Mário Rocha, fundador e CEO da Antarte: “Neste momento, estamos quase a par dos mercados [internacionais] mais sofisticados”

A Antarte, marca portuguesa de mobiliário e design, vai colaborar com o reconhecido arquiteto japonês Kengo Kuma no projeto do Pavilhão de Portugal para a Expo 2025 Osaka. Trata-se de um projeto que alia design, sustentabilidade e a celebração do saber-fazer artesanal, integrando tanto a arquitetura como o mobiliário com a assinatura de Kuma.

A marca portuguesa produziu mais de 40 peças exclusivas, que vão desde bancos e mesas para restaurante e cafetaria, até sofás e a mesa do Livro de Honra no VIP lounge. Segundo a Antarte, os materiais e técnicas utilizados refletem o compromisso com o saber ancestral da marcenaria portuguesa.

Entre as peças em destaque, a mesa para o Livro de Honra destaca-se como uma “verdadeira escultura artesanal”. Feita com 177 peças de madeira de freixo nacional, de diferentes diâmetros e comprimentos, a mesa foi torneada manualmente em mais de 200 horas de trabalho.

A Marketeer falou com Mário Rocha, fundador e CEO da Antarte, sobre a participação da marca num evento desta escala. Exploramos a visão da Antarte para o evento, o impacto da sua participação no mercado asiático e o papel fundamental do saber artesanal português na criação de peças que aliam tradição e inovação.

 

  1. Qual é o principal objetivo da Antarte ao participar na Expo 2025 em Osaka?

A Antarte está em pleno processo de consolidação do posicionamento enquanto marca do design intemporal e com expressão em projetos de dimensão mundial relacionados com o seu ADN. Ao participar em mais um projeto que é uma montra planetária do know-how de Portugal, afirma-se como o verdadeiro embaixador da marcenaria portuguesa em todo o mundo.

2. Que mensagem a Antarte deseja transmitir sobre a marcenaria portuguesa ao público internacional presente na exposição?

Desejamos transmitir a mensagem de um saber ancestral. A marcenaria é um ofício com séculos de história e tradição em Portugal. Foram centenas de anos a acumular um saber que se pode afirmar que assenta na capacidade de materializar mobiliário de qualidade excecional, de design que está para além de tendências do momento, de técnicas ancestrais de modelar uma matéria-prima nobre como a madeira e do uso de materiais sustentáveis.

3. Como é que a Antarte está a preparar a sua presença na Expo 2025 em termos de design e inovação? Existe um processo específico para o evento?

Neste projeto em concreto materializamos mais de 40 peças de mobiliário desenhadas por Kengo Kuma. Foi o arquiteto escolhido para desenhar o exterior e interior do pavilhão de Portugal na Expo 2025 Osaka, e também as peças de mobiliário. A Antarte materializou estas peças. Tivemos ainda um papel de relevo ao sugerir que a mesa onde será colocado o livro de honra do Pavilhão de Portugal tivesse um design com a assinatura de Kengo Kuma, em vez da solução pensada inicialmente pelos organismos oficiais nacionais que seria recorrer a uma peça já existente. O resultado final é encantador. A mesa é uma verdadeira escultura.

4. De que forma esta participação pode reforçar (ainda mais) a marca no mercado internacional?

Uma “Expo” mundial é uma montra de visibilidade planetária. Para a Expo Osaka são esperados milhões de visitantes. Só conseguem ir representar o seu país neste tipo de eventos, marcas que sejam verdadeiras bandeiras do seu país. O mercado do Extremo Oriente e da Ásia é um destino que nos interessa por ser a geografia mais forte em termos demográficos à escala global, além de ter segmentos de consumidores com poder de compra e gostos apurados que certamente vão visitar a Expo 2025 Osaka.

5. A longo prazo, o foco é cada vez mais a internacionalização?

Tenderá a ser. Em mercados onde a escala não seja o mais importante mas sim a existência de segmentos de consumidores alinhados em termos de preferências com os nossos principais fatores de diferenciação: design intemporal e uso de matérias-primas sustentáveis.

6. Isso implica um tipo de produto diferente daquele que é oferecido ao público português?

Nem sempre. O mercado nacional sofreu uma grande evolução em termos de preferências de consumo. Diria que, neste momento, estamos quase a par dos mercados mais sofisticados. No entanto, haverá sempre necessidade de alguns ajustes que têm a ver com questões culturais. Dou um exemplo: nos mercados do Médio Oriente, o uso de tonalidades douradas é quase obrigatório numa série de bens, do vestuário ao calçado ou ao mobiliário.

7. Em que é que se distingue o cunho português em marcenaria?

Distingue-se essencialmente pelo uso de matérias-primas sustentáveis ou pela manufatura em etapas essenciais da produção, como os acabamentos. O móvel português tem uma ampla componente de trabalho manual especializado. É um móvel bem acabado, com atenção aos pormenores. Como diz um provérbio popular, “os detalhes fazem a diferença”.

8. Há colaborações ou parcerias específicas com outros expositores ou entidades portuguesas que estejam a ponderar ou ambicionem fazer?

Nesta altura não. Mas é natural que surja esse tipo de colaborações ou oportunidades no decurso de um certame que se prolonga por seis meses.

9. Quais são os principais desafios de levar a identidade portuguesa e a marcenaria a um evento desta dimensão?

A Antarte já soma imensos projetos desta natureza. Desde logo, já estivemos envolvidos em três projetos para o Vaticano onde a margem de erro é apenas zero. O principal desafio seria a capacidade de agilizarmos a comunicação com um gabinete de arquitetura que está no outro lado do mundo. Também a logística de enviar peças para o Extremo Oriente. O cumprimento de prazos seria outro ponto essencial. Mas posso afirmar com orgulho que todo o processo não nos trouxe qualquer dificuldade. As experiências acumuladas pela Antarte foram uma mais-valia.

10. Que expectativas tem em relação ao impacto desta participação no crescimento e notoriedade da Antarte nos mercados asiáticos?

Será impossível passarmos despercebidos a quem visitar o Pavilhão de Portugal. As peças de mobiliário estarão no restaurante, cafetaria e no VIP Lounge. Dos sofás às mesas e bancos que produzimos, estamos a falar de objetos para serem desfrutados pelos visitantes: onde se irão sentar e demorar. E a cereja no topo do bolo é a mesa para colocar o livro de honra do pavilhão do nosso país.

Uma “obra de arte” constituída por 177 peças em madeira de freixo nacional, torneadas manualmente. É algo que cativa o olhar e será certamente admirada. A maioria dos visitantes esperados serão asiáticos, um perfil de consumidor evoluído em termos de perceção de qualidade e design de produto. Haverá melhor cartão de visita do que podermos impactar este perfil de cliente durante um certame que dura seis meses?

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