A propósito do propósito de uma (eventual) mudança no clube
Em São Paulo há o Clube de Criação, como noutros tantos países os profissionais agregam-se em Creative Clubs. No Reino Unido o D&AD (acrónimo de Design & Art Directors) é uma referência, e são vários os Art Directors Clubs espalhados pelo mundo, incluindo o “nosso” ADCEurope. Em Portugal temos/somos, até o momento em que escrevo, o Clube de Criativos (CCP).
A actual Direção do CCP tem nesse momento a intenção de alterar a sua designação, substituindo Criativos por Criatividade, “com o intuito de deixar mais claro que o Clube deve agregar todos os que trabalham na indústria criativa em Portugal.”
Opiniões são como as orelhas, cada um tem as suas, e com todo o respeito que tenho pela Direcção, a minha é discordante. A opinião, não a orelha.
É caso para citar Shakespeare: “What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell just as sweet.”
No período em que integrei a direção do CCP, já lá vão alguns anos, tivemos a preocupação de tornar o Clube mais inclusivo (esse termo nem era utilizado na altura). Começámos logo por alargar o âmbito de atuação e participação às agências e aos profissionais não rotulados como “criativos”. Accounts, ditos “comerciais”, gestores de projectos, produtores, estrategas, arte finalistas, etc. Isso por já entendermos que todos os intervenientes no processo de criação e desenvolvimento das campanhas, marcas, eventos e afins, são importantes demais para não serem representados e devidamente valorizados.
Ainda nesse período, tomámos a decisão (algo polémica na altura) de incluir clientes na composição dos júris do Festival. O resultado foi tão positivo que se manteve desde então. De lá para cá muito mais se fez no CCP com as excelentes direcções que se seguiram, sempre com a preocupação de dignificar o nosso sector: o da criatividade.
Os processos de rebranding (e disso posso dizer que percebo) devem ser pertinentes ou não passam de cosmética. Se não há qualquer alteração substancial na estrutura, na orgânica, nas premissas ou na atuação do CCP, considero desnecessário um esforço de mudança para um resultado que prevejo ínfimo ou mesmo redutor.
O CCP com Criatividade não será melhor do que o CCP com Criativos. Tenho para mim que a nova terminologia seja demasiado genérica, com um significado demasiado lato. Seria como a Ordem dos Médicos passar a Ordem da Medicina, a dos Arquitectos passar a Ordem da Arquitectura ou rebatizarmos uma Ordem da Advocacia.
O CCP já é percepcionado como uma entidade agregadora e inclusiva, que abrange, promove e estimula todos os profissionais do mercado. Tal como serão as outras congéneres que citei no início desta ladainha, cujos nomes são o que são.
Quais são os pressupostos para se mudar a designação? Se a questão for de género, seguindo o trend do politicamente correcto, pode sempre passar a Clube de Criativs, e fica o caso arrumado.