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Vinho do Porto “inspirou uma batalha que alterou o curso da História da Europa”
O Vinho do Porto é um dos produtos mais emblemáticos de Portugal, reconhecido e apreciado a nível mundial. Não só pela sua história, mas, acima de tudo, pela qualidade e singularidade. Para compreender o que torna este vinho tão distinto, nada melhor do que ouvir quem melhor conhece a sua essência e a região produtora. Nesta entrevista à Marketeer, temos o privilégio de conversar com um porta-voz do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), que nos irá explicar o impacto cultural, histórico e económico do Vinho do Porto, bem como os desafios que enfrenta no contexto atual. Desde a sua origem até à projeção internacional, nesta conversa fala-se de como esta bebida continua a cativar gerações, mantendo-se fiel à sua autenticidade e tradição.
O que torna o Vinho do Porto um produto tão único e distinto?
O que torna o vinho do Porto um produto tão único e distinto dos outros vinhos é a sua profunda ligação ao território – o Douro – a mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo, reconhecida como Património Mundial da Humanidade pela sua beleza singular. Os quilómetros de socalcos e patamares, aliados ao trabalho humano, criaram um cenário único, onde o vinho reflete as características inimitáveis do seu local de produção. Este vínculo entre tradição, saber-fazer, património cultural e natureza torna o vinho do Porto especial e inigualável.
Além do território, outro elemento que comprova a singularidade do vinho do Porto é o tempo. Estes vinhos são verdadeiros guardiões do tempo, atravessando gerações e antecipando o futuro. Mais do que uma bebida, o vinho do Porto é uma cápsula de história líquida, carregada de memórias que oferecem uma experiência única e irrepetível.
Em suma, é a combinação de território, história, tempo, tradição, modernidade e a qualidade garantida pela denominação de origem que faz do vinho do Porto um ícone de prestígio e um produto emblemático no mundo dos vinhos.
Todos pensam saber, mas a verdade é que poucos sabem qual é a origem histórica do Vinho do Porto. Consegue contá-la em poucas frases?
Os primeiros indícios que testemunham a cultura da vinha na região duriense remontam aos tempos pré-históricos. No entanto, a designação “vinho do Porto”, bem como o início da utilização de técnicas como a aguardentação, surge apenas na segunda metade do século XVII, num processo longo e complexo.
A origem do Vinho do Porto está profundamente enraizada na história da região do Douro e no contexto das relações comerciais entre Portugal e a Inglaterra, especialmente a partir dos séculos XVII e XVIII. O Vinho do Porto adquiriu características únicas devido à prática da fortificação com aguardente, que permitia preservar o vinho durante o transporte e realçava as suas qualidades de sabor e aroma.
O Tratado de Methuen, celebrado em 1703, desempenhou um papel crucial ao impulsionar a exportação do vinho português para o mercado britânico, onde o vinho do Porto conquistou grande popularidade. Este período marcou o início da consolidação do Douro como uma região produtora voltada para a exportação.
Que impacto este vinho tem e teve no desenvolvimento da região do Douro?
O vinho do Porto teve e tem um impacto profundo no desenvolvimento da região do Douro. Ele promove o reconhecimento internacional da região como uma das principais áreas de produção vinícola, funcionando como um verdadeiro embaixador de Portugal. Há mais de dois séculos, o vinho do Porto leva a paisagem, a cultura e o talento dos produtores locais para o mundo, o que estimula a economia regional através das vendas e do enoturismo. Além disso, o vinho está associado ao património, à cultura e à diversidade do território, sendo um fator de crescimento económico, incentivando a inovação e o desenvolvimento sustentável da região. Assim, o Vinho do Porto não é apenas um produto de exportação, mas também um motor de progresso para a Região Demarcada do Douro.
Como o Vinho do Porto conquistou reconhecimento internacional ao longo dos séculos?
O sucesso internacional do Vinho do Porto é o resultado de séculos de dedicação, inovação e promoção, aliados à sua ligação ao território único do Douro, Património Mundial, e à garantia de qualidade proporcionada pela regulamentação rigorosa.
