Presidente da associação dos media digitais diz que estes são alvo de discriminação

O presidente da Associação Portuguesa dos Media Digitais Online (APMEDIO) considerou que os media digitais são alvo de discriminação, apontando que o Plano de Ação para a Comunicação Social “tem zero” medidas para estas empresas.

António Tavares foi ouvido na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, onde criticou a discriminação que os meios de comunicação social digital são alvo.

A associação, criada em setembro, tem “à volta de 62 associados” nesta altura, disse o presidente da direção da APMEDIO à Lusa, no final da sua audição, em que, entre os principais objetivos apresentados, o “ponto nuclear” foi o “combater a discriminação que varre todo o edifício legislativo”.

E deu exemplos: “Ele é a publicidade institucional do Estado, ele é o tratamento que nos é dado em vários setores”.

Também o Plano de Ação para a Comunicação Social, apresentado pelo Governo em outubro, “é outro ponto de discriminação”, salientou o responsável.

“Tem à volta de 21 milhões [de euros] dedicados ao papel, à imprensa, para o digital tem zero. Se isto não é discriminação, não sei”, comentou.

Paralelamente, “há um programa nacional de 350 milhões [Estratégia Digital Nacional] que foi anunciado há pouco tempo que vai contemplar uma revolução digital, mais uma, mas depois isto não pode ser um país e dois sistemas”, prosseguiu.

Ou seja, “se por um lado se aposta no digital e se investe 350 milhões, por outro lado quando toca à comunicação social os digitais não são tidos em conta”, lamentou.

Durante a audição, o presidente da associação referiu aos deputados que a informação que o Plano de Ação refere como gratuitos os três serviços da Lusa – identidade de género, desinformação e cultura – “não corresponde à verdade”.

Estes serviços da Lusa são para acesso de leitura e consulta pelo público geral, logo não são comercializáveis.

“Isso tem de ser bem explicado às pessoas”, ripostou o responsável.

Relativamente aos descontos para os serviços da Lusa, António Tavares recordou que “houve um plano inicial em que eram 150 euros com a Associação Portuguesa de Imprensa e não incluía as notícias nacionais”.

Agora, “nós, os regionais, sabemos as notícias regionais, não precisamos ‘da Lusa’, queremos é notícias nacionais”, referiu.

O Plano de Ação prevê descontos para serviços de interesse público entre 50% a 75% para os media regionais e locais e entre 30% e 50% para os nacionais.

O plano dá descontos, “mas também há condicionantes em que aqui no parlamento foi aprovada uma situação em que quem adere a esse novo protocolo está condicionado”, prosseguiu.

Questionado sobre o que deveria ser feito, António Tavares rematou: “Acho que o Governo devia pagar à Lusa, devia-se substituir aos órgãos de comunicação ou então fazer como disseram os senhores deputados, o Governo não pagar, mas apoiar os órgãos de comunicação regionais para que eles pudessem pagar à Lusa”.

Isto “porque 150 euros que sejam, é só fazer as contas, dá 1.800 euros [por ano]. Para ter notícias regionais, não obrigado”.

Criticou ainda a Visapress, considerando ser outra fonte de “discriminação”.

A Visapress “é uma cooperativa que tem vários nomes sonantes do setor e que tem um regulamento interno baseado em tiragens. Ou seja, todos os órgãos de comunicação digitais que lá estão recebem zero por direitos autorais, ora se há órgãos de comunicação social que fornecem mais informação a estas grandes plataformas são os digitais e os ‘online'”, apontou.

“Se isto não é discriminação, eu não sei o que é”, insistiu o presidente da associação, que adiantou que irá à comissão parlamentar do Poder Local e Coesão Territorial para falar sobre o setor.

Com esta vinda ao parlamento, “espero que haja outro olhar e que não haja discriminação” sobre os media digitais.

O digital “é inevitável. Acho bem que sejam apoiados os jornais em papel, agora o que o que não concordo é que haja 21 milhões para o papel e haja zero para o digital”, concluiu.