Google está a usar dados de 40 milhões de telemóveis para mapear o espaço e melhorar sistema de GPS

Quem diria que o seu navegador de bolso poderia ser um instrumento espacial?

Investigadores da Google e da Universidade do Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos conseguiram aproveitar os sensores GPS de milhões de smartphones Android para criar um dos mapas mais detalhados da ionosfera alguma vez feitos.

Esta é a prova de que a tecnologia do quotidiano pode ser utilizada como ferramentas cruciais para a descoberta científica.

O projeto, liderado por Brian Williams, investigador da Google, e por Jade Morton, professora da Universidade da Califórnia em Boulder, recolheu dados de milhões de utilizadores anónimos do Android para determinar a forma como a atmosfera superior da Terra distorce os sinais GPS.

Analisando as medições dos sinais de GPS de 40 milhões de telemóveis, foi possível produzir um mapa com um detalhe sem precedentes.

A ionosfera é a região da atmosfera superior da Terra cheia de eletrões livres, que são conhecidos por interferir com os sinais de GPS e causar erros de navegação.

Tradicionalmente, as estações de monitorização têm sido responsáveis pelo rastreio da ionosfera, mas estes pontos estão localizados de forma escassa, deixando lacunas significativas na cobertura.

Ao utilizar milhões de telemóveis Android como ferramentas científicas em miniatura, a Google e a CU Boulder conseguiram mapear a ionosfera com o dobro do alcance dos sistemas tradicionais, beneficiando particularmente as regiões com poucas estações de monitorização.

Publicado na Nature a 13 de novembro, o estudo fornece informações importantes sobre o impacto da ionosfera na tecnologia GPS. Esta camada volátil da atmosfera é conhecida por criar atrasos nos sinais GPS, o que pode afetar tudo, desde as direções diárias de condução até às aterragens de precisão dos aviões.

A investigação não só faz avançar a nossa compreensão da própria ionosfera, como também visa melhorar a precisão do GPS, tornando estas ferramentas de navegação ainda mais fiáveis para utilizações críticas.

Como diz Brian Williams, “em vez de pensarmos que a ionosfera interfere com o posicionamento do GPS, podemos inverter a situação e pensar no recetor GPS como um instrumento para medir a ionosfera”.

Por vezes, com um pouco de criatividade, as ferramentas que usamos todos os dias podem ser reaproveitadas para algo muito maior – neste caso, uma melhor compreensão da nossa atmosfera e um aperfeiçoamento da tecnologia que nos guia.

Em algumas regiões, como a Índia e a África Central, os dados recolhidos pelos smartphones superaram mesmo as estações de monitorização tradicionais, demonstrando que os dispositivos portáteis podem fazer mais do que apenas navegar pelas ruas das cidades – podem ajudar-nos a compreender o clima espacial.

 

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