor temos para oferecer: os nossos produtos e os nossos serviços.

Que desafios se colocam hoje a uma adega como a vossa?

O nosso maior desafio actualmente é crescer em valor e de forma sustentada. Esta Adega tem o seu negócio de vinhos assente no mercado nacional e participa no capital de duas sociedades comerciais: A Viticale – Vinhos e Azeites de Vidigueira, Lda., cujo negócio assenta na venda de vinhos e azeites e a AV Global, Lda., que comercializa maioritariamente factores de produção agrícola.

De que forma encaram o futuro?

Com bastante optimismo! Quer ao nível da produção de vinho, na qual temos conseguido imprimir continuamente uma melhoria dos padrões de qualidade, comprovada e reconhecida pelas centenas de prémios recebidos, quer ao nível do Enoturismo, com a implementação desta recente unidade.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Turismo”, publicado na edição de Fevereiro (n.º 283) da Marketeer.

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