Já ouviu falar no sistema de recolha de cápsulas de café? Faltam as suas para atingir mais 15 toneladas até o fim do ano

O consumo de café em cápsulas tem vindo a conquistar cada vez mais lares portugueses. Mas, independentemente da marca, havia uma questão que se colocava a todos os consumidores que nos anos mais recentes têm tido preocupações como a sua responsabilidade ambiental: onde colocar as cápsulas depois de usadas?

Alguns dos players a actuar no mercado faziam essa recolha nas suas lojas, mas não servia as necessidades de todos.

Nesse sentido, a Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) e seis empresas suas associadas uniram-se para criar a RECAPS – Sociedade para a Recolha e Reciclagem de Cápsulas de Café. Desenvolvida ao longo de cinco anos marca o início do ritual de levar a reciclagem até à porta (ao município) dos consumidores de cápsulas de café em Portugal.

Assente num modelo em tudo semelhante aos tradicionais ecopontos, o sucesso da RECAPS depende da colaboração conjunta entre os consumidores (desafiados a depositar as cápsulas de café usadas em pontos de recolha), os municípios (asseguram a disponibilização e colocação dos pontos de recolha das cápsulas para posterior envio para tratamento) e as empresas recicladoras (asseguram a recolha das cápsulas e o seu encaminhamento para instalações de reciclagem especializadas, onde os materiais plásticos, alumínio e borras de café são separados e reciclados).

Em conversa com a Marketeer, Cláudia Pimentel, porta-voz RECAPS – Sociedade para a Recolha e Reciclagem de Cápsulas de Café, conta como o consumidor está a aderir à iniciativa e revela as estimativas de recolha até ao final deste ano.

Sendo o consumo de café em cápsulas uma das principais formas de consumo de café em casa há já vários anos, porque é que demorou tanto tempo a nascer a RECAPS?

O fluxo de cápsulas de café não é obrigatório por lei. No entanto, os produtores de cápsulas estão conscientes da sua responsabilidade ambiental e reconhecem a necessidade de um sistema dedicado e especializado para dar uma nova vida às suas cápsulas de café. Por isso, desde 2019 que a Associação Industrial e Comercial do Café encetou diversos estudos e testes para viabilizar a reciclagem das cápsulas de café, tendo chegado à conclusão de que o melhor sistema para este fluxo de resíduos, seria um fluxo dedicado e de proximidade. A demora na sua implementação deveu-se em primeiro lugar à necessidade de conciliar vontades de diferentes stakeholders e principalmente a mesmo a dificuldades de ordem tecnológica

Para concretizar este fluxo, em 2022, seis empresas produtoras de cápsulas de café – a Delta, JMV, Massimo Zanetti, Nestlé, NewCoffee e UCC – juntaram-se voluntariamente, sob a égide da Associação Industrial e Comercial do Café (AICC), em torno de um objectivo comum: encontrar uma solução ambientalmente sustentável para um correcto encaminhamento das cápsulas de café em fim de vida e uma também correcta valorização dos seus componentes. Nessa altura iniciou-se em Cascais um sistema de recolha de cápsulas, que se mostrou vencedor, e desde então tem-se vindo a expandir.

Neste momento, o sistema está já implementado em 13 municípios – Almada, Aveiro, Braga, Cascais, Cantanhede, Condeixa, Famalicão, Guimarães, Lisboa, Mafra, Moita, Oeiras e Seixal –, e conta com cerca de 200 pontos de recolha, entre ecopontos fixos e móveis e capsulões. Até ao final de 2024 iremos atingir um total de 16 municípios e em 2025 o objectivo é ter “Capsulões” em mais 20 municípios, atingindo um total de 36.

Até aqui, o que fazia quem queria reciclar as cápsulas do café que consumia?

A maioria das pessoas entregava as cápsulas nas boutiques Nespresso, nos pontos de recolha da Delta Q ou nos pontos de recolha da Dulce Gusto, que agora através deste projecto estendem a recolha a mais locais.

Quais os números actuais da reciclagem de cápsulas de café?