Qual a importância das certificações e denominações de origem no sucesso do Vinho do Porto?
A denominação de origem Porto funciona como o “bilhete de identidade” do vinho, garantindo a sua qualidade, autenticidade e exclusividade, sendo um símbolo de história, tradição e prestígio. Esta identidade única torna o vinho do Porto imediatamente reconhecível e associado a uma imagem de excelência e distinção.
Quais são os desafios atuais para preservar a autenticidade e a história deste vinho num mercado global?
Os desafios atuais para preservar a autenticidade e a história do Vinho do Porto num mercado global são vastos e exigem respostas integradas. Um dos principais desafios são as alterações climáticas, que se manifestam através de fenómenos extremos e escassez de água, criando sérias dificuldades para a produção vitivinícola. Além disso, a falta de mão de obra e o aumento dos custos de produção, que não se refletem no valor da uva nem na comercialização do vinho, colocam em causa a sustentabilidade social e económica do setor.
A nível demográfico e social, a Região Demarcada do Douro (RDD) enfrenta problemas como a desertificação e o envelhecimento populacional, sendo necessário continuar a implementar políticas que revertam estas tendências, atraiam investimento, fixem população e promovam o rejuvenescimento da região.
A melhoria das infraestruturas digitais, através da expansão das telecomunicações e da transição digital, é essencial para tornar a RDD mais inclusiva, dinâmica e atrativa para uma população jovem e para fomentar o uso de tecnologias avançadas.
A informatização e modernização do setor surge como uma resposta estratégica, permitindo o acesso a informações em tempo real, o uso de inteligência artificial para otimizar práticas agrícolas e a utilização de tecnologias como a realidade virtual na formação dos trabalhadores. Além disso, é fundamental explorar o potencial das inovações tecnológicas para aumentar a competitividade e resiliência da região, garantindo que os benefícios dessas tecnologias sejam acessíveis a todos.
Finalmente, no mercado global, o foco tem de ser a sustentabilidade. O consumidor valoriza cada vez mais práticas sustentáveis, exigindo que o Vinho do Porto continue a ser um símbolo de autenticidade, história e compromisso ambiental. Para isso, é crucial colocar a sustentabilidade no centro de todas as decisões. Este novo enfoque ajudará não só a preservar a autenticidade do Vinho do Porto, mas também a estimular a criatividade, a inovação e o desenvolvimento de projetos originais que garantam o futuro do vinho do Porto e da Região.
De que forma o Vinho do Porto tem vindo a atrair novas gerações e a adaptar-se a tendências contemporâneas de consumo?
Através duma estratégia de promoção que reforça o valor intrínseco do Vinho do Porto e da Região, enquanto símbolos de excelência, autenticidade e inovação. Esta estratégia, que combina tradição e modernidade, é fundamental para preservar o legado histórico deste vinho e, simultaneamente, projetá-lo no mercado global.
A aposta na formação e sensibilização de públicos profissionais e consumidores é um pilar essencial para aumentar o conhecimento e a valorização deste vinho. Destacar a qualidade excecional e a identidade única dos produtos é um dos passos cruciais para reforçar o seu posicionamento premium. Paralelamente, a diversificação dos momentos de consumo, bem como a comunicação de uma imagem mais moderna e acessível, permite atrair novos públicos e rejuvenescer a base de consumidores.
Tem sido crucial a estratégia de associar o vinho do Porto a ocasiões de consumo inovadoras, investindo na harmonização com a gastronomia e na exploração de novos contextos, como o mundo dos cocktails e da mixologia. A justificação do valor Eco-Claims, a par da criação de cocktails, diversificação de marcas e realidade virtual são apostas de futuro. Estas iniciativas, que rompem com os códigos tradicionais de consumo, evidenciam a versatilidade destes vinhos e criam uma ponte com um público mais jovem, valorizando a autenticidade e a descoberta.