Embora não sejam fornecidas estimativas quantitativas específicas do impacto ambiental, a RECAPS já fez progressos significativos ao recolher 25 toneladas de cápsulas desde o seu início até Julho de 2024. Nestes próximos meses, até ao final do ano, estimamos recolher ainda cerca de mais 15 toneladas. São números muito positivos que nos orgulham.

Quais os primeiros objectivos que a RECAPS traçou?

A RECAPS pretende chegar ao máximo de municípios possíveis, tendo atingido já os 13 municípios e esperando até ao final de 2024 contar com mais três concelhos. Para além disso, temos já estabelecido como meta para 2025 atingir mais 20 concelhos, para além daqueles onde já estamos presentes.

A longo prazo, a iniciativa RECAPS espera ter um impacto substancial na sustentabilidade do sector do café em Portugal. Queremos reduzir significativamente a pegada ambiental das cápsulas de café. A iniciativa visa assegurar a circularidade de todas as cápsulas de café vendidas no País, minimizando assim os resíduos enviados para aterros e contribuindo para as metas nacionais de reciclagem. Ao criarmos, ou aumentarmos, uma cultura de reciclagem e responsabilidade ambiental entre consumidores, autarquias e empresas, a RECAPS ambiciona criar um efeito positivo que seja duradouro no ambiente e estabelecer um precedente para esforços colaborativos de sustentabilidade em outros sectores.

Como estão os consumidores a reagir a esta iniciativa?

O consumidor está a aderir muito bem. A cápsula é um resíduo que já está separado por natureza no depósito da máquina de café, por isso é fácil às pessoas aderirem. Entre 2022 e Julho de 2024 foram recolhidas 25 toneladas de cápsulas e até ao final do ano estimamos recolher ainda cerca de mais 15 toneladas.

Permita-me destacar o papel dos municípios no processo. Começámos com 1 município – Cascais – e ao dia de hoje o sistema está já implementado em 13 municípios – Almada, Aveiro, Braga, Cascais, Cantanhede, Condeixa, Famalicão, Guimarães, Lisboa, Mafra, Moita, Oeiras e Seixal -, e conta com cerca de 200 pontos de recolha, entre ecopontos fixos e móveis e capsulões.

Como está a ser comunicada junto dos consumidores?

Os consumidores podem participar activamente na reciclagem das cápsulas de café através da RECAPS ao recolherem as suas cápsulas usadas e depositando-as nos pontos de recolha, nos ecocentros fixos ou móveis ou nos designados como “Capsulões”, instalados pelas autarquias aderentes.

A comunicação neste momento tem sido feita localmente através dos próprios municípios que comunicam a iniciativa nas suas redes sociais, sites e meios de comunicação local.

E o consumidor pode localizar o ponto de recolha mais próximo através do site da RECAPS ou consultando os sites municipais. Ao realizarem este simples gesto, os consumidores desempenham um papel crucial no processo de reciclagem, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e apoiando o esforço colectivo para reduzir os resíduos.

Por outro lado, a nossa iniciativa prioriza a educação e procuramos contribuir para a mobilização dos consumidores através de campanhas de sensibilização, promovendo hábitos de consumo responsáveis e encorajando a participação activa nos esforços de reciclagem.

Qual foi o critério utilizado para a escolha dos primeiros municípios a receber os capsulões?

Os critérios que tivemos em conta inicialmente foram o índice populacional versus o interesse e disponibilidade do município. Dessa conjugação de factores surgiu, em primeiro lugar, Cascais seguida de Guimarães que se mostraram dois municípios muito dinâmicos.

Não é possível pensar-se num capsulão por cada ecoponto?

Honestamente, seria possível sim, mas dependeria da sua localização geográfica, pois haverá localidades onde isso fará sentido e noutras não.

A ideia do projecto é minimizar o impacto do projecto em termos ambientais e, portanto, apenas iremos criar estruturas que sejam de facto utilizadas. Iremos avaliando à medida que o projecto avança, quais os pontos de recolha que requerem reforços de equipamentos ou reforços de comunicação.

Texto de Maria João Lima

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