Outro ponto estratégico é a comunicação do conceito de Denominação de Origem Protegida (DOP), que representa o coração da identidade e qualidade do vinho do Porto. Esta abordagem é essencial para reforçar a confiança do consumidor e posicionar o vinho do Porto como produto de excelência, assente num rigoroso sistema de controlo e certificação.
A sustentabilidade tem de emergir como um fio condutor de todas as iniciativas. Não apenas a sustentabilidade ambiental, mas também a económica e cultural.
A tudo isto, acresce a mensagem de consumo responsável, promovida através do programa “Wine in Moderation”, reforçando o compromisso com um estilo de vida equilibrado e demonstrando que o vinho pode ser apreciado de forma moderada e saudável.
Qual o papel do IVDP na promoção do Vinho do Porto, tanto no mercado nacional quanto internacional?
O IVDP, em articulação com o setor, concretiza, em Portugal e no mundo, um conjunto de ações que visam reforçar a dimensão internacional dos vinhos do Douro e do Porto e da Região Demarcada do Douro (RDD) enquanto produtos e território de excelência e de inovação, numa lógica de valorização transversal, com manifesta preocupação pela sustentabilidade económica, social, cultural e ambiental do território duriense, património Mundial da Humanidade desde 2001.
Reforçando anualmente o investimento na promoção através da procura de novos mercados geográficos e consolidação de mercados emergentes, o IVDP promove um conjunto de ações com o objetivo de granjear para as Denominações de Origem Protegidas (DOP) Porto e Douro, um progressivo ganho de conhecimento e notoriedade e, em consequência, um crescimento da procura e do valor.
Atrair novos consumidores. Rejuvenescer a base de consumidores, promovendo sempre um consumo responsável e moderado. Fidelizar e aumentar a frequência de consumo dos consumidores tradicionais. Criar ocasiões de consumo e fortalecer as existentes. São estes os objetivos que temos vindo a alcançar e que aportam crescimento e valor às DOP Porto e Douro e, em consequência, à Região Demarcada do Douro.
Num trabalho conjunto com as profissões – comércio e produção – estabelecemos critérios objetivos na escolha mais eficaz dos mercados alvo. Na comunicação, privilegiamos a excelência, a identidade e a autenticidade como elementos de afirmação através de uma imagem forte, dinâmica e versátil.
Aliamos a promoção a uma estratégia de proteção e defesa e investimos na diferenciação positiva do produto, que assenta num sistema criterioso e moderno de controlo e certificação, contribuindo, quer para o aumento da perceção de valor das marcas Porto e Douro, quer posicionando-as como vinhos de excelência.
Reforçamos de forma expressiva a comunicação nas redes sociais. Mantemos uma presença online para comunicar com o nosso público-alvo: profissionais, principalmente do sector e canal HORECA, imprensa, formadores de opinião e formandos, intermediários de consumo e consumidores. Os agentes económicos e as marcas que representam são fundamentais na concretização e sucesso das ações desenvolvidas junto deste público-alvo.
Em resumo, uma tipologia de ações centradas na formação e pedagogia, principalmente em escolas de hotelaria e setor HORECA, nas provas, nas atividades com profissionais e consumidores e na presença em feiras internacionais de relevo.
Poderia partilhar uma curiosidade ou facto pouco conhecido sobre o Vinho do Porto que ilustre a sua relevância cultural e histórica?
No dia 21 de outubro de 1805 o Almirante Nelson, comandante da Frota Britânica, preparava-se para a Batalha de Trafalgar. Reza a lenda que se reuniu com os seus oficiais para saborear um copo de Porto enquanto finalizavam os pormenores da batalha, com o mapa das forças inimigas aberto na mesa à sua frente.
Diz-se que Nelson mergulhou o dedo no copo de vinho de Porto e usou-o para desenhar as linhas de combate: é o chamado “toque de Nelson”.
Foi assim que o vinho do Porto inspirou uma batalha que alterou o curso da História da Europa